Obra inédita de engenharia devolve navegabilidade
SPH sepulta vão submerso no rio Jacuí há quase meio século
Engº Hermes Vargas dos Santos*

Durante a construção da Ponte do Rio Jacuí, em 1958, caiu o vão central, uma plataforma de concreto armado pesando cerca de 400 toneladas, medindo 50 x 12 x 3 metros e, desde então, tornou-se um grande obstáculo à navegação pelo braço Oeste do Jacuí, pois inviabilizou a passagem pelo principal vão da referida ponte.

Na atual administração, passados mais de quarenta anos, a SPH resolveu encarar esse desafio: desobstruir o vão central ! Excluídas as alternativas "retirada" (tração mecânica) ou "fragmentação e retirada" (explosivos), por motivos técnicos,econômicos e de segurança, a Diretoria de Hidrovias optou por "sepultar" a plataforma a uma profundidade maior que 6 (seis) metros, o que equivale ao calado de 17 pés (5,18 m + 0,82 m de folga sob a quilha).

O trabalho foi muito árduo, conjugando esforços de duas divisões da Diretoria de Hidrovias: a Divisão de Estudos e Projetos (DEP), encarregada de efetuar as sondagens batimétricas de monitoramento, controle de posicionamento e análise (antes, durante e depois das operações de dragagem, e a Divisão de Operação e Fiscalização (DOF), responsável pela execução dos serviços de dragagem.


Engº Orlando Machado Sanches ,
Chefe da Divisão de Operação e Fiscalização da SPH

Nas batimetrias foram usados os seguintes equipamentos: ecobatímetro digital, receptor DGPS (GPS Diferencial, RTK,Banda Larga) e computador de bordo. Os dados foram coletados e processados através do software hidrográfico Hypack e, posteriormente, utilizados na elaboração de modelos numéricos de terreno (MDT, figuras 3D) por meio de softwares complementares. Além dos levantamentos automatizados, a DEP também realizou sondagens tradicionais para o acompanhamento diário dos serviços, mantendo a bordo profissionais de topografia.

A execução da dragagem ficou por conta de duas dragas: a Draga Triches, de sucção e recalque, e a Draga Santo Amaro (caçamba). A primeira escavando, preliminarmente, duas cavas a montante e a jusante da plataforma submersa; posteriormente, lançando um forte jato d'água abaixo da estrutura para, solapando sua base de sustentação, provocar sua descida para cotas adequadas e seguras à navegação.

Essa técnica mostrou-se eficiente, pois a plataforma cedeu e, atualmente, encontra-se quase que totalmente abaixo da cota planejada (6 metros). A Draga Santo Amaro, durante toda a operação, foi utilizada para recolher fragmentos da antiga construção (estacas de escoramento, restos da própria plataforma, etc.).

Essa operação, inédita no Rio Grande do Sul, foi concluída ontem, 25-10-04. O tráfego sob o vão central da ponte sobre o Rio Jacuí será liberado nos próximos dias.

As figuras mais abaixo mostram a evolução dos trabalhos, e as fotos permitem visualizar os equipamentos em operação.

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(*) Hermes Vargas dos Santos é o Engº Chefe da Divisão de Estudos e Projetos da SPH. Com muita experiência em obras fluviais, é especialista em DGPS, e em levantamentos e processamento de dados voltados a hidrovias.

Ao cair, o vão partiu-se em 3 partes. No desenho abaixo, observe a vista superior, com os pilares nas extremidades, e o corte. Onde a profundidade era inferior a 2m, agora são 6m.

A plataforma caiu n'água em um domingo de 1958, durante a retirada do madeirame que calçava as formas de concreto (escoras). Desde então o Ministério dos Transportes vinha protelando a remoção da enorme peça de concreto pela falta de um projeto de engenharia adequado.

Nos Verões mais secos a plataforma submersa aflorarava. A navegação passou a ocorrer por outro vão da ponte, mais baixo que o central. No vão até então em uso, a altura é de 18m. O vão central tem altura de 21m.
Embarcações de transporte com produtos do Pólo Petroquímico precisavam passar sob outra ponte, de vão móvel, com aumento de 20km de percurso (1 hora a mais).
Veleiros com mais de 40' (mastreação mais alta) ficaram impossibilitados de passar sob a ponte também.

O Plano de Dragagem da obra, elaborado pelo Diretor de Hidrovias da SPH, Engº José Carlos Martins, foi alcançado graças à complicada operação relatada pelo engº Hermes da DEP.

Informou o engº Martins, que uma tubulação com 22" de diâmetro teve a extremidade reduzida para apenas 14", resultando em um ganho enorme de pressão. O jato resultante retirou o material debaixo da plataforma submersa. Para sustentar a ponta da tubulação na posição correta foi necessário a participação de uma segunda draga, tamanha a pressão da água.

Parabéns à diretoria da SPH e a seus engenheiros, tripulantes do Comandante Daniel Lena Souto, pela elaboração da obra e, principalmente, pela engenharia criativa empregada. A comunidade náutica gaúcha agradece.
Danilo Chagas Ribeiro

"Há homens que olham as coisas como elas são e perguntam: por quê?
Mas eu sonho com coisas que nunca vi e digo: por que não?" (Bernard Shaw)

 

 

 

 

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