Como surgiu a vela em Porto Alegre
E o que entrava o seu maior desenvolvimento

Leopoldo Geyer
Revista Yachting Brasileiro nº10 -
Agosto 1945
A ortografia original foi mantida

05 Ago 2004
A vela em Porto Alegre tem apenas 13 anos de existência.

Sendo o Guaíba um dos estuários mais lindos do Brasil, banhado pelos rios Jacuí, Caí, rio dos Sinos e Gravataí, com uma extensão de cerca de 30 milhas até alcançar a entrada da Lagoa dos Patos, não se compreendia a razão porque o iatismo não surgira ali há mais tempo.

Em Porto Alegre, sempre houve em diversas épocas, quem aparecesse com algum veleiro e assim como surgia desaparecia das águas do Guaíba.


 O signatário deste artigo também teve o seu primeiro barco a vela pelo ano de 1910 ou 1911. Naquela época, não existiam clubes de vela – nem tampouco abrigos garantidos para a ancoragem. Foi por volta de 1932 que começou um surto de entusiasmo, tendo à frente Ewaldo Ritter, Bruno Weimann, Cônsul inglês sr. Carwell e outros que mandaram construir dois barcos no estaleiro de Roberto Funck, na Ilha Grande.

Por iniciativa de Ewaldo Ritter e para que houvesse um ponto certo para tratar da construção dos primeiros barcos, visto que para ir ao estaleiro distante, na Ilha Grande, seria um tanto difícil, marcaram-se os encontros em todas as quartas-feiras num bar próximo ao porto.

Aí então reuniram-se os interessados na construção dos primeiros barcos, que marcariam o início da vela em Porto Alegre.

Mais tarde, quando os barcos já sulcavam as águas do Guaíba, fixaram no “Liliput” o ponto de reunião dos novos veleiros e dos adeptos da vela. Continuava dia fixo, todas as quartas-feiras, e para lá era atraído todo aquele que fosse visto navegando em algum barco a vela, ou que de alguma forma mostrasse simpatia pelo novo esporte.

Um belo domingo, com magnífica brisa, velejava no meu segundo barco a vela, o “Bavária”, da classe 22 m, quando vi que o barco irmão, “Ariela”, procurava nos alcançar. De regata nada entendia e era meu instrutor Jacó Zeller, a quem havia adquirido o “Bavária”; Zeller supoz ser intenção do construtor Funck fazer a experiência para ver qual corria melhor. Mas, puro engano. Não havia interesse em regata e apenas em conquistar mais um adepto às reuniões das quartas-feiras no “Liliput”.

Desde este convite de “Alto Mar” tornei-me assíduo freqüentador das reuniões dos “Veleiros Avulsos” do Guaíba.

A semente lançada por Ewaldo Ritter foi duma fertilidade incalculável, prosseguindo até hoje as reuniões das quartas-feiras, porém na sede dos “Veleiros do Sul”.

Foi portanto no “Liliput” que se formou a atual geração de veleiros.

Foi do entusiasmo daquele pequeno grupo que se realizou a primeira regata a vela, sob o patrocínio do “Grêmio Náutico Gaúcho” a cuja frente estava o grande animador dos esportes especializados Luís Pinto Chaves Barcellos, cabendo a Roberto Bromberg a sua organização.

Foi no “Liliput” que se resolveu construir um “Porto dos Veleiros” com garage para guardar o material e Estaleiro para construção dos barcos.

Foi ainda no “Liliput”, no dia 12-12-1934, que se resolveu fundar o clube dos “Veleiros do Sul”.

Tudo quanto se tratou naquelas reuniões em volta da mesa de “chopp” foi realizado e com sucesso; haja vista o brilho com que os veleiros gaúchos sempre voltaram das competições quer nacionais, quer internacionais.

No entanto, a coisa mais importante, o que entrava o desenvolvimento do Yachting Gaúcho, não foi tratado no “Liliput”. Senão, quem sabe ? até isto estaria feito!...

 

É que naquela época, éramos modestos veleiros. Navegávamos em barcos de bolina, que com pequeno auxílio se encalhava na praia. Mas hoje, que possuímos barcos de quilha de 2 a 10 toneladas, é que sentimos e notamos a falta dos abrigos, não só para ancoragem como para refúgio nos dias do “minuano” ou quando se perturba o tempo.

A costa leste, que é a costa de Porto Alegre, não dispõe em toda a sua extensão, 30 milhas, dum único abrigo natural.


Hoje que está provada a importância que tem o yachting na defesa nacional, cabe ao Governo resolver este problema.

Porto Alegre se presta admiravelmente para possuir abrigos artificiais, que poderão ser feitos com pouco dispêndio.

Na zona em que está situado o “Clube dos Jangadeiros”, na Tristeza, a natureza está auxiliando a obra a ser feita. Existe um banco de areia que vai da Ponta do Dionísio (Vila Assunção) à Ponta do Caximbo. Aí poderia ser feita uma ilha, com o aterro retirado da parte entre a costa e o banco. Teríamos dois proveitos. Um que tornaria navegável o antigo canalete e outro com a ilha construída sobre o banco dando excelente abrigo para os iates de maior calado.

Da costa se faria um aterro aproveitando uma entrada de trapiche, que a protegeria dos ventos do sul.

Construída a ilha, haveria duas entradas: uma junto à Ponta do Dionísio (Vila Assunção) e outra abaixo do extinto Iate Clube (Yacht Club Porto Alegre) . Esta obra seria agora viável, aproveitando-se o importante trabalho contra as enchentes que o Governo Federal está fazendo sob a competente direção do dr. Hildebrando de Góis.

A Federação de Vela e Motor do Rio Grande do Sul, que está muito interessada no assunto, já esteve em contato com o Interventor Federal, Sr. Cel. Ernesto Dorneles, expondo a idéia, e conta com a simpatia da realização dessa aspiração. Também o Dr. Laerte Brígido, Diretor do Departamento de Obras e Saneamento do Ministério da Viação, mostrou-se muito interessado em ir ao encontro dos Veleiros Gaúchos mandando o Dr. Camilo Menezes fazer um estudo no local.

Da mesma forma encarou o problema o Dr. Breno Hofmann, Diretor da C.P. do 765, que acha viável a construção da ilha artificial e sem prejuízo à navegação.

Para melhor orientação do que se pretende, apresentamos um desenho com a projetada ilha dos Jangadeiros.

A ilha terá 100 metros de largura por 1.000 metros de comprimento.

 

Está prevista a construção dum estaleiro de reparações, com carreira para iates de 2 ½ m de calado, residências para os empregados e marinheiros dos iates, departamento de pesca do Clube dos Jangadeiros e garages para barcos de vela e remo.

Se o Governo do Estado apoiar a pretensão da F.V.M.R.G.S., então estará resolvido o problema da Vela Gaúcha em Porto Alegre.

 

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Transcrito por gentileza do Comandante Carlos Altmayer Manotaço Gonçalves, em 14 de julho de 2004.

 

 


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