GUAÍBA,
RIO NÃO LAGO
Cmte Geraldo
Knippling
As características que formam os acidentes geográficos são tão numerosas e variadas que dificilmente podem ser elaboradas regras rígidas para uma determinada denominação. No que tange ao Rio Guaíba especificamente, os defensores da denominação Lago, apegam-se a detalhes e conclusões subjetivas e opiniões próprias, desconsiderando fatores básicos. Básico é o que é universalmente aceito e o que consta nos compêndios de geografia e dicionários quer regem o significado das palavras. Não podemos modificar estes conceitos sob o pretexto de enquadrar um detalhe subjetivo e tentar modificar todo o significado. É sabido que: Rio é um curso de água que se desloca de um nível mais elevado para um nível mais baixo, aumentando progressivamente de volume, até desaguar no mar, num lago ou noutro rio (“Aurélio”). O Guaíba é tudo isto, e pouco importa se está preenchendo uma falha do maciço granítico, de formação tectônica ou não. O que então é um lago? Mais uma vez, de acordo com conceitos vigentes: Lago é uma extensão de água cercada de terras. O Guaíba não é nada disso, a não ser que se construa uma represa em Itapuã. Há quem diga e considera esta definição incompleta. Na realidade ela não é incompleta, ela é abrangente, pois fora dela encontraríamos um infinito número de detalhes, situações e modelos muitas vezes contraditórios entre si, que justamente empolgam os mais estudiosos, criando as mais variadas argumentações dentro de um plano meramente subjetivo.
Existem várias teorias e argumentos apresentados por professores e pesquisadores ao longo dos anos, muitas vezes com uma bem qualificada desenvoltura sintática, para concluir o que contraria a lógica. É o mesmo como afamados advogados conseguem “provar” perante um júri que um réu comprovadamente culpado é inocente. Não podemos no entanto, partir do princípio de que tudo que está escrito é fato consumado, mesmo reconhecendo o mérito e a idoneidade dos autores. É oportuno, necessário e democraticamente saudável poder divergir das conclusões, tratando-se de um assunto polêmico e em grande parte subjetivo.
Chama a atenção que muitos dos argumentos apresentados valem-se de comparações com modelos supostamente idênticos, na Europa, África ou mesmo no Amazonas, como se lá não pudessem ocorrer equívocos. Ou então, baseiam-se em declarações de ilustres personagens que percorreram a região em séculos passados, como Saint Hilaire, quando não havia condições técnicas para uma pesquisa mais apurada.
Principais equívocos:
Existe controvérsia sobre a evolução em épocas geológicas, bem como a aparente indefinição sobre estar preenchendo falha no maciço granítico do qual Porto Alegre faz parte, ou então, ser formado pela barragem natural da península da Faxina. Esta última não existe na forma de barragem. É uma área de menor profundidade, como quase todo o leito do rio, sobre a qual fluem as águas. Como nesse ponto, antes de atingir a foz, o rio faz uma curva acentuada para a direita, devido à força centrífuga a correnteza se concentra mais na margem esquerda, onde é mais acelerada, provocando erosão e maior profundidade, exatamente o padrão de curva que encontramos na maioria dos rios. Mesmo não havendo consenso por parte dos geólogos sobre a origem, isto pode ser considerado irrelevante, pois não interessa o que o rio foi ou deixou de ser; o fato é que hoje, ele flui sobre tudo isso dentro dos padrões de rio, como já mencionado no início.
No mesmo documento diz o seguinte: Movimentos lacustres do Guaìba: além das mudanças de nível conforme a intensidade do vento sul. Os ventos também são responsáveis pelo movimento das vagas. Primeiramente o fator preponderante para a mudança de nível do Guaíba é o índice pluviométrico, ou seja, a quantidade de chuva que cai sobre as cabeceiras e leitos dos seus afluentes. A influência do vento sul, que represa as águas até certo ponto, é complementar e de pouca duração; ele não impede o seu escoamento, apenas o retarda. Por outro lado, vagas, geralmente encontramos nos oceanos. No Guaíba não há espaço nem profundidade para a formação de vagas. Há ondas de pequeno e médio porte, que podem aumentar com a ação do vento. Cessando o vento, também cessam as ondas. Sobre as vagas, que são mais constantes, pode haver ondas em sentidos diversos impulsionadas por uma mudança de vento. Não no Guaíba.
No referido documento diz ainda: Apenas a correnteza que existe no canal não o caracteriza como rio, pois isso se deve à competência do emissário que escoa suas águas.
A correnteza, fora de dúvida, é característica de rio. Em qualquer rio largo a correnteza se concentra no meio do curso e nos canais. Nas margens também há correnteza, que pode ser irregular ou mesmo transversa dependendo da configuração. Exatamente como acontece em outros rios, inclusive no Amazonas.
Outro ponto controverso é que, para chamar o rio de lago, acharam por bem denominar a foz do Guaíba de emissário, para satisfazer as características lacustres. O Guaíba não tem emissário, é foz mesmo. Foz, ponto onde um rio (ou outro curso fluvial) termina, desaguando no mar, num lago ou em outro rio (“Aurélio”). Ainda, segundo o bem elaborado trabalho do Professor Carlos Alfredo Azevedo Oliveira: aos rios que lhe são tributários dá-se o nome de afluentes e aos que escoam o excedente de suas águas, o de emissários.
Não existem águas excedentes no Guaíba. Isto somente poderia ser correto no caso de as águas ficarem represadas em Itapuã, até um determinado nível, a partir do qual passaria a escoar o excedente para a Lagoa dos Patos. Em Itapuã não há represa natural nem artificial, a vazão das águas é livre e constante e a foz é suficientemente larga e profunda para permitir o seu escoamento que não é afetado significativamente pela área de menor profundidade da Ponta Escura e por alguns bancos de areia, no sentido longitudinal, ao lado do Canal do Campista.
Com referência ao argumento sobre uma eventual “barragem” na Ponta Escura, vejamos o seguinte: na foz do Guaíba, entre Itapuã e os bancos de areia da Ponta Escura (Coroa da Ilhota) há uma largura de 1,4 MN. Bem mais para o noroeste vamos encontrar uma situação análoga: entre o banco de areia da Ponta do Salgado (Coroa do Mato Alto) e a ilha Francisco Manoel há uma largura de 1,5 MN. Portanto, se fossemos seguir a mesma linha de pensamento, também aí haveria uma “barragem” e isto significaria que teríamos dois lagos: O Lago Guaíba do Norte e o Lago Guaíba do Sul! Um verdadeiro absurdo.
No mesmo trabalho mencionado mais acima, o Professor Oliveira afirma: Há quem se surpreenda por ser um lago apenas a parte mais alargada do rio, onde a corrente é menos rápida. Neste caso, as águas lacustres não são mais do que as mesmas águas fluviais em situação de trânsito. Nos surpreenderíamos se de fato assim fosse. Seria ilógico que qualquer alargamento de rio fosse denominado lago. Todos os rios têm, em maior ou menor número, alargamentos. Teríamos então milhares de “lagos” por esse Brasil afora, por conta de alargamentos nos rios. É mais uma vez uma afirmação subjetiva, já que não existe qualquer regra definindo exatamente quantos metros o rio deve alargar para ser denominado lago. Além disso, é incontestável o fato de que “águas em trânsito” dentro do mesmo leito, configuram um rio.
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