Aventura no Atlântico Sul

 

"Aventura no Atlântico Sul", Márcio Dottori, Ed. Mandarim, 2002. 152pgs+figuras.


É mais um livro sobre impressões e relatos de viagem em veleiros. Deixou um pouco a desejar sobre o ineditismo na forma de escrever ou um diferencial de rota. Acredito que a viagem deva ter sido mais interessante que o relato literário, no entanto deve ter ficado no íntimo do autor e não houve essa passagem para o leitor. Faltou um "tcham", sabe? Um algo diferente sobre uma rota não usual, é verdade, mas não especial: Brasil-África-Brasil, por correntes e ventos favoráveis.

Não sei se esse é o primeiro livro do autor, mas me lembrou o 1º livro do Amyr Klink "Cem Dias entre Céu e Mar", que, salvo o ineditismo, foi uma viagem "insosa" que valeu mais como experiência própria do que como feito excepcional, comparando-se as posteriores que realizou e também pelo amadurecimento como escritor, pois o 1º do Amyr está bem longe em qualidade do último que escreveu. Mas, como sempre nessa área náutica, todo registro sempre é válido e bem vindo, só estou sendo frio na análise literária....

Agora que o "amargo" já foi dito, vamos para os pontos fortes do livro do Dottori:
No início da sua escrita (até mais ou menos no meio do livro), vi algo que nunca tinha visto ainda nos livros de náutica. Ele vai escrevendo como se o leitor fosse um quase completo estranho no mundo náutico, pois em vez da grande maioria dizer o termo técnico e colocar um glossário no final (quando muito), ele explica na hora. Também traz muitas dicas ao longo do texto, mas especialmente nos anexos onde aborda dados de desempenho da viagem, para quem vai navegar na Cidade do Cabo, na Ilha de Trindade (informações raras de se conseguir e muito importantes), culinária para 30 dias no mar, aves do paralelo 40ºS e sobre veleiros oceânicos (projeto, arquitetura, material, motorização, instalações hidráulicas e elétricas, mastreação e velame, âncoras e amarras, equip de navegação, salvamento e diversos).

Vale dizer que o Márcio Dottori é consultor e escritor da Revista Náutica, o que traz para seu livro muitas experiências com suas dicas para que vem vai se aventurar para incursões marinhas.

Os pontos altos da história/relato acho q são quando seu mastro começa a rachar na base no meio da viagem de ida (Rio-Cidade do Cabo) e ele tem que diminuir área vélica para diminuir a fadiga além de fazer furos para tentar cessar as rachaduras. Também a navegada nas proximidades do continente sempre trazem uma certa angústia com relação ao tráfego de grandes navios cargueiros, e ele soube relatar bem essas passagens.

Ele também relata bem os problemas que aparecem em navegadas prolongadas e erros que cometeu como por respiros no teto da cabine sobre os equip eletrônicos (onde a água infiltrou e acabou estragando o Notebook) e abusar da velocidade (por estar com muito pano), q cedo ou tarde traz fadiga em algum ponto, q no caso dele foi perder a Genoa 1 q rasgou de cima a baixo qdo estava em asa-de-pomba (q em outro momento quebrou o pau do spinnaker ao meio)... Também foi legal que eventualmente ele relata suas conversas via SSB com uma turma: Crespo e Howlie, Rádio América e Amyr Klink, que estava simultaneamente fazendo a circunavegação do pólo sul (livro "Mar Sem Fim"), entre outros.

Mas, como disse, leituras desses livros de aventuras e relatos de viagens em veleiros sempre é gostosa. Quem curte o tema vai encontrar prazer e um bom passa-tempo neste livro, e talvez encontre dicas preciosas para usar em seu veleiro ou em seus passeios, como a da base ajustável por cabos, pivotante, para o radar quando o veleiro está navegando adernado por um bordo ou por outro (o radar deve funcionar na horizontal). Essa dica ele pegou com o pessoal da regata Volvo Ocean Race (antiga Whitbread) em São Sebastião em 1998.

Boa leitura!

Rodrigo "Asterix" Beheregaray