Florianópolis - Paranaguá
Diário de Felipe Loss (Susto), de 14 a 22 Out 2004
(Florianópolis - Porto Belo - São Francisco - Paranaguá)
Total de milhas navegadas: aprox 1.146,41 (pelo GPS)
Tempo de motor: aprox 58:23h

Estrelas cadentes
22/10/04 – Apesar da chuva aproveitei o dia para comprar cartas náuticas na Capitania que fica ao lado do Iate Clube, ir ao banco e acessar a internet. Se a chuva parar irei passear pela cidade. Meu plano é ficar em Paranaguá até domingo ou segunda de manhã, quando o tempo deverá melhorar e seguir rumo ao Mar Pequeno.

21/01/04 – Parti do Capri às 00:18 com vento de sudeste de aprox. 12 nós. O vento variou bastante entre sudeste e leste com intensidade méida de uns 15 nós permitindo um ótimo desempenho sempre com tudo em cima. Logo que sai do Capri a luz verde de navegação parou de funcionar e peguei uma chuvarada isolada. Em aproximadamente 12 horas de velejada peguei chuva, céu estrelado com muitas “estrelas cadentes”, um belíssimo nascer do sol, nuvens e chuva novamente. A chegada ao canal da Galheta que dá acesso a Paranaguá ocorreu sem surpresas, sem arrebentação no mesmo ou a volta devido ao mar pequeno embora agitado. Depois de instalado no clube encontrei o holandês Gerardo com quem troquei algumas informações e fui almoçar, dar uma rápida volta pela cidade e retornar para dormir pois havia dormido apenas uma hora e meia na última noite.

Modéstia a parte, um ótimo rizoto
20/10/04 – Aproveitei para dormir mais um pouco. Depois do café da manhã fui falar com o Sr. César, gerente do clube, para acertar minha estadia. O Capri iate Clube fica numa área muito bonita, distante 15 Km do centro da cidade e conta com ótima estrutura e fui atenciosamente recebido. De volta ao barco fiz mais uma seção de vedação das janelas com meu Sikaflex que por incrível que pareça ainda não terminou, aperto do parafuso do pedestal da escota da grande que estava folgado e fazia com que a escota soltasse do mordedor com freqüência. Coloquei óleo 2T na gasolina do 2º tanque que havia esquecido de comprar em Floripa e Portobelo. Ainda bem que não precisei utiliza-la. Ainda pela manhã fui ao pequeno mercado do bairro e no caminho passei numa peixaria para comprar camarão e fazer, modéstia a parte, um ótimo rizoto. A tarde planejei a navegação para Paranaguá e alternativamente direto para Santos. Passei na secretaria do clube para pegar a previsão do tempo com o plano de sair do clube na metade da madrugada para chegar a Paranaguá ainda de dia.

Pingando exatamente no meio das camas
19/10/04 – Acordei bem cedo já com tempo bom para arejar o barco,, lavar roupa e secar tudo. Mais uma vez as gaiutas laterais voltaram a infiltrar água para dentro da cabine, pingando exatamente no meio das camas de popa. O pior é que o maior volume de água sempre ocorre no lado de boreste onde mais gosto de dormir. Pero da 13:00 peguei o ônibus para o centro da cidade para tratar logo dos assuntos pendentes: almoçar, banco, compra de óleo 2T e alguns mantimentos, correios para enviar minha câmera digital que parou de funcionar para reparo e tentar atualizar o diário do site. Foi uma tarde muito agradável caminhando pelas ruas com suas casas e prédios públicos na sua maioria muito bem conservados. Por último fui procurar um local para acessar a internet. Entrei uma lan house escura, iluminada apenas com luz negra, vídeos de rock passando numa TV e uma gurizada enlouquecida jogando em rede, gritando muito e se xingando todo o tempo. Consegui um micro que não havia o Word instalado apenas uma infinidade de jogos. Tentei me abstrair ao máximo para atualizar o máximo possível com o tempo que tinha para não perder o ônibus de volta para o Capri.

Trovoada de nordeste com muita chuva
18/10/04 – Partida às 04:55 com vento de sul-sudoeste muito fraco. O Pedroma abriu bastante de mim sumindo no horizonte por estar seguindo a vela e motor. Eu segui velejando tranqüilamente usando muito pouco o motor e bastante o balão assimétrico. Ao final da tarde quando passava pela Ponta da Enseada entrou uma trovoada de nordeste com muita chuva e para minha sorte quase sem alteração da intensidade do vento. De qualquer forma, por precaução, me afastei da costa rochosa para o caso de qualquer imprevisto navegando em contra-vento com toda mestra e buja e ótima velocidade. Depois de passar o forte da chuva fiz a aproximação pelo GPS e visual até chegar em frente ao canal de acesso ao Capri Iate Clube. Amarrei o barco no trapiche flutuante do clube, tomei um banho de chuveiro completo, jantei e fui dormir.

Fantasma de 3 cascos sendo arrastados pelo vento e ondas  para a praia
17/10/04 – Uma noite difícil, próximo das 23:30 da noite de 16/10 entrou um temporal de oeste-sudoeste, único lado parcialmente desabrigado dentro da enseada do Caixa d´Áço. Pelo anemômetro do Compay o vento era de 325 a 40 nós com rajadas que chegavam a um pouco mais de 45 nós. Um temporal rápido de pouco mais de meia-hora com muita chuva e raios. Todos os veleiros ficaram firmes em suas âncoras ou poitas mas o mesmo não aconteceu com 3 lanchas que estavam ancoradas a contra-bordo no meu barlavento apenas com o ferro da maior delas. Assim como todos os outros velejadores eu havia acordado com as rajadas e a chuva e estava de prontidão para o caso de algum problema. A surpresa, ou melhor, o Susto, foi grande quando ao avistar pela gaiuta de entrada da cabine aquele fantasma de 3 cascos sendo arrastado pelo vento e ondas  para a praia a sotavento e a uns 5 metros do Equinautic. Com o barco de menor calado e ancorado quase sobre o banco de areia da praia de sotavento, onde  na maré baixa o eco chega a marcar 0,4 a 0,5 metros, quando vi as lanchas já tinham passado pelo meu través e começavam a encalhar. Coloquei rapidamente meu impermeável, peguei o piloto automático e fiquei na porta da cabine esperando para ver se teria que tomar alguma atitude. Meu medo era que qualquer rondada de vento causasse uma colisão ou que a âncora deles sendo arrastada soltasse a minha também. Com as luzes de navegação acesas fiquei obsrvando os fatos que aconteciam atrapalhadamente entre as tripulações das lanchas. A pequena de uns 25 pés se safou facilmente pois ainda não havia encalhado, ancorando em um local distante. A segunda, uma Cabras-Mar de uns 34 pés ao soltar-se da maior só não parou na praia ou nas pedras devido ao banco de areia. Levou mais de 40 minutos para conseguir desencalhar por meios próprios, desaparecendo depois para fora da enseada. A maior e mais próxima ficou sobre o banco depois de tentar sair do encalhe sem sucesso, mesmo com a ajuda da pequena que voltou para tentar ajudar. A grande acabou ficando parada ao meu lado, um pouco mais para sotavento, por um longo tempo. Ela só conseguiu sair  no meio da madrugada com a maré alta com ajuda do vento que rondou para sudeste, empurrando-a de volta para o meio da enseada. Só então consegui dormir tranqüilamente até às 05:30 aproximadamente, quando o vento começou a rondar muito com rajadas de todas as direções. Acredito que as várias voltas que o barco deu em torno da âncora a fizeram soltar e às 05:55 foi a minha vez de encalhar no banco de areia da praia a sotavento. Mais uma vez vesti rapidamente o casaco impermeável. Instalei o piloto, bombeei gasolina para o motor e este compreendendo a situação pegou de primeira. Esperei aquecer um pouco  para não engasgar caso precisasse usa-lo com alta rotação e o utilizando como leme virei a proa na direção do meio da enseada sem que a quilha soltasse do fundo. Mantive o motor engatado e acelerado, desci para a cabine e ergui um pouquinho a quilha apenas o suficiente para desencalhar o barco e coloca-lo no seu lugar de ancoragem em segurança. Depois de ter certeza de que o barco estava bem ancorado consegui dormir novamente até mais ou menos umas 10 horas da manhã, mas sempre acordando devido a qualquer movimento ou ruído estranho. Pela tarde aproveitei um sol maravilhoso para nadar e mergulhar um pouco. A previsão do tempo é de que agora a tarde entre um vento sul muito forte que deverá enfraquecer durante a noite e permanecerá por mais uns 3 dias. O plano da tripulação do Pedroma e meu é de zarpar para São Francisco do Sul na próxima madrugada com ventos mais fracos a fim de chegarmos ainda de dia ao destino.

Convite para jantar
16/10/04
- No final da manhã Eric-SUI e Nicole foram conhecer o meu barco e me convidaram para visitar o deles e almoçar. Depois do almoço o Eric-SUI e eu fomos a Portobelo para fazer compras e buscar uma encomenda de leds que ele havia feito. EU e a tripulação do Pedroma estamos aguardando uma virada de vento de sul para seguir rumo a São Francisco do Sul.

15/10/04 – Dia nublado com vento de norte/nordeste. Aproveitei a boa visibilidade para mergulhar e conferir o fundo do barco visualmente, caixa da quilha, a própria quilha e terminar de limpar os sensores dos instrumentos principalmente porque o medidor de velocidade estava marcando errado. No final da tarde o Eric-BRA, que tem um bar flutuante dentro da enseada, passou pelo Equinautic para me convidar para jantar em sua casa junto de todas as outras tripulações de veleiro que por lá estavam ancorados. Uma ótima janta na companhia dos agora amigos Eric-SUI e Nicole (suissos do veleiro Elan 40 Compay), Piotr e Gina (russo e alemã do veleiro de 30 pés que me acompanhou no último percurso Pedroma), Armando e a namorada (do veleiro Campos 30 de madeira Lapso) e toda tripulação do Trylim que pertence a família do Eric-BRA.

Ancorei na belíssima enseada do Caixa d´Aço
14/10/04 – Sai de Sambaqui às 06:40 rumo a Ganchos ou Portobelo com vento sul/sudeste que depois da calmaria a sotavento da ilha de Floripa firmou em aprox. 15 nós permitindo boas descidas de ondas com ótima velocidade. No meio do caminho passei um veleiro de aprox. 30 pés estrangeiro que ia na mesma direção. Cheguei em Portobelo em torno das 13:20. Ancorei na belíssima enseada do Caixa d´Áço, sobre o banco de areia da praia que existe bem no fundo, sem nenhum barco a volta devido ao calado reduzido e totalmente protegido. No local além de outros barcos brasileiros estão ancorados lá alguns estrangeiros, entre eles o 30 pés que passei durante o caminho. Foi uma ótima e rápida velejada para matar a saudade do mar. Depois da velejada um almojanta de massa ao molho bolonhesa e salada para acompanhar.

Lavar o fundo e raspar as pequenas cracas
13/10/04 - Durante os preparativos da viagem ainda em PoA, ao fazer a pintura de fundo, solicitei ao Pedro que ao marcar a linha d água subisse a mesma uns 4 a 5 dedos. Todo mundo achou um exagero e erroneamente acabei diminuindo esta altura para 2 - 3 cm. Nesta época a marca da linha d água era com o barco vazio e durante a viagem com o motor, painel solar, 2 ancoras, cabos, corrente, inflável, 2 tanques de gasolina na popa a linha da água real ficou acima da pintura nesta área ocasionando as cracas da metade para trás do casco. Onde há pintura não existe craca só um limo muito fino.
Outros locais de ocorrência sao os sensores do eco e speed.
A solução foi entrar na água, aproveitando o dia de chuva e vento NE, para lavar o fundo e raspar as pequenas cracas. Tudo isso com o barco amarrado no trapiche da Marina Marina e do restaurante Rosemar de proa e uma ancora na popa com água pela cintura e meia quilha recolhida. Aproveitei a hospitalidade de ambos para tomar um banho e lavar o neoprene na marina e almoçar um file de peixe no restaurante. Trabalho concluído, bem alimentado, é hora de planejar a navegação para os próximos dias, atualizar o diário de bordo e ler enquanto aguardo um vento favorável.

Como é bom voltar a velejar
12/10/04
- Amanha estaria fazendo um mês de estadia no Iate Clube de SC.
Partida do ICSC do centro as 14-44 rumo ao norte da ilha com vento NE de intensidade media de 15 nos. Apesar do dia nublado fiz uma otima velejada de contra-vento ate ancorar ao norte de Santo Antonio de Lisboa (Sambaqui).
Apos minha revisão amadora do motor este voltou a funcionar como um relógio!
Como eh bom voltar a velejar depois de quase um mês parado.
É impressionante como uma recente formação de cracas na borda do casco influencia no desempenho do barco.

Rumo a Portobelo
11/10/04
- Depois de uma estadia prolongada em Porto Alegre para resolver os problemas do seguro do barco cheguei em Floripa e dediquei a manhã para comprar mantimentos e a tarde para tirar o motor e os tanques de gasolina do barco, fazer uma limpeza geral e colocar o troco para funcionar. Vou ter que aposentar o tanque metalico que esta enferrujando por dentro e soltando particulas na gasolina. Talvez seja por isso que o motor parou de funcionar.
Estadia do clube paga (28 dias). Programacao - amanhã cedo abastecer gasolina e seguir viagem rumo a Portobelo passando, talvez, pelas praias do norte da Ilha.

Setembro de 2004

Pronto para seguir rumo ao norte do Brasil
16, 17, 18 e 19/09/04
– Dias em Porto Alegre dedicados para resolver pendências pessoais e da viagem além de matar a saudade da família e amigos. Consegui com o Márcio da Equinautic um novo GPS portátil, luz de tope para ancoragem que ainda não possuía, e mais alguns materiais de divulgação. Encaminhei a solução do seguro do barco, um capítulo a parte em que devido a irresponsabilidade de um corretor dito de “confiança” naveguei todo este tempo sem cobertura do barco - um absurdo, confecção de algumas peças e tentativa de reparo de outras. Pizzaria com os amigos, churrasco com a famíla, uns passeios, cinema e já estou pronto para seguir rumo ao norte do Brasil. Mas uma coisa é certa, só saio do Iate Clube de Santa Catarina depois de ter a apólice de seguro do barco em mãos.

Voltei a ter um barco realmente habitável
15/09/04
– Finalmente um dia de muito sol depois de 7 consecutivos de chuva. O interior do Equinautic foi praticamente todo esvaziado, colchões, roupas, cabos, velas, inflável, tudo ao sol.Levei as velas mestra e buja para o Gusmão reparar as bolsas de talas furadas e retirei o copinho do piloto automático do convés para fazer uma chapa de reforço sob medida. Retirei e lavei o leme para levá-lo a Porto Alegre para uma revisão no estaleiro. Verificação das luzes de navegação e ferragens do convés – tudo em ordem! Ao final da tarde voltei a ter um barco realmente habitável e seco como espero que permaneça a maior parte do tempo daqui para frente. A noite enquanto esperava a hora de ir para rodoviária e embarcar para Porto Alegre comecei a atualizar o site no micro disponibilizado pelo clube.

Christian, um velejador norueguês de 73 anos
14/09/04
– Apesar da chuva dia dedicado a arrumar a bagunça no barco, tirar velas para pequenos reparos nas bolsas de talas, mandar roupas para lavanderia, separar o que precisa ser revisado ou consertado, mandar o meu velho GPS Magellan 315 para o meu irmão tentar reparar em Porto Alegre e criar uma imensa lista de pendências desde compras de supermercado, material de divulgação com a Equinautic até a lembrança de atualizar o site. No final da tarde houve um pequeno evento no clube em homenagem ao desempenho do pessoal do 49er nas Olimpíadas e depois jantei com o amigo Christian, um velejador norueguês de 73 anos, professor de física na Universidade da California que está viajando em um moderno catamarã de construção francesa rumo a Ushuaia. Ele queria muito que eu o acompanhasse até Rio Grande onde pretende deixar o barco por 3 meses para voltar ao trabalho por mais 3 meses (trabalha 3 meses e folga 1, totalizando 3 meses de férias por ano). Me convidou para integrar sua tripulação para fazer uma das etapas do Atlântico sul ou do Pacífico no início do ano que vem. Quem sabe não é uma boa idéia...

 

Veja a rota do Felipe

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Conheça o sonho do velejador Felipe Loss

Churrasco em Florianópolis

 

 

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