Regata Valisère
A primeira regata a gente nunca esquece
Nelson Ferreira Fontoura

A regata se chamava Holt-Nautos, evento de regata em solitário dentro da programação do Troféu Cayrú, patrocinado pelo Clube dos Jangadeiros. Mas para mim seria a regata Valisére, pois a primeira regata, tal como o primeiro sutiã, a gente nunca esquece. O meu era rosinha...

Brincadeiras à parte, foi um grande aprendizado. Três largadas, sobe bandeira, desce bandeira, tiro, bandeira da classe, uma confusão dos infernos. Afinal, qual é o diabo da bandeira da classe?
Pra não atrapalhar a turma, fiquei pelas beiradas, já que a largada da regata em solitário seria a última. O primeiro problema é que fiquei bem na beirinha, e quando houve a largada eu estava afastado da linha de partida.
Isto por si não seria um grande problema, pois não tinha ambições competitivas e o percurso era longo. Só não contava que, justo nesta hora, o vento daria uma diminuída básica. Passei pela CR me arrastando, agoniado como lesma no sal.

Mas tudo bem, havia outros desgarrados para me acompanhar no percurso. Um bem pequeno, provavelmente 19 pés, o outro bem grande, talvez uns 40 pés. O Tiza, um Mordente 27, navegava a todo pano: uma mestra novinha e uma stay-sail prá lá de usada. Na verdade, uma genoa 2 abandonada de O'Day 23, recortada para adequar-se ao segundo stay de proa do Tiza, que é armado em Cutter.

A minha expectativa é que houvesse bastante vento, para que os demais barcos tivessem que navegar rizados, de forma a se igualarem em área vélica. Só que o São Pedro não colaborou. Houve momentos com maior intensidade de vento, quando o Tiza chegou a beirar os seis nós. Mas também naveguei a angustiantes dois nós em parte do percurso. Quando o vento apertava, dava um ânimo, e parecia que a turma da frente ficava mais próxima. Daí o vento fraquejava, e o povo ia se distanciando. A droga também é que sem piloto automático, eu ficava preso no leme, sem conseguir fazer ajuste fino das velas, não que isto viesse a fazer muita diferença.

Depois da primeira bóia, o par da Piava, a regata ganhou significado especial: encostei em um barco com tamanho próximo ao meu, embora não tenha identificado o modelo. Estávamos emparelhados, e parecia que eu, em grande recuperação, iria fazer a primeira vítima. Parecia... Errei o cálculo de aproximação da próxima bóia, e numa cambada prá lá de atrapalhada, deixei fugir a minha presa.
Esta permaneceu na minha frente por mais uma meia hora, quando abandonou a regata, me tirando a chance de, quem sabe, não ser o último.

Mas a esta altura vocês já devem ter percebido que orgulho não é o meu forte, de forma que segui na perseguição das próximas vítimas, já bem ao longe.
De repente, uma janela de oportunidade. Depois da bóia da serraria o vento deu uma rondada para sudoeste, me deixando mais a barlavento para a próxima bóia do que os competidores mais próximos. Tava no papo. Poderia fazer um curso direto, enquanto que eles teriam que ir cambando no contravento. Mas o vento continuava mais ou menos, e o Tiza se arrastando. Foi aquela torcida, até que o diminuto 19 montou a bóia e as minhas esperanças de ser o penúltimo se foram por terra.

Mas tudo bem, vamos pelo menos terminar o percurso. Mais um trecho e já estava ao largo da ilha do presídio, agora faltava pouco. Daí uma nova fraquejada do vento e a minha paciência chegou ao limite. Baixei os panos e voltei no motor mesmo. Nisto o Tiza é muito bom, como empurra aquele Yamaha...

No dia seguinte ocorreu a premiação, e uma grata surpresa. Os dois barcos que seguiam na minha frente receberam troféus de campeões em suas respectivas classes. Senti uma pontada de orgulho, afinal, perdi para dois campeões. Tá certo, estavam sozinhos em suas classes, mas isto é mero detalhe.

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