Porto Alegre - Chuí - Rio Grande
Diário de Felipe Loss (Susto), de 05 a 30 Ago 2004
(P.Alegre - Tapes - S.Lourenço - Jaguarão - Chuí - Pelotas - Rio Grande)

Ansioso para voltar a velejar e continuar a viagem!
04/09/04 - Dia dedicado a leitura, conversa com os amigos e a tarde fui a praia do Cassino assistir ao Campeonato Estadual de Windsurf. A noite churrasco com os amigos do RGYC e o pessoal do Arpége. Hoje saiu uma nota no jornal local "Agora" noticiando minha passagem pela cidade e os planos de viagem.
Até o momento as previsões de bons ventos a partir de terça, dia7 estão se confirmando, espero que continuem assim pois já estou ficando ansioso para voltar a velejar e continuar a viagem!

Cópia da carta náutica da barra de Rio grande de 1869
03/09/04 - às 13:00 participei do programa "Rádio Café" da rádio da universidade de Rio Grande, FM 106,7 onde tive uma conversa muito descontraída de quase uma hora sobre a minha viagem, o mar e navegação. Todos foram extremamente atenciosos me deixando muito a vontade. Após o programa fui à editora da Universidade conversar com o João Reguffe que me presenteou com uma cópia da carta náutica da barra de Rio grande de 1869 e me emprestou alguns livros.

Todos abortaram a partida
02/09/04 - Ao verificar a previsão do tempo pela manhã a decepção, vento favorável por no máximo um dia e meio seguido de fortes ventos de nordeste (exatamente contra o meu rumo). Um breve bate papo entre as tripulações, uma verificação mais detalhada das previsões com o Lauro, diretor do Museu oceanográfico da FURG, e todos abortaram a partida, adiando provavelmente para o dia 7 de setembro, quando deverá chegar uma nova frente fria ao estado. Talvez um veleiro holandês que também está no Rio Grande Yacht Clube faça este percurso para Floripa na mesma data que eu, já são 3 barcos esperando condições favoráveis para fazer o percurso.

A previsão de vento a favor de 3 dias passou para 2
01/09/04 - Provisionamento, aquisição de algumas cartas náuticas que estavam faltando na Capitania, reparo do treveller da vela mestra que havia perdido um parafuso e que desde a lagoa dos patos estava fixo adaptado com um cabo, colocação do refletor de radar no estai de popa, conclusão da vedação dos compartimentos estanques e instalação do windex no topo do mastro com o auxilio dos amigos do "Arpége", que provavelmente farão o percurso até SC nas mesmas datas que eu.
A previsão de vento a favor de 3 dias passou para 2, ainda aceitável para ir no mínimo até Laguna.

Previsão de 3 dias de vento sul, perfeito para ir para SC
31/08/04 - Parti do VSG em Pelotas rumo a Rio Grande às 10:00 fazendo parte do percurso a motor e parte a vela. A recente dragagem do canal entre São José do Norte e o porto antigo de Rio Grande permitiu economizar aproximadamente 5 MN no percurso sem a necessidade de recolher a quilha.
Previsão de 3 dias de vento sul a partir de quinta-feira dia 02/09, perfeito para ir para SC.


Iate Clube Jaguarão, Rio Jaguarão, divisa com Uruguai

Vento a favor, céu limpo, lua cheia iluminando tudo, conseguindo ler as cartas náuticas sem usar lanterna, por que não continuar?
29 e 30/08/04
- Às 07;25 já estava velejando rumo norte mais uma vez em contra-vento, mas com um rumo bem favorável. No meio da manhã o vento começo a aumentar, 1° rizo na mestra, depois rizo na buja, seguido do 2° rizo da mestra, só mestra rizada, estréia do tormentin sozinho andando de través a quase 5 nós. Devido ao baixo calado do barco fui atalhando por cima dos bancos sem precisar subir a quilha. Me despedi do pessoal de Jaguarão e comuniquei minha saída do Uruguai falando com a Control Rio Branco via rádio e segui rumo ao sangradouro da Lagoa Mirim. Após a Ponta Alegre, já com menos vento e mais velas mais contra-vento. O vento quase parou e mudou para sul. Entrei no Arroio Palma já noite fechada pensando em dormir, um visual fantasmagórico com os sons dos animais, e os vultos das árvores secas retorcidas iluminadas pela lua cheia. Antes de parar comecei a analisar; vento a favor, céu limpo, lua cheia iluminando tudo, conseguindo ler as cartas náuticas sem usar lanterna, por que não continuar? Saí do arroio direto rumo ao São Gonçalo com mais 3 redes na quilha pra não deixar lembrança sendo que precisei usar a faca numa delas, uma pena mas não havia outro jeito de soltar o barco.
Uma velejada maravilhosa em silêncio absoluto ouvindo seus ruídos e vendo os vultos dos animais sob um luar maravilhoso. Virei a noite direto e cheguei na eclusa 45 minutos antes do primeiro horário das 09:00.
No VSG mais uma vez almoço, sono, internet num café e previsão do tempo para ir a Rio Grande já pensando em Florianópolis. Foram 6 dias sem escalas para abastecimentos e paradas em locais com estrutura. Ótima oportunidade para testar a autonomia das baterias, capacidade do tanque d'água e todo o resto.

Dois encalhes em redes, pra variar...
28/08/04 - Vento a favor pela 1ª vez só que por pouco tempo. Calmaria completa que durou o resto do dia. Evitei motorar ao máximo devido a minha autonomia mas não houve jeito. Total do dia; 22 MN navegadas... Parei para dormir na Ilha Confraternidad, um lugar muito bonito e abrigado, com 2 encalhes em redes pra variar.

Nestas horas é que um bom GPS, ecobatímetro e o piloto automático mostram o seu valor
27/08/04
- Bem cedo, com vento forte e o motor engasgando um pouco fui até bem perto, mas não muito caso o mesmo parasse, da ponte no arroio São Miguel, onde tirei algumas fotos e comecei a minha viagem rumo ao extremo norte do Brasil. Aqui começa a minha verdadeira viagem tão planejada e sonhada! Fui a motor até sotavento da ponta do Paraguaio para almoçar e preparar o barco para navegar com o nordeste forte. Parece que a minha sina é velejar a Lagoa Mirim em contra-vento!


Ponte no Arroio São Miguel. Marco da divisa Brasil-Uruguai

O vento enfraqueceu durante a tarde e decidi seguir durante a noite pelo meio da lagoa na esperança de não acertar nenhuma rede. A noite velejei com vento constante e todo pano e ótimo rendimento e só parei para dormir a sotavento da ilha da entrada do Cebollati na esperança que o nordeste ficasse firme. Nestas horas que um bom GPS, ecobatímetro e o piloto automático mostram o seu valor permitindo uma navegada precisa e segura sem sobressaltos, a não ser pelas redes de pesca é claro!

Para comemorar carreteiro de charque e o vinho
26/08/04
- Partida rumo ao Arroio São Miguel às 06:25 de um dia claro sem nuvens e temperatura de 8°C dentro da cabine ao acordar. Mais uma vez contra-vento fraco de sul/sudoeste. Chegando próximo do arroio depois de uma calmaria entrou um vento fraco de nordeste e pela 1ª vez na viagem usei o balão assimétrico, pena que por pouco tempo pois cheguei rápido a foz do São Miguel. Entrei no canal a motor e no final da tarde amarrava o barco num barranco a 0,13 MN da ponte onde estão os marcos de divisa e marcam o extremo sul de minha viagem. Para comemorar carreteiro de charque e o vinho conforme prometido.

25/08/04 - Saída rumo sul com vento fraco oeste / sudoeste. Mais contra-vento num dia de céu limpo fazendo uma ótima velejada. Os pescadores, seus barcos barulhentos e suas redes foram diminuindo a medida que ia para o sul, principalmente do lado uruguaio da lagoa. Apenas o som do vento, da água sob o casco e das aves, perfeito! Chegando a ponta dos Afogados onde pretendia pernoitar mais uma vez fui batizado com as redes na quilha e para piorar o vento mudou tornando o abrigo desabrigado. A solução foi ir em direção leste e pernoitar ao largo com terra a barlavento na esperança de o vento não mudar como realmente não ocorreu.

Uma bela noite com luar e os sons dos animais para completar
24/08/04
- Arrumação de tudo para descer o rio Jaguarão à tarde. Fui com o Couto comprar gasolina, numa tornearia para desempenar o pino da quilha e dar uma volta em Rio Branco para conhecer e ver se achava alguma coisa interessante nos freeshop. Recebi um vinho de presente na condição de abri-lo quando chegasse ao Chuí. Tentei atualizar o diário de viagem e as fotos mas a cidade estava sem internet devido a problemas com a Embratel. Saí rumo a foz do Rio Jaguarão às 15:45 e parei para pernoitar já ao escurecer no abrigo árvore seca, quase na Lagoas Mirim. Uma bela noite com luar e os sons dos animais para completar.

Trapiche lotado e a âncora não prendendo no fundo de pedra
23/08/04
- Subida do Rio Jaguarão a motor e buja quando possível. O motor voltou a falhar com o uso do tanque metálico, terei que tomar uma providência urgente quanto a isso. A sorte é que o problema ocorreu uma curva de rio antes de chegar na parte com pedras. Mesmo com o problema do motor resolvido foi uma navegação um pouco tensa pois devido ao nível do rio não é possível saber exatamente onde estão os espigões de pedras. Ainda bem que eu possuía os waypoints do Beto do Raspa-Junco e um Mapa detalhado dos espigões. Chegando ao ICJ mais um problema, rajadas de vento forte jogando o barco contra o trapiche lotado e a âncora não prendendo no fundo de pedra. Para completar uma segunda-feira, nenhuma viva alma por perto. Quase meia hora depois quase desistindo de ficar chegou o Beto e sua esposa, funcionário do clube que arrumou uma vaga entre dois barcos. Tudo resolvido, hora de conhecer a cidade, fazer compras e a noite uma confraternização com os amigos do clube. Recepção excelente com muita atenção em uma cidade realmente interessante.

O pino de segurança dianteiro da bolina estava empenado
22/08/04
- No dia 2 peguei vento contra na Mirim e hoje também. Após contornar a Ponta Alegre com vento a favor forte, mais uma vez contra-vento rumo a foz do Rio Jaguarão. Sempre desviando das redes dos pescadores, é claro. Vento forte, contra-vento duro com bordo favorável com onda de frente, uma beleza, e é claro baixo desempenho. Cheguei na foz do Rio Jaguarão já noite fechada. Sabendo das fileiras de pedras por boa parte do percurso rio a dentro decidi dormir ao largo e esperar clarear o dia. Na hora de subir a quilha uma surpresa, o pino de segurança dianteiro da mesma empenado, provavelmente devido as caturradas no contra-vento, principalmente quando navegando com o piloto. Mas consegui tira-lo ainda sem muita dificuldade.

21/08/04 - Um dia não muito bom para navegar, realmente muito vento de noroeste com o lado de fora do arroio branco. O sol e o tempo seco foram ótimos para secar a umidade do barco, ler, lavar roupa e preparar um carreteiro de charque. Realmente a opção de mergulhar ontem foi acertada, apesar do sol o frio era impressionante. Uma preocupação, os cilindros de gás do fogão estão durando no máximo 7 dias. Terei que manter um estoque razoável a bordo e providenciar alguma alternativa.

Roupa de mergulho completa, faca na mão e mais de meia hora para tirar os restos da rede
20/08/04
- Da Ilha Grande no canal de São Gonçalo até o Arroio Grande já na Lagoa Mirim. A o vento contra ou a falta do mesmo atrasaram bastante o percurso programado, além de 2 redes presas na quilha, sendo que a segunda foi necessário usar a faca de mergulho para soltar o barco. A variedade de aves de aves vistas durante o percurso é incrível, pena não ter visto nenhuma capivara ou ratão do banhado. Chegando ao Arroio Grande já com ventos fortes e rajadas, na hora de subir a quilha, dificuldade e estalos sob o casco. A 1ª impressão é de que estava quebrando a fibra mas na verdade era o náilon da rede se rompendo. Não tive alternativa, barco bem amarrado junto ao barranco na beira do arroio, roupa de mergulho completa, faca na mão e mais de meia hora para tirar os restos da rede de volta da quilha e de dentro de sua caixa. O trabalho terminou já noite fechada e com muito frio e vento.

19/08/04 - Saída do VSG às 09:30 para a subida do canal de São Gonçalo. Quase todo o
percurso a motor com aproximadamente 1 nó de corrente contra e forte vento contra mais chuva, inclusive de granizo. Achei um recanto para dormir na Ilha Grande, protegido do vento e da correnteza.

18/08/04 - Chuva intensa e re-suprimento do barco em Pelotas

A idéia de ter uma estaca cravada no casco já era suficiente para seguir o percurso convencional
17/08/04 - Partida às 09:00 rumo a Feitoria e Pelotas. Apesar das previsões de mal tempo ficar mais um dia em São Lourenço estava me deixando ansioso. Naveguei quase todo tempo de genoa e motor, a âncora a postos para qualquer necessidade e previsão de paradas estratégicas dentro do canal da Feitoria para o caso do tempo engrossar. Nada disso foi necessário, peguei duas chuvaradas com ventos fortes e bastante chuva. Deixei a capa da retranca armada de forma a me proteger da chuva. Apesar do baixo calado e da sugestão de atalhar por dentro da ilha da Feitoria só a idéia de ter uma estaca cravada no casco já era suficiente para seguir o percurso convencional. Cheguei ao VSG à noite sem problemas, sempre com ajuda do GPS e do 2° tripulante, meu fiel piloto. O tanque metálico de combustível voltou a apresentar problemas, provavelmente entrada de ar na mangueira via pêra ou terminais.


São Lourenço do Sul

Resolvi dar dois bordos de través de 01 hora cada até clarear
14, 15 e 16/08/04
- Partida de Tapes às 12:45 rumo a São Lourenço do Sul. Como cheguei às 04:00 do dia 15 com terra a sotavento e fazia muito tempo que não entrava naquele canal resolvi dar dois bordos de través de 01 hora cada até clarear.

Piloto automático dando conta do recado sem problemas só com a mestra no segundo rizo e andando 6 nós. O resto do dia 15 e parte do 16 para colocação dos adesivos do site no costado. Aproveitei para testar o bote inflável tanto para atravessar o canal como para passear um pouco até as oficinas e estaleiros.

Se é para ficar balançando que seja navegando e não parado
12/08/04: deixei o barco em Tapes e ontem vim para PoA para buscar a câmera digital que havia encomendado e resolver algumas pendências. Hoje volto para o barco e amanhã parto para São Lourenço ou Pelotas rumo a Lagoa Mirim.

10/08/04: organização geral do barco, nova distribuição de pesos e a montagem da instalação elétrica do painel solar. À noite fui jantar na casa do Leo dono do “Tapê”, um Proboat 21 (antigo Delta 21) também de quilha retrátil que ele levou de Tapes a Parati velejando. Foi uma ótima oportunidade para trocar informações e impressões sobre os barcos pequenos no mar. Estavam também o Felipe, o Silvio que me presenteou com duas pequenas mascaras de sua autoria, o Comar e seu filho Cristian. Várias horas de conversa, vinho, anchovas e tainha assadas.

8 e 9/08/04: estava muito legal a partida de Porto Alegre. Muito obrigado a todos amigos que prestigiaram a saída motorando comigo até a Ponta Grossa. A partir do través de Belém Novo entrou um ventinho sul-sodoeste que permitiu desligar o motor e só velejar. Chegando em Itapuã à noite o vento sudoeste aumentou um pouco me deixando duas alternativas: ancorar e dormir com ondas devido a falta de abrigo ou seguir direto para Tapes. A vontade de velejar foi maior e segui direto rumo a Tapes em contravento (se é para ficar balançando que seja navegando e não parado). Todo o percurso foi em contravento com ventos médios e fracos, sendo que da 01 da manhã de segunda até o clarear do dia velejei com a mestra no primeiro rizo devido as rajadas mais fortes e conforto da navegada. O piloto cumpriu seu papel perfeitamente e o esquema de acorda a cada 20 minutos funcionou muito bem, sem ficar exausto no final do percurso, isso sem contar que na noite anterior havia dormido apenas 4 horas. Depois mais contravento dentro do pontal de Tapes devido as rondadas, chegando no Clube Náutico Tapense às 10 horas da manhã de segunda.

5, 6 e 7/08/04: correria total para conseguir resolver todas as pendências, dedicar algum tempo para os amigos e família. Um sufoco que deverá diminuir amanhã depois da partida, apesar de ainda estarem faltando várias coisas como a instalação do sistema elétrico do painel solar, organizar um monte de equipamentos, roupas, alimentos, peças, etc. no pequeno espaço da cabine e compartimentos de bordo.

Veja a rota do Felipe

 

Veja as fotos

Conheça o sonho do velejador Felipe Loss

 

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