Oi !
A cortesia do comandante

Danilo Chagas Ribeiro

16 Mai 2003
Certas coisas que a gente aprende, mesmo sem utilizar, não esquece. Há bastante tempo aprendi o código morse. Talvez os mais jovens nem saibam o que seja isso. É aquela linguagem de rádio-telegrafista.
Telegrafista?... Acho que piorou! É aquilo de mandar mensagens com pontos e barras, ou sinais curtos e longos. É a linguagem com que se manda um SOS, o pedido internacional de socorro.

Se for pra pedir socorro pelo rádio, falamos mayday, mayday (como meidei, meidei...). E se tivermos só uma lanterna, como é que pedimos socorro? É preciso enviar um SOS. Pisca-se a lanterna com 3 lampejos curtos, deixa-se um intervalo, mais 3 longos, mais um intervalo, e mais 3 curtos. Espera-se um tempo maior, e vai-se repetindo a série.
Mas por que piscar assim?

No código morse, a letra S é representada por 3 pontos, e a letra O por 3 barras (ou silvos longos de apito, ou piscadas longas de luz). Tentando reproduzir um SOS, graficamente, seria algo assim:
... _ _ _ ...

Pois há algumas semanas tive uma grata surpresa ao reconhecer uma (curta) mensagem em código morse.
O Navio veleiro Cisne Branco aproximava-se do Farol de Itapuã, em direção à Lagoa dos Patos. Havia um veleiro na nossa proa, ainda longe, navegando em sentido contrário, nas nossas 11horas*.

Ali na saída para a lagoa o canal tem curvas acentuadas. O comandante do navio, Capitão-de-Mar-e-Guerra Bernardo Gambôa (de azul na foto ao lado), vinha bem compenetrado em seu posto, de pé entre o prático e o timoneiro. Volta e meia ordenava uma guinada:
"Quinze graus a bombordo!".
"Quinze graus a bombordo.", confirmava o timoneiro.

O veleiro guinou a boreste com bastante antecedência, deixando o canal livre para o navio. Mesmo assim o comandante mandou soar o apito quando o "Tubarão" estava quase cruzando por nós. Eu já tinha ouvido o Cisne Branco apitar para alertar pescadores imprudentes no Canal da Feitoria em outra oportunidade, mas desta vez foi diferente: aquele O'Day23 não obstruía a passagem do navio e não oferecia risco algum! Por que estaria o Cisne temendo oTubarão?

O navio apitou 3 longos e 2 curtos, nitidamente. Clique para ouvir o apito.
Para a prova de Arrais Amador, aprendi o significado de alguns apitos, mas já não lembrava mais de nenhum... Tinha até um apito que o pessoal brincava no curso, que não se devia nunca aprender: "Vou dar à ré".

Será que o apito teria sido algo em código morse?...
3 longos e 2 curtos...
3 longos é O. Dois curtos é I.
O + I...
O + I?...
OI?
OI!!!!!
Claro!!!... Deu um Oi ! pra tripulação do "Tubarão".

Manda a regra que um navio hierarquicamente inferior tome a iniciativa do cumprimento. Não foi o caso. O cmte. Gambôa, que também tem seu veleiro de recreio, assumiu que um barco como aquele não teria apito, e mandou ver.

Talvez o significado exato não tenha sido compreendido, mas a julgar pela atitude, o Tubarão entendeu muito bem o recado do Cisne. Foi um gesto amistoso, simpático e elegante, típico da Marinha de Guerra do Brasil.


Clique na foto
para vê-la maior

 


Uma buzina à gás custa uns 30 reais.
Siga o exemplo do Cmte. Gambôa, e mande um _ _ _ . .

 

 



(*)
É comum a gente apontar algo a uma pessoa no barco e ela ficar perguntando: Onde?... Não estou vendo nada... Mais ou menos aonde?... Talvez ela não enxergue bem mesmo, mas será que ela sabe para onde estamos apontando?
Pode-se informar a direçõ de algo que queremos mostrar, imaginando-se um relógio de ponteiros com o meio-dia voltado para a proa. Assim, quando dizemos: "Cuidado com a bóia de rede às 11 horas!", significa que a bóia está à vante, um pouco a bombordo. Quando "damos as horas", este "pouco" pode ser dimensionado por quem ouve.

 

Código Morse