Quack! No fim da tarde estou no barco atracado no trapiche. Reúno meus badulaques em uma sacola de supermercado, pra não esquecer nada: carteira, celular, óculos de véio, essas coisas. Penduro a sacola no mordedor. Passa um marinheiro
gentil: Doutor, quer que eu recolha a mangueira d'água pro senhor?
Quero, sim. Muito obrigado. A sacola boiava, não
sei o porquê. Pelo peso devia ter afundado na hora! Fui descendo por debaixo
do guarda-mancebo, me arranhando no trilho do ponto, caindo devagar
pra não assustar a sacola. Tento me erguer pela borda. É minha primeira vez. Tenho vontade de rir da ilusão, mas falta humor. Confesso que até me passou pela cabeça fazer alguma alusão à progenitora do rapaz, mas era Dia das Mães... Dou umas bufadas de nervoso misturado com brabo, e enquanto vou me movimentando com as mãos lá em cima na borda, sinto os braços, de tão estirados. Vou chegando à escada na popa, meu destino. Está amarrada. Lá em cima! O motor está lá em cima também, com a rabeta fora d'água. Mas o marinheiro, todo sem jeito, já está ali no cockpit: O senhor quer que
eu baixe a escada? Decidi uma coisa hoje:
a escada será amarrada no púlpito, com uma série
de nós-de-correr, tipo croché, daqueles que a gente vai
puxando a ponta e vão se desfazendo. E vou deixar a ponta bem
comprida. Pro lado de fora! |