Rodando 360º: a caminho da America's Cup
Caçando pano em navegada solo
Nelson Ferreira Fontoura

14 Ago 2007
Todos devem ter acompanhado o final emocionante da última America's Cup, com o fantástico giro de 360o do barco neozelandês. Pois num domingo destes eu me senti o próprio skipper neozelandês na final da America's Cup. Apenas duas foram as diferenças... As velocidades eram muito menores, e o 360o foi barbeiragem mesmo.


Imagem de arquivo do Tiza

Pois bem, como era dia dos pais, me dei de presente uma saída solo com o Tiza, embretada entre o almoço com o sogro e a janta com o meu pai. Eram três e meia da tarde quando consegui sair do Jangadeiros e colocar os panos para cima.

O projeto era treinar a orçar com a vela nova, pois agora o Tiza já tem uma mestra by Nelson Piccolo. O vento vinha de sudeste, imagino que entre 8 e 12 nós. Assim, me toquei em direção à Ponta Grossa. A grande dúvida consistia em abrir o ângulo de orça para as Baleias, e navegar um pouco mais rápido, ou tentar ao máximo o contravento, navegando para o Tranqüilo, mas com velocidades menores.

Na tentativa de fechar o ângulo de orça, decidi caçar um pouco a escota da staysail, a minha única vela de proa. Só que a manicaca, também a única do barco, estava lá no pé do mastro, na catraca da adriça da mestra. Aí a dúvida... Vou lá na frente ou deixo assim mesmo? Até então tinha caçado a escota da staysail na mão mesmo, pois a vela é pequena não dá tanta pressão no cabo. Só que para orçar um pouco mais eu precisaria de mais tensão.

A indecisão em buscar a manicaca é porque o Tiza também não tem piloto automático, de forma que ir ao pé do mastro significa deixar o leme solto (ou amarrado). Mas aí eu imaginei... Não tem problema: o barco tende naturalmente à orça e no máximo vai de cara no vento e panejar um pouquinho.

Não foi exatamente assim. Na verdade, não foi apenas assim. Como previsto, na medida em que larguei a cana do leme e corri para frente, o barco foi orçando e começou a panejar, mas, antes que eu pudesse assumir o controle, deu uma arribada e se atravessou no vento. Nesta altura, de volta ao leme, o mais fácil foi continuar o giro, dando um jibe e completando os 360º. Parecia até treinamento de penalização em regata, não tivesse sido completamente involuntário. Acho que o maior erro foi não ter soltado a escota da staysail, pois com o seguimento do barco, esta se inflou com o punho a barlavento, formando uma bolsa, o que forçou o giro. Mas pelo menos já aprendi a dar um 360º bem rapidinho, a America's Cup que me aguarde.

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