XÔ STRESS
Redes de pesca - uma preocupação constante
José Ricardo

Recentemente fiz uma navegação um pouco mais longa que as habituais voltinhas em interior de baia ou mesmo a costeira Angra-Rio-Angra e pude ter um pouco mais de tempo para observar que mesmo tendo as naturais preocupações impostas pelo planejamento de uma viagem, tais como "onde está a frente fria?", "quais as condições no Cabo de São Thomé? ou mesmo qual o melhor momento de encarar a Barra Grande na saída de Camamú?", o único stress permanente em toda a viagem foi a permanente vigília para não atropelar alguma rede de pesca. E pasmem, no único momento que relaxamos, nos embolamos com uma rede no través de Camboinhas....

Lamentando (para não ser grosseiro) sobre a falta de responsabilidade de alguns pescadores em colocar suas redes em verdadeiras vias expressas de embarcações, é que me dei conta de que passei toda a minha vida náutica reclamando, sem tentar analisar melhor a questão.
Numa primeira análise, observei que o stress é decorrente, até onde eu sei, da falta de uma regulamentação que possa servir como orientação aos pescadores, e conseqüentemente dar segurança aos navegadores, para uma melhor visualização das redes tanto durante o dia quanto, principalmente, à noite.

Algumas regras básicas poderiam ser estabelecidas a partir da formação de um fórum que integrasse representantes das classes de pescadores, de navegadores amadores e profissionais, de ecologistas e, principalmente, da Capitania dos Portos. Principalmente digo, por ter esta o poder para responsabilizar aos infratores quanto ao descumprimento das regras estabelecidas e conseqüentemente fazer valer o resultado do trabalho desta regulamentação.

Não quero aqui polemizar a questão com planejamentos absurdos ou mesmo de ações de longo prazo que somente poderão ser usufruídas por nossos netos, mas sim agirmos de modo prático e racional para que não se criem complexas exigências para os pescadores e acabem com os riscos em que são obrigados a conviver os navegadores.
Para ilustrar o que digo, poderiam ser estabelecidos critérios quanto:
- Aos locais de risco para lançamento das redes, tais como canais de navegação.
- A padronização das bóias de sinalização das extremidades da rede, com referências que pudessem permitir ao navegador, a identificação da profundidade da fecha central e o lado de bombordo e boreste (referenciadas ao Norte ou Leste p.ex.),
- A existência de identificação do proprietário da rede (na medida em que todo pescador deve ser registrado),
- A sinalização luminosa para visualização à noite (alimentada por pilhas ou bateria solar de baixo custo).

Tais regras evidentemente não terão a menor valia se não houver um patrocínio dos órgãos oficiais, no caso, representado pela Capitania dos Portos que, em última instancia tem poder de polícia para responsabilizar ao infrator. Não quero dizer com isto que toda a responsabilidade de fiscalização deverá ser atribuída à Capitania, mas, a partir da cooperação desta, qualquer navegador que observasse o descumprimento dos critérios poderia delatar o fato para sua ação, via rádio VHF, no próprio local onde a irregularidade foi observada.

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Artigo originalmente publicado na revista Velejar, enviado ao popa pelo autor.
O título “XÔ STRESS” faz alusão a uma expressão utilizada na Bahia .

 


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