Naturismo Náutico
por Celso Rossi
(texto e fotos enviados por e-mail ao popa.com.br em jan2004)
Muitos iatistas são fruto de uma tradição familiar que os integra ao meio náutico desde tenra idade. Não é o meu caso. A primeira vez que entrei num barco à vela foi aos 19 anos, num catamarã de 40 pés que meu ex-sogro vendeu na semana seguinte. Nem uma brisa sequer deu o ar da graça, para enfunar aquelas enormes velas que, por alguma razão indecifrável, exerciam um fascínio poderoso e inesperado sobre aquele marinheiro de primeira viagem. A partir daquele dia, percebi que os meus sonhos e a minha vida haviam ganhado um rumo, norteado pelo espírito de liberdade que a navegação à vela inspirava. Apenas um barco, com mastro, velas e vento e o mundo inteiro estaria acessível a uma casa flutuante: decidi que um dia viveria a bordo. Poucos anos depois, adquiri meus primeiros barcos mas os ventos de terra acabaram me levando a conhecer a Praia do Pinho, em Santa Catarina, e em janeiro de 1986 fundei a Associação Amigos da Praia do Pinho, marcando o início do naturismo organizado no País. Liderei, durante quinze anos, a implantação de praias e clubes de nudismo no Brasil e, residindo nessas áreas, geralmente à beira mar, podendo desfrutar da liberdade do corpo nu e do contato diário com os elementos naturais, tive meu chamamento náutico amortecido pelo estilo de vida tão satisfatório que levava. Nada disso me afastou do rumo, entretanto, e acabei encontrando uma companheira com o mesmo sonho de morar a bordo, com a qual constituí uma família maravilhosa. Estamos agora muito próximos de zarpar, treinando, já há dois anos, num veleiro 29 pés e construindo um Multichine 41 de aço. Durante os vinte e poucos anos que se passaram, desde a minha primeira velejada sem vento, até hoje, adquiri todos os livros pertinentes ao assunto, que pude encontrar: são mais de 50 na prateleira. Na sua grande maioria, de travessias, famílias que vivem a bordo e navegadores solitários. Chamou-me à atenção o fato de que quase todos os autores relatam que ficam nus a bordo de seus veleiros ou deparam com tripulações naturistas pelo caminho. Se você chegasse numa ilha deserta, onde não houvesse ninguém além de você mesmo, a areia limpa a água transparente e o calor do sol sobre o seu corpo,... ainda assim você usaria roupas de banho? Se a sua resposta for sim, respeito sua posição, mas no chuveiro da sua casa, certamente, você fica nu, não é mesmo? Ou seja: você apenas usa roupas para que os outros não o vejam nu. E se os outros também estiverem nus, cada um na sua, adultos, velhos e crianças, sem nenhuma maldade, apenas inocência e liberdade? Muitas vezes acontece de estar um barco ancorado em uma praia, com todos seus tripulantes curtindo a liberdade e o conforto de estar sem roupa, a bordo, nadando ou na areia, quando chega outro barco, cujos tripulantes também estavam nus e, ao aproximarem-se, todos vestem roupas e acaba aquela gostosa integração com a natureza e a liberdade. Parece até cômico, mas é fato corriqueiro. É preciso que seja desenvolvida uma campanha em favor da aceitação da nudez nas áreas desertas, não atingidas por rodovias, e criado um sistema de comunicação para a identificação à distância de embarcações de naturistas e simpatizantes. Se você é naturista, ou não se importa que outras pessoas ao seu redor fiquem nuas durante seus momentos de lazer, em praias desertas ou fora dos portos, fixe uma fita branca, com 50cm de comprimento e 10cm de largura, logo abaixo da bandeira do Brasil ou no estai de popa, a 2m acima do cockpit. São os seguintes os procedimentos éticos do naturista: · Agir de maneira respeitosa e amigável; · Deixar apenas suas pegadas e a esteira de seu barco para trás: nunca o seu lixo; · Respeitar a privacidade de outros naturistas e não constrangê-los com olhares, gestos ou ações; · Não fotografar ou filmar pessoas nuas sem permissão das mesmas; · Abster-se de qualquer comportamento com conotação sexual nas áreas públicas ou à vista de outras pessoas; · Usar toalha ou canga sempre que for sentar em assentos de uso comum e não impor sua nudez ante o desconforto de outras pessoas não adeptas. |