O Guaíba que vivi
Nelson Ilha


Cresci às margens do Rio Guaíba, em Ipanema, que na época era praia de veraneio e vivíamos dentro d’água, velejávamos, tomávamos banho, esquiávamos, remávamos, nadávamos, sem nenhum complexo de culpa ou sinal de doença.
O Guaíba chegou a ser estuário, foi promovido a lago, depois de muitos estudos, para mim, nunca fez nenhuma diferença que definição era a certa.
O que fazia diferença era ver a Borregard se instalando na outra margem, ver a quantidade de esgotos serem despejados em natura na minha “piscina”.
E receber uma quantidade cada vez maior de produtos químicos usados pelos curtumes nos rios que se ligam ao Guaíba.
Desta forma fui testemunha da quase morte do nosso manancial, fonte de nossa alegria.
Os peixes que ficaram eram só os mandinhos, fortes e que não servem para nada.
As aves desapareceram, até os biguás foram passar um tempo na Lagoa dos Patos.
Nunca deixei de velejar, mas já não ia a praia tomar banho.
De repente começou a tal de consciência ecológica, os “ecochatos” como foram batizados na época da ditadura, pelos que se negavam a investir em filtros, tratamento de esgotos ou de resíduos industriais.
A briga foi ganha na insistência.
Foram aprovadas leis que obrigavam as industrias a captar água abaixo de onde retiravam, a largar a água melhor do que coletavam.
O Rio reagiu rapidamente, voltaram, os peixes, as aves, nem sabia que existiam garças nestas paragens. Voltou a vida.
Falta muito ainda para chegarmos a usar nosso agora Lago sem culpas ou medo de doenças, mas posso dizer que avançamos bastante.
O Guaíba é parte da identidade de Porto Alegre, se alguns estão de costas para o Lago, mesmo assim ele é importante, vamos valorizar esta jóia que aí está.
O Guaíba vive, viva o Guaíba!!!!

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