Quando o deus das águas e a rainha não se entendem
Planos frustados no Ano Novo
Daniela P Bernauer
Depois de um típico fim de ano de lojista, trabalhando freneticamente até à noite de Natal de 2004, decidimos passar um ano novo bem calmo, familiar e tranqüilo. Afinal, toda a família precisava de um bom e sereno descanso por este ano não ter sido um ano fácil. Os planos
Dia 27 de dezembro de 2004 Nosso querido Canibal estava nos aguardando ansioso. Seus 36 pés clamavam por nós e nossa bagagem para outra aventura... Dia 28 de dezembro Logo de manhã, com vento sudoeste suave, desatracamos do trapiche e fomos Guaíba adentro, rumando ao sul, para a ilha de Chico Manuel, um lugar encantador para uma noite de descanso e para planejar nossa saída para a Lagoa dos Patos, no dia seguinte. Como de costume, fizemos nossa paradinha na Ponta Grossa, para abrir o restaurante de bordo!. A brisa da manhã nos empurrava doce e preguiçosamente para nosso primeiro destino. Ao Passar no canal de entrada da ilha e após raspar levemente a quilha no fundo, atracamos no trapiche. Não havia ninguém por lá, só nós. O Canibal “reinava” majestosamente no trapiche. Poucos saíram com seus barcos, porque, era uma data muito especial e todos iriam passar o ano novo com familiares e amigos. Dia 29 de dezembro Bem cedinho, banho tomado, café da manhã em grande estilo, com frutas, frios, cereais... Tudo planejado para não ter que ancorar mais até o destino plotado na carta. Camarotes limpos e arrumados, tudo fixado e alojado para poder adernar à vontade, sem esparramar nada pelo piso. Havia uma seca muito grande e o Rio Guaíba estava mais baixo que o normal. Durante a noite o vento mudou para nordeste e rio baixou mais uns 20cm. É uma característica daqui. As nossas “marés” são de acordo com os ventos. O vento norte empurra a água pela lagoa abaixo até o mar fazendo o nível baixar ao passo que e o vento sul segura a água mais tempo dentro do sistema e o nível sobe. Comprovamos isso na prática: ficamos presos na paradisíaca ilha de Chico Manuel, e sem a liberdade que o indivíduo tem por direito de “ir e vir”. Começamos a lembrar de tudo o que aprendemos nos cursos e livros lidos, de ”como desencalhar”, “desencalhar em 3 passos simples”, “técnicas para desencalhar”, etc. Aprendemos que estas técnicas são eficientes quando se tem uma tripulação numerosa, mas com quatro pessoas só, não sai do lugar nem com Iemanjá ajudando. Nem ela empurra 7 toneladas pelo fundo de lodo... Chegamos a nos pendurar na retranca para ver se conseguíamos adernar o veleiro o suficiente para levantar a quilha do lodo, mas nada conseguimos. Depois de muitas tentativas, conseguimos sair de “ré” e voltar ao trapiche. Mas NÃO desistimos..., tentamos vários rumos diferentes para sair da marina, e nada.... Na popa a água marrom de lodo mexido mostrava claramente a situação. O calor e os fortes raios solares de verão estavam nos derretendo e acelerando a “adrenalina negativa”. Pensamos bastante sobre a situação para ver se surgia alguma alternativa ou nova idéia para ser tentada, mas nada aconteceu. Assim sendo, decidimos esperar mais um dia. Dia 30 de dezembro
Dia 31 de dezembro O vento soprou de sul a noite toda e a água parecia que tinha subido um pouco. Parecia que o deus das águas ia dar uma mão, mas era tão pouco representativo que não dava para afirmar. O Dr. Horta já tinha saído no dia anterior. Antes de tentar qualquer outra manobra, decidimos ligar para o clube e ver se alguém podia nos ajudar. Foi recomendado que não tentássemos sair sozinhos para não piorar a situação. Aguardamos o barco do clube, cheios de esperança. Começamos a sentir o efeito da “adrenalina positiva”! Até o ar que respirávamos parecia mais leve. Liberdade.... Finalmente!!!... Mas... Será que conseguiremos?... Liberdade! Que sensação maravilhosa... sentir novamente a brisa calma em nossos rostos... Mas, nossos dias de férias já não permitiam ir muito longe. Decidimos rumar para o Araçá, logo ali perto, com sua praia de areia branquinha. Afinal, esse era o dia de fim de ano! Todos estávamos cansados e com muito calor, o mau humor reinava, invadindo os últimos espaços “ZEN” das nossas mentes... Velejar é aventura
Andreas “pai” e eu sentamos na popa com um copo de refrigerante, contando os minutos, que não passavam nunca.... Nossa missão? Chegar à “meia noite” sem brigas, alegres e animados... Já anoitecendo e com todos “ZEN-paciência”, arrancamos as duas âncoras e partimos rumo a Porto Alegre novamente. Ainda dava tempo! Demais é dizer que todos nós ficamos aliviados e animadíssimos!. Voltar para casa parecia estar mais perto do paraíso, um oásis.... Que absurdo, não é? Já era quase noite de Ano Novo quando decidimos ir até um local privilegiado no rio para ver o show de fogos de artifício, no Gasômetro. Aprendizado? “Tirar o maior proveito do momento”. Tudo bem.... Velejar sempre é e será uma aventura! E sempre nos dará boas histórias para rechear as nossas vidas de experiências. Netuno continua no comando, apesar dos encantos da rainha.
Tripulação: Cap Andreas Bernauer, Andreas Jr, Daniela, Ana Carolina |
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