Muletas
Transcrito pelo Cmte Carlos Altmayer Gonçalves (Manotaço)
Yachting Brasileiro nº 79 (MAIO de 1951)
Fernando do Valformoso

 

Lendo o texto, percebe-se que o barco velejava de lado durante a operação de arrasto da rede, e a "quantia" das velas era para regular a posição do barco, já que o leme não operava mais.
A rede descrita no texto é o nosso "aviãozinho", usado para pesca de camarão, fixada em estacas. Muito usada no Rio Grande do Sul e Santa Catarina - aquelas que se ve em Laguna, da BR.
Manotaço.


Entre as antigas embarcações portuguesas de pesca, pela sua originalidade e pelo seu curioso e típico aspecto, destacava-se a muleta, por certo a mais notável de todas elas.

 



As muletas eram unicamente empregadas na pesca de arrasto fluvial no rio Tejo e eram quase exclusivamente usadas pelos pescadores do Barreiro e do Seixal, que as usavam desde a embocadura do Tejo  até por cima da larga baia que oTejo forma para montante de Lisboa e Almada.

A arte de pesca que usavam era a tartaranha, variedade notável das artes de arrastar e igualmente típica do Tejo, a qual era quase sempre lançada na foz do rio, no começo da enchente, e que ia arrastando ao longo da costa da Trafaria e pelo Tejo acima, passando por Cacilhas e Mar de Palha, até ter completado o lance.

 

 

 

 

 

A tartaranha, que como já dissemos, era uma rede de arrasto típica do Tejo e bastante curiosa, compunha-se, segundo Baldaque da Silva (1), de “um saco de rede com malha miúda, alargando para o lado da boca, onde formava duas bandas laterais, na extremidade das quais amarravam os cabos de alar. A boca e as bandas eram guarnecidas de tralhas, tendo a de cima bóias de cortiça e a de baixo chumbadas. O saco tinha duas costuras convergentes, ligando a face de cima à de baixo, formando uma garganta afunilada e dois cantos triangulares, denominados beliches, onde o peixe se acumulava sem poder sair na ocasião de suspender a rede”.

 

 

O modo de pesca era bastante simples. Depois de se atravessar a muleta à corrente e ao vento, geralmente na foz do Tejo e no começo da enchente da maré, largava-se a rede, a qual ia arrastando pelo fundo.

Para isso, para que a embarcação fosse descaindo ao longo da costa da Trafaria e pelo rio acima e pudesse montar, sempre atravessada à corrente e ao vento, o Pontal das Cacilhas e o Mar de Palha, até completar o lance, as muletas tinham o pano distribuído de modo a que pudesse haver uma fácil e útil compensação de forças, segundo, a intensidade e direção do vento e das correntes do rio, deitando à popa e à proa dois compridos paus – os batelós – que serviam para amurar e caçar as velas e para prenderem os alares da tartaranha.

A muleta , segundo nos descreve Baldaque da Silva e segundo o modelo existente no Museu Marítimo Almirante Ramalho Ortigão, em Faro, usava “a meio do casco um mastro muito inclinado para a vante, onde içava a verga de uma vela grande triangular latina; à ré caçava no extremo do “batelós” um triângulo, que içava na pena da vela grande, denominado “varredoura de cima”; e por baixo outro, a “varredoura de baixo”; e em estais que iam da cabeça do mastro para a roda da proa e para os “batelós” de vante, içavam umas seis a sete pequenas velas, chamadas “toldos”, “muletins”, “varredoura” e “cozinheira”, que segundo o seu número, compensavam o efeito das velas de ré, mantendo a embarcação atravessada”.

 

 

Estas curiosas embarcações, que raras vezes arrastavam fora da barra na enseada de Entre Cabos, desde há muito que deixaram de existir e já por cerca de 1.890 elas tinham quase desaparecido, pois Baldaque da Silva informa-nos que, quando fez o seu estudo sobre as pescas em Portugal, já só existia no Tejo uma única muleta em uso.

(1) A.A.Baldaque da Silva: Estudo Atual das Pescas em Portugal – Lisboa, Impressora nacional, 1.892 (há muitos anos completamente esgotado e muito difícil de encontrar nos alfarrabistas).

 

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Transcrito por Carlos Altmayer Gonçalves.
24 de setembro de 2.004

 

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