Apreciação Etimológica da Palavra Originária “Guaíba”
(Origens prováveis da palavra Guaíba)

 

GUAÍBA, s. m. Geografia. Nome do estuário que banha a hoje metrópole do Estado do Rio Grande do Sul, cujos principais afluentes são o Jacuí (rio dos jacus; rio dos comedores de grãos); o Sinos (rio com curvas; em tupi guarani, tamanduateí); o Gravataí, (rios dos gravatás) Caí (rio da mata, dos bosques); e, entre os pequenos, o antigo Jacareí (rio dos Jacarés).

À frente da capital gaúcha, e de sua vizinha cidade de nome igual ao do caudal, Guaíba, é que o vasto curso d’água toma essa denominação, pois em sua origem é um prolongamento do Jacuí.

O etnológico baiano Bernardino José de Souza, em seu “DICIONÁRIO DA TERRA E DA GENTE DO BRASIL”(5ª. ED., Cia. Editora Nacional, S. Paulo, 1961), quanto ao significado e etimologia do vocábulo, escreve: “nome que, em alguns Estados do Sul, dão aos pântanos profundos”.

Teodoro Sampaio atribui-lhe, em análise semântica, origem tupi, gua-y-be, com o sentido de  - na enseada (ou baía).

Outros autores dicotomizam o termo em guá, vale; e ahiba, mau, ruim; vale ruim.

Aurélio Buarque de Holanda Ferreira, reconhecendo-lhe procedência tupi, compõe gwa, seio; i, água; e ba em lugar de be, em, ou maior, de que resultaria a imagem poética “no seio da água”.

Na verdade, no caso do substantivo sul-rio-grandense, não é pacífico o entendimento dos doutos.

Ainda dos tempos dos cronistas espanhóis  (jesuítas), ora consta igai, ora ingahy. No primeiro caso, pelo conhecido fenômeno filológico da apocopação, usual aos guaranis (tupis do sul), teríamos provavelmente, iga, de igara, canoa; ei, ou i, água, rio; ba, em maior, dentro de; o que equivaleria a: no Rio das Canoas.

No segundo, seria Rio dos Ingás (ingazeiros).

Há, ainda, outras hipóteses, como a da derivação de cuá, fonte, nascedouro, manancial; i, água, rio; ba, em, maior do que; tudo a configurar Rio maior do que a fonte.

O dicionarista paraguaio A. O.  Mayans traz cua, cintura; i, rio; ba, maior do que; ou seja, cintura maior do rio, o que eqüivale a estuário.

O mesmo autor, noutra acepção, assim decompões o vocábulo: guai, vespa; e iba, fruta, ou frutal, a identificar pomar povoado de vespas, (ou abelhas).

No mesmo autor guarani, há outra possibilidade de dicotomizar a palavra em questão, com o afixo ava (ou abá), homem; i água, rio; e o sufixo ibá, mau, ruim; a compor a locução substantiva Rio dos Índios Maus (ou ruins).

Por último, demos a palavra ao poeta  e etnologista Antônio Gonçalves Dias, em cuja versão ter-se-ia mbai, coisa; i, rio; e ahyba, mau, ruim, amargo, perfazendo a locução Rio da Coisa Más ( ou Ruins), Expressão que nenhum porto-alegrense, por certo, endossará...

Dentre as acima aventadas, preferimos, por mais plausíveis as acepções de NA ENSEADA, de Teodoro Sampaio; a de Aurélio Buarque de Holanda, NO SEIO DA ÁGUA (ou RIO); ou, ainda, CINTURA MAIOR DO RIO (ou ESTUÁRIO), do lexicógrafo  guarani A. O. Mayans.

Pessoalmente, sugerimos duas outras plausibilidades: 1) GUA, YGUÁ (enseada, vale, recôncavo, baixada); - i, rio; ybá (fruto), vale dizer RIO DO VALE DAS FRUTAS; e 2) YGUÁ, GUÁ (enseada, vale, bahia), e YBÁ (ruim, difícil, sem peixe, não navegável), a abonar as hipóteses ENSEADA NÃO NAVEGÁVEL, ou de DIFÍCEL NAVEGAÇÃO.

Daí teria surgido guaibeguara, habitante do Guaíba, por aférese do sufixo, enguares.

 

Texto Extraído da Revista RIO GRANDE CULTURA – PORTO ALEGRE- RS – MARÇO/ABRIL/97 – ANO IX – Nº 23 - FUNDAÇÃO EDUCACIONAL E CULTURAL Pe. LANDELL DE MOURA (Guaibeguara, os Primitivos Habitantes de Porto Alegre). Autor Hugo Ramírez – Advogado Geógrafo, Pós-Graduado em História do RS (UFGRS). Secretário Geral, da Comissão Estadual do Índio (Biênio da Colonização e Imigração no Rio Grande do Sul)

Texto mandado transcrever para o popa.com.br por gentileza de Celso Chagas Ribeiro