Livros Náuticos
Cmte João Daniel Nunes

Sem a pretensão (e a capacidade) de ser um crítico literário, separei os livros náuticos, segundo o meu gosto, a saber:

 

a)     Para ler e reler: aquele livro que costumo de tempos em tempos ler novamente. É claro que por isso não podemos emprestá-los . A propósito: diz-se que quem empresta livros é um tolo e o que devolve também.

b)      Para ler no barco: Aquela literatura que podemos levar no barco para absorver os conhecimentos do autor. É claro que com o tempo a gente termina por relê-los também.

c)     Para ler numa travessia: Para ler numa longa travessia, onde o livro é o melhor acompanhante.  Ou naquelas tardes de vento muito forte quando a navegação está impraticável.

 

MEMÓRIAS DO MAR – Éric Tabarly – Edições Marítimas

(Para ler no barco)

A vida e regatas do grande velejador francês, e seus veleiros, sempre com o nome Pen Duick.  Vale constar a apresentação do livro, de Carmen Ballot: Não acredito que tenha sido levado pelo mar, simplesmente partiu um pouco mais cedo, talvez tenha queimado a linha e..., quem sabe?, um dia estará a nossa espera, no cais lá de cima, pronto para ajudar a amarrar a nossa espia.

 

Trechos:

1)                 Temos, às vezes, algumas compensações em momentos delicados da vida. A minha compensação, vou tê-la por volta da meia-noite, quando um enorme cardume de golfinhos vem saltar e brincar ao lado do barco. Eu sabia que estes mamíferos marinhos emitem sons a ponto de certos zoólogos garantirem que eles possuem uma linguagem. Mas é a primeira vez que eu os escuto. Os golfinhos são muito faladores. Entre gritinhos e grunhidos, eles ficam tagarelando durante horas. Talvez eles sejam gulosos também; de fato, na manhã de sábado, 30 de maio, descubro que o hélice da linha do log, que me indicava as milhas percorridas, simplesmente desapareceu. Será que um deles a engoliu?

2)                 A confusão e o tumulto tomam conta dos timoneiros. Além do barulho das águas, do vento nos estaiamentos, ouvimos palavrões anglo-saxões                                                                                    que explodem por todos os lados. Há uma pancada sobre o casco e depois gritos e insultos. Um barco a motor nos abalroou e seu timoneiro, desnorteado, virou depressa demais, bateu num barquinho de bolina que afundou como uma pedra, deixando seus três ocupantes nadando nas águas... Quando íamos salvar os náufragos, vemos no mesmo instante a diabólica bóia, muito longe a sotavento, exatamente onde não deveria estar, e com razão: como iremos saber mais tarde, tendo partido suas amarras, ela deriva com o vento. Na mesma hora é a debandada geral e todos os barcos se dirigem a ela.

 

 

DIÁRIO DE UMA AVENTURA – DEZ ANOS NO MAR – Família Schürmann

 

(Para ler no barco)

 

Relato da família catarinense em sua primeira viagem de volta ao mundo, em seu veleiro Guapos.

 

TRECHOS:

1)                  Na ilha de Apataki, um grupo de moças, entre quatorze e dezoito anos, estava reunido a bordo para conversar com os meninos. Música alta e conversa rolando solta. De repente, uma delas senta-se ao lado de Vilfredo, passa a mão no seu braço e pergunta: - Como se diz miri-miri na sua língua? – Carinho – responde Vilfredo, faceiro.

            - Ah, carinho – repete a moça, sem deixar de alisar o braço dele.

            Aí, ela olhou para mim e perguntou se podia ter uma conversa em particular. Entramos no barco, eu sem imaginar qual o assunto tão sério a ponto de precisar ser reservado.

            - Será que você podia me emprestar seu marido? – perguntou ela, na maior calma.

            - Como? – Minha cara de espanto deve ter sido enorme. Será que entendi direto, pensei.

            - É, eu queria seu marido emprestado. Mas não se preocupe – tratou logo de esclarecer. – Não quero ficar com ele, não. É só emprestado, por uma ou duas noites. É que quero também ter um filho loiro, como os seus.

2)                  ... O homem espiou, namorou, alisou a madeira.  – Sempre sonhei ter um barco assim, bonito, com um bom trabalho em madeira. Ele está á venda? Não, ninguém pretendia vender o barco. Vilfredo explicou que estava dando a volta ao mundo com a família, naquele barco.  O homem olhou mais alguns detalhes e voltou a tocar no assunto.    –Senhor Vilfredo – começou, a fala muito calma, mas também revelando determinação – todo barco tem o seu preço. Se fosse para o senhor vender seu barco, qual seria o preço?   Vilfredo pensou: vou dar uma corrida neste gringo. E pediu o dobro do preço que havíamos pago pelo Guapo. O homem nem titubeou: - Pois por este preço eu fico com o barco. – Então o barco está vendido – emendou Vilfredo. Algum tempo depois, Vilfredo chegou em casa e disparou: - vendi o barco!  - Como – quis saber.    –É isso, vendi o barco! – confirmou Vilfredo.  –Que que a gente vai fazer agora? Você está louco? – eu continuava não acreditando.  –Eu não. Louco é o homem que comprou o barco, que topou pagar o preço que chutei... Agora vamos comprar um barco maior.

 

 

KARLUK – A EXTRAORDINÁRIA EXPEDIÇÃO AO ÁRTICO EM 1913 – Jennifer Niven – Alegro

(Para ler no barco)

            Contemporânea da expedição de Shackleton com o Endurance,  que foi para o Sul, o Karluk foi para o norte. Enquanto que a história do Endurance terminou com um final feliz,  a outra terminou de modo trágico.

 

 

TRECHOS:

1)                              Maloch continuava descuidado com os pés. Bastava eles começarem a melhorar par ele congela-los novamente. Agora ele estava sofrendo um tipo de delírio. Parecia desamparado e incapaz de cuidar de si, mas continuava totalmente ignorante no mal que fazia ao próprio corpo. Manen o encontrava do lado de fora, apenas de meias, vagando pela neve, com um sorriso no rosto.  Quando Manen estava fraco demais para cuidar dele, Templeman assumia a tarefa, lavando e trocando as bandagens para o paciente, sob a supervisão de Manen.

2)                              Depois do jantar, Mckinlay, Hadley e Kuraluk voltaram para a colina, foram até a cova e aprofundaram-na ainda mais. Então ergueram o corpo inchado de Breddy do chão e finalmente colocaram-no para repousar, cobrindo-o em seguida com madeira, peles e musgo.    O capitão havia pedido a McKinlay que mantivesse a paz. Mas nem Bartlett poderia ter previsto uma tragédia daquelas.  Das regras às quais eles estavam habituados – as leis que os haviam governado em casa – nenhuma se aplicava naquele mundo estranho. A verdade era que a regra agora era cada um por si.

 

 

CEM DIAS ENTRE O CÉU E O MAR – Amyr Klink – José Olympio Editora

 

(Para ler no barco)

 

Em 1984, um brasileiro até então desconhecido, atravessa o Atlântico num barco à remos. Iniciava aí a carreira no nosso navegador.

 

TRECHOS:

1)      - Que diabo vim fazer aqui, neste lugar maluco? – me perguntava em voz alta. E, remando em silêncio, respondia: - Tentar sair daqui.   De fato, nada colaborava para que eu achasse normal a paisagem a minha volta. Ondas completamente descontroladas, águas escuras, tempo encoberto, um barulho ensurdecedor. Por onde andariam as tranqüilas águas azuis do Atlântico de que tanto ouvira falar? Sem dúvida, longe da África.

2)      “Grande navio cinza. Grande navio cinza. Aqui embarcação IAT chamando. Responda. Câmbio.” E que surpresa ao ouvir a resposta num inglês bem napolitano: “Prossiga IAT. Aqui é o Mount Cabrite. Câmbio.” Era um cargueiro de bandeira liberiana e tripulação italiana que seguia para os Estados Unidos. A comunicação de VHF é de curto alcance, e portanto eles imaginavam que deveriam avistar outro barco próximo, um veleiro talvez. Mas não conseguiram. Sem trair a emoção que sentia, pedi uma confirmação de posição para checar a precisão dos meus cálculos. E o diálogo que se seguir foi um pouco lacônico:  -Não o avistamos. Você perdeu o mastro? – perguntou o operador.   –Não tenho mastro! – respondi.   –Você está com pane nas máquinas?   -Não tenho máquinas. Estou remando!      Houve silêncio no rádio.   – Há outros sobreviventes? – voltou ele novamente.   – Não! Não! – respondi. – Sou o único tripulante a bordo. Vou para Salvador. Está tudo bem. Por favor confirme e comunique minha posição ao Concontramar no Rio de Janeiro.   – Morreram todos ou outros? –Não, não. Eu parti só, da África, de Lüderitz.   Novo silêncio. O oficial de rádio custou a acreditar e, enquanto pedia a posição à ponte de comando, não escondeu que duvidava do que ouvia.

 

 

 

PARATII – ENTRE DOIS POLOS – Amyr Klynk – Companhia das Letras

(Para ler e reler)

Primeira aventura oceânica, a bordo do veleiro Paratii, quando ficou preso ao gelo do pólo sul por um ano. O autor conta desde o nascer de sua aventura, a construção do veleiro, sua preparação e a longa noite hibernal na Antártica.

 

TRECHOS:

1)                “Do que eram feitos os outros três barcos que invernaram na Antártica?”   Pronto, pensei, terminou a reunião. E respondi: “Aço.”   “E do que será o seu barco?”   “Alumínio.”    Começou uma discussão interminável sobre as vantagens do aço contra o alumínio que eu sabia onde ia terminar. Fui então assaltado com uma pergunta seca.   “O seu barco pode ser feito em aço?”  “Claro. Como a maioria dos barcos polares.”  “E, se depender do OK da Villares, Aços Villares, para bancar integralmente o seu projeto, você faz o barco em aço?”   Eu tinha certeza de que isto ia acontecer, é claro que poderia construí-lo em alumínio e, na verdade, fazer em aço seria terrivelmente mais simples. “Sinto muito, se o meu barco existir um dia será como está escrito na pastinha azul que o senhor recebeu. Em alumínio.”

2)                Quase um ano da minha vida estava ali. Um lindo e agitado ano em que conheci mais pessoas e coisas sobre o mundo do que em todas as viagens que havia feito até então. Um ano unicamente meu que jamais esquecerei.  Muitos filhotes nasceram nessa última semana. A Bárbara partiu para sempre e do Horácio não tive mais notícias. Fazia um silêncio cristalino e o Paratii ia trincando com delicadeza o fino gelo rumo à saída da baía. O único mamífero que continuava em terra era o tímido e quieto elefante marinho de sempre. Até hoje não sei por que, ou como aconteceu, mas, exatamente no momento em que passei entre as pedras da entrada, o Theobaldo, que nunca emitira um único som, levantou a cabeça e começou a berrar. Eu berrei de volta e ele não parou. Berrava sem parar, a plenos pulmões, talvez de alegria, talvez não, o novo solitário proprietário da baía Dorian, ao passar pela ilha Casabianca. Foram os seus berros a última coisa que ouvi da baía Dorian.

 

 

Á DERIVA – SETENTA E SEIS DIAS PERDIDO NO MAR – Steven Callahan – Edições Marítimas.

(Para ler e reler)

 

Após naufragar com seu veleiro Napoleon Solo, , com pouco mais de 21 pés de comprimento, o autor traça detalhado relato, com desenhos e esquemas a sua luta pela sobrevivência, levado pelos ventos e correntes, derivando mil e oitocentas milhas.

 

TRECHOS:

1)                              Quando olho para minha lança, tenho mais razões para desejar ser um peixe, que não tem necessidade de armas. Está quebrada de novo. Preocupei-me coma faca de manteiga, muito frágil; no entanto, a faca com lâmina de aço dura é que quebrou. Talvez esteja olhando para minha última ceia. Bem, não seja melodramático – você já consertou antes. Mas o que usar desta vez? O garfo já foi usado.  Meu canivete é muito grosso para furar um dourado. Não há mais nada a usar como ponta. Acho que vou simplesmente continuar com a faca de passar manteiga no pão. Se quebrar, tentarei amarrar meu canivete e pegar cangulos. Deixarei esta preocupação para mais tarde.

2)                              Meus sistemas para coletar água de chuva também precisam ser aperfeiçoados. Aos primeiros pingos da chuva acomodo a caixa tupperware através do destilador. Ela permanece no lugar, presa pela rédea do destilador. Arma-la ou esvazia-la é simples e rápido, o que é importante para minimizar a poluição com água salgada das ondas que quebram e espirram. No entanto, acho que posso captar mais água se encontrar um meio de montar a caixa no topo da balsa. Tenho que passar uma rédea ao redor da caixa para ter um lugar por onde segurar. ...

 

 

 

SÓZINHO AO REDOR DO MUNDO – Joshua Slocum  - Edições Marítimas

(Para ler e reler)

Um livro que não pode faltar na biblioteca de um navegador. A primeira viagem de volta ao mundo em solitário em num veleiro, numa época em que não existia piloto automático, com 51 anos, num veleiro de mais de cem anos de idade.

 

TRECHOS:

 

1)                  Ele pareceu adivinhar o que eu estava pensando. “Senhor”, disse ele, tirando o chapéu, “não vim fazer-lhe mal”. E um sorriso, muito vago, mas ainda assim um sorriso brincou em seu rosto, que não parecia maldoso quando ele falou. “Não vim fazer-lhe nenhum mal. Eu navegava livremente”, disse ele, “mas nunca fui nada pior do que um contrabandista. Sou um dos tripulantes de Colombo”, continuou ele. “Sou o piloto do Pinta e vim aqui para ajudá-lo. Fique deitado em repouso, senhor capitão, e eu guiarei seu navio hoje a noite. O senhor está com um calentura, mas estará novamente bem amanhã”.

2)                  Bem, é fato consumado que ninguém pode pisar numa tacha sem dizer alguma coisa. Um bom cristão pelo menos assobia quando pisa descalço sobre a “ponta comercial” de uma tacha de tapeceiro; um selvagem, é claro, vai dar gritos e gesticular como um desesperado, e foi exatamente o que aconteceu naquele dia por volta de meia-noite, enquanto eu estava adormecido na cabine. Vários selvagens vieram a bordo, certos de minha captura e igualmente da pilhagem do barco, mas mudaram de idéia assim que puseram os pés no convés. Eles perceberam ali que a história era diferente. Eu não precisei usar o rifle. Eles saltavam para fora, alguns para dentro de suas canoas, outros para o mar mesmo, para refrescar-se eu creio, e havia um bocado de palavrões à solta. Subi ao convés e dei vários tiros, para que aqueles renegados soubessem que eu estava em casa, e logo desci novamente para continuar meu sono, sentindo-me seguro de que não seria mais perturbado por pessoas que tinham ido embora com tanta pressa.

 

AVENTURAS NO MAR – Hélio Setti Jr. – . L & PM Editora

(Para ler e reler)

O autor, um cara boa-praça, com seu barco o Brasileirinho , “Brasuca” para os íntimos, deu a volta ao mundo. Posteriormente chegou a participar do governo Collor, como ecologista que era. Morreu em 1992, aos 39 anos, de aneurisma, tomando um chope com os amigos  em Curitiba. Seu livro tem trechos em separado para os velejadores, com detalhes técnicos.

 

Trechos:

1)        Aprendemos muita coisa com os franceses.  .... Com eles aprendemos também a melhor maneira de salgar peixe para conservá-lo a bordo. Pescávamos tanto que sempre sobrava. Para salgar corta-se primeiro um filé e dele se fazem tiras compridas e finas. Enfiam-se as tiras em um arame (de preferência aço inox) e salga-se o peixe com sal fino ou grosso. A seguir amarra-se esse arame no estaiamento do barco, ao sabor do vento e ao sol. Se você pescar de manhã bem cedo e o dia for de sol forte, sem chuva, à noite o peixe estará pronto. Caso contrário, se ele ainda não estiver seco, recolha todos os arames com as tiras, coloque-os dentro de um escorredor de macarrão e cubra-os. Durante a noite, o sal desidrata o peixe e, no dia seguinte, ele terminou de secar. 

2)        Logo chegaram uns dez crioulos melanésios, com um ar que não chegava a ser amigável.

           - Bonjour, você é francês?

           - Bonjour. Não, não sou. Sou brasileiro

           - Você fala como francês

           - Mas non! Sou brasileiro mesmo, estou num barco que até se chama Brasileirinho.

           - Ta bom, acho que você não é francês mesmo. Sorte sua.

           - Por  quê?

           - Porque se fosse ia apanhar. Au revoir, monsieur.

           Foi quando eu percebi que a barra realmente andava pesada na área.

 

 

VOLTA AO MUNDO EM UM 12 PÉS – Serge Testa – Iluminuras

(Para ler e reler)

 

Recorde reconhecido pelo Guiness em 1984, num barco de 3,60 m, chamado Acrohc. Um livro sob medida para quem acha que veleiro tem que ter mais do que 50 pés.  É claro que ao final nem o próprio Serge agüentava mais seu  minúsculo barco.

 

TRECHOS:

1)                No dia seguinte, aproximando-me de Durban, chamei o capitão do porto. Ele mandou a lancha da Polícia Marítima para se encontrar com o Acrohc fora do porto, quando eu estava ainda meia milha ao Norte do quebra-mar. Ouvindo pelo rádio eu pude escutar uma discussão entre o comandante da lancha e o capitão do porto. Alguém na lancha disse: - Estou já fora do quebra-mar e não estou vendo o iate.  – É um iate de doze metros, de bandeira australiana, e a vela tem uma faixa amarela,  foi a resposta.   Depois de algum tempo interrompi para dizer: - São doze pés, não metros.

2)                –Chamando iate, aqui Lord Howe. Depois que as informações de praxe foram trocadas, solicitei a informação: - Vocês podem me informar o que é melhor a fazer? Perdi minha âncora e estou sem combustível.

- Não dá para entrar na lagoa a noite. Você deve ancorar do lado de fora até amanhecer. De que material você dispõe  para ancorar?

-Só de uma âncora de pescador (poita), não tenho corrente mas bastante corda de meia polegada.

- Esta corda nunca vai agüentar. Veio a estimulante resposta

- Eu quero informar que se trata de um iate de apenas doze pés, falei.

- Você pode repetir?

- Doze pés, três metros e meio. Respondi constrangido.

- Meu santo padroeiro! Espere que nós estamos indo para dar a você um reboque.

 

 

O NAUTICÔMIO de Hormiga Negra – Hernan Alvarez Forn – Edições Marítimas Ltda.

(Para ler no barco)

Como revela o autor, nauticômio é um neologismo. – Não nego que seja muito aparentado com manicômio; acontece que a palavra manicômio vem do grego e se refere aos cuidados das manias.

 

 

TRECHOS:

1)                A navegação é um dos esportes mais saudáveis, pelo menos no momento em que o praticamos. Se no futuro, com o correr dos anos, viver molhado e com frio deixará o navegador veterano meio reumático, é um fato ainda não comprovado.

2)                É suficiente que exista uma circunstância favorável que não vai se repetir , para que a mente do proprietário se veja invadida por fortes doses de jaqueísmo... já que está desmontado vamos tirar os colchonetes e envia-los para o estofador e fazer novas proteções de lona para o mar grosso, porque os atuais não dão para limpar e... já que tirou-se o colchonete e a proteção de lona, com pouco trabalho desmonta-se o tanque de água, que está a séculos sem ser limpo: ao desconectarmos os canos de plástico do tanque que estão cristalizados pelo tempo, rebentam-se dois que estavam oxidados... e já que é assim, manda-se trocar estas mangueiras e as do banheiro que se acham nas mesmas condições. Ao desmonta-las convém desmontar o vaso sanitário e leva-lo para revisar estas válvula endurecidas que não deixam mais entrar nem sair a água como antigamente, quando eram novas; já que se chegou até aqui, como não pedir ao pintor que pinte estes lugares escondidinhos e, para que não contraste com o resto, também decide limpar e pintar os porões. ....

 

 

MEU VELHO E O MAR – David Hays e Daniel Hays – Martins Fontes

                                                          (Para ler no barco)

 

Não confundir com o Velho e o Mar de Hemingway.  Trata-se do relato de viagem de um pai e um filho que viajam ao Cabo Horn no veleiro Sparrow, escrito a duas mãos. Temos a visão do pai  e do filho sobre os acontecimentos a bordo.

 

TRECHOS:

1)                Nem todos os heróis do Horn foram homens. Em 1866, com seu marido comandante acamado com febre cerebral e o imediato aprisionado por incompetência, a Sra. Joshua A. Patten, uma noiva de vinte e quatro anos, comandou e conduziu o pesado navio Neptune’s Car em redor do Horn até São Francisco, numa viagem de cinqüenta e dois dias. Foi transformada em um exemplo brilhante para o novo movimento pelos direitos femininos.

2)                As 10h 00, em 8 de janeiro, o Horn era claramente visível atrás de nós e já havíamos mudado o nosso curso para norte. De repente, uma rajada de granizo, do tamanho de alcaparras, me atinge nas costas com tanta força que cambaleio na cabine. De um céu azul, ou pelo menos de um céu partido, sem nenhum sinal de chuva ou tempestade. E com ela veio o vento mais forte que já tivéramos, mais de cinqüenta nós (Força 10). O mar permaneceu plano, mas tornou-se branco – já estávamos abrigados do Horn e suas ilhas – e em menos de um minuto, desci a buja e pus mais um rizo na vela grande, e, então, em menos de quinze minutos o williwaw se acabou.

 


 

VELEJANDO O BRASIL DE PORTO ALEGRE AO OIAPOQUE – Geraldo Tollens Linck – Editora Nova Fronteira.

(Para ler e reler)

Conta a história do falecido navegador gaúcho, que em 1976 partiu com o seu veleiro Plâncton, 12 metros,  rumo à América Central, sendo o primeiro gaúcho a dar seu testemunho.  Legiões de velejadores iniciaram, no sofá, sua carreira ao ler este livro (eu entre eles).

TRECHOS:

1)                Deixamos cedo o Itapuã, que é o estreito onde termina o Guaíba e começa a Lagoa dos Patos. Até o Farol Cristóvão Pereira são mais 42 milhas e navegamos a motor, pois o vento não sopra por boa parte da manhã. Entretanto conservamos a vela grande, para melhor equilibrar o barco, balançando menos.  Hilton, que deve ter saído do berço para dentro de um barco a vela reclama: - Pô tio, que motorada!  Sinto a decepção no rosto deles por não navegarmos à vela, como se eu fosse o responsável pela falta de vento.

2)                Alcides, o marinheiro que nos abana dizendo adeus, depois de algum tempo vem em nosso socorro com uma canoa. – O que há? – Pergunta ele.  – Não sei – respondo. – O motor está bom, o eixo gira, mas não anda.   – Deixa que eu vou dar um mergulho, seu Geraldo!  Alguns minutos depois, ele volta à tona.  – Não existe mais o hélice. As pás despencaram!    O hélice que estou usando é um modelo de abrir, ou “folding”, utilizado para regatas. O pino escapou e as pás caíram.   Voltamos ao clube novamente, porém desta vez rebocados. A nossa saída que fora “triunfal” transforma-se poucos minutos depois num “humilhante” retorno, cada um de nós com a cara mais “apagada” do que o outro.  Todos nos olham e riem. O Plâncton está sendo rebocado pela canoa a remos do Alcides!

 

 

O GUARDIAN VELEJANDO O PACÍFICO – João Francisco Sombra de Albuquerque – Sergasa – Serviços Gráficos de Alagoas

(Para ler no barco)

 

A aquisição nos Estados Unidos, do veleiro Guardian, 43 pés, sua preparação e viagem ao Pacífico.  Nas palavras do autor o veleiro ganha vida, mostrando o seu sentimento à tripulação.  É interessante as broncas do autor nos portos por onde passou.

 

TRECHOS:

1.                 E fomos chegando a nossa oferta. Lá estava o “Yankee” coberto, com uma impressão meio triste de quem está a venda, aguardando quem seria o seu segundo proprietário. E lá chegou a família brazuca! Ele não entendia nada e devia estar pensando: - É, agora mais essa, além de ser vendido, e ainda pra gente esquisita que fala uma língua esquisita!.    Amor a primeira vista!  Achei-o lindo, linhas clássicas, perfeitas, que sempre desejei, tudo como havia desenhado nos meus sonhos e devaneios.

2.                 – O que tem me causado muita espécie é que o senhor, havaiano, tendo como ancestrais exímios navegadores, que conhece e respeita as coisas do mar, trata um navegador desta forma. O que não pensariam seus ancestrais se o vissem agora? – Temos mais ou menos a mesma idade, talvez um pouco mais velho se o for. Estou dando a volta ao mundo, com minha família, sem o interesse de ferir ou aviltar lei de nenhum país. O que ocorreu foi, simplesmente prestar um auxílio a um jovem havaiano, que acabou vindo aqui e, pelo teor da troca de palavras no seu próprio idioma para justificar não o seu proceder, mas o auxílio do estrangeiro que o senhor quer multar. Veio proteger a este estrangeiro e seu barco, que conheceu há menos de quarenta e oito horas, como certamente, é o espírito dos grandes navegadores havaianos e polinésios.  O diretor foi ficando sem graça e com a guarda baixa , quando dei o golpe finalizador: ...

 

 

 

 

NAVEGADORES DA LAGOA DOS PATOS. A SAGA NÁUTICA DE SÃO LOURENÇO DO SUL – Jairo Scholl Costa – Editora Hofstatter

(Para ler no barco)

 

Histórias dos navegadores de São Lourenço e da lagoa (laguna)  dos Patos

 

TRECHOS:

1)                Quando o tempo se mostrava contrário para viagens, os barcos iam-se aglomerando nas imediações da barra do São Lourenço, aguardando a melhora para partir. Se demorasse muito o mau tempo, produtos como a manteiga, por exemplo, iniciavam o processo de deterioração, o que frequentemente acontecia e eram levadas para os estaleiros, onde então a manteiga lubrificava as carreiras por onde deslizavam os barcos em reparos. Outro aspecto que levava os iates a uma verdadeira regata, quando o tempo amainava, era a lei da oferta e da procura.

2)                Em torno da pesca do bragre, havia sempre uma outra atividade importante que era quase sempre executada pelas mulheres na praia. Tratava-se de produção de óleo, que era obtido da cabeça dos peixes, fervidas em grandes tonéis. (O mesmo procedimento era usado para extração de óleo das cabeças de burriquete). Mas tarde, no porto, o óleo de peixe rendia um bom dinheiro aos pescadores. Aliás, como se observou antes, no caso do processamento do estômago do bagre para a cola, praticamente, nada se perdia no aproveitamento deste peixe.

 

 

 

 

EXPEDIÇÃO ROTA AUSTRAL – HOBIECATS DOBRAM O CABO HORN – Texto Roberto Pandiani – Fotografia Gui Von Schmidt – Terra Virgem Editora

(Para ler no barco)

Dois Hobiecats 21 numa viagem que inicia em Puerto Mont até o Rio de Janeiro, passando pelo Cabo Horn. Magnífico álbum fotográfico. Ótimo para dar de presente (ou de receber).

TRECHOS:

1)                Nos dias cem que estivemos esperando Felipe no Canal Farrel, presenciamos in loco a dura rotina dos pescadores dos canais chilenos. Acordavam todo dia às 4 da manhã e, debaixo de um frio inacreditável, vestiam apenas um casaco de lã, uma capa de chuva, um par de galochas e saíam pro mar em seus pequenos barcos para pescar.  A cada 24 horas um pesqueiro maior recolhia os peixes e deixava mantimentos. Uma rotina só de homens que durava três meses ininterruptos: deixando o acampamento na mata apenas para pescar e entregar o peixe. Pescar e entregar o peixe.

2)                Ligamos para a fábrica dos Hobiecats na Califórnia. O mastro novo só chegaria em um mês. A expedição estava ameaçada se tivéssemos que esperar. Mudos começamos a trabalhar. De repente, vozes e braços surgiram de todos os lados. Rubens e Mattos, dois carpinteiros, cuidariam do mastro. Foi feita uma peça de madeira de 90 centímetros exatamente igual ao perfil de alumínio do mastro, um pouquinho menor para entrar pelas duas partes separadas e assim uni-las. Um trabalho de mestres...

 

 

COMO VIVER A BORDO – MANUAL DO CRUZEIRISTA MODERNO – Vera & Yuri Sanada – L& PM Editores

(Para ler no barco)

Ideal para quem está iniciando ou que costuma velejar na poltrona da sala de estar.  Como dizem os autores, “ao navegar por estas páginas, você ficará sabendo como planejar sua viagem em veleiros, seja ela até a ilha vizinha ao iate clube ou até os confins do mundo”.

 

TRECHOS:

1)                O sistema de descarga no mar possui uma alavanca com duas posições, sendo que uma permite a água do mar entrar e outra faz com que esta água saia, para esvaziar e limpar o vaso. Tenha o cuidado de mudar a alavanca após o uso, vedando a entrada de água do mar, para que não ocorra naufrágio através do vaso sanitário. Seria humilhante admitir que seu barco afundou por causa da privada.

2)                O que fazemos à noite? È obvio que não podemos ancorar e jogar cartas a noite toda. Seriam necessários alguns milhares de metros de corda. Nós simplesmente revezamos na vigília, pois o barco não pára. Nenhum sistema de radar ou alarme substitui o olho humano, buscando o horizonte para evitar colisões com outros navios.

 

 

 

 

PASSAGEIROS DO VENTO – Edson de Deus – Santa Fé Gráfica e Editora

(Para ler a bordo)

De 05/01/1990 a 18/01/1991, o autor em companhia de duas filhas, de 12 e 14 anos, viajou no veleiro Aleluia no Atlântico Norte. Inclui no livro um guia para planejamento da navegação.

 

 

TRECHOS:

1)                Relia um cartãozinho pintado com aquarela que Maria Luiza fez e escrevera para mim, quando estávamos em Gibraltar. Era um recadinho pequeno e dizia muito. Coisas assim como: - Obrigado por te me colocado em seus planos, gostei muito de estar com vocês.

2)                Com o terrível problema da droga que contamina a juventude americana, realmente não há outro jeito senão trabalhar duro no combate ao tráfico. Depois fiquei sabendo que os traficantes utilizam além de aviões, lanchas velozes, conhecidas como “cigarretes” para o tráfico de drogas. E o navio e homens equipados como se fosse para uma guerra, é por que a barra é pesada mesmo. Contam que um “inocente” veleiro metralhou um helicóptero da guarda costeira ao ser interpelado por ele.

 

 

UM MUNDO SÓ MEU –  A circunavegação do mundo sem escalas e em solitário a bordo de suhali –  Robin Knox Johnston – Edições Marítimas

(Para ler e reler)

Em 1969, a bordo de Suhali, construído na Índia, Knox Johnston tornou-se o primeiro homem a dar a volta ao mundo em solitário, sem escalas. O barco não tinha nada de especial, no entanto era o único que o autor dispunha

 

TRECHOS:

1)                O isqueiro ficou sem gás hoje e todos os meus fósforos estão molhados. Fui obrigado a acender minha “chama eterna”, a lanterna de querosene. Tenho seis pacotes de fósforos para o bote salva vidas, mas eles são suficientes apenas para 100 dias e vou guardá-los de reserva.

2)                Embora a maioria das minhas roupas já estivesse úmida há vários meses, até hoje eu conseguira manter o saco de dormir razoavelmente seco protegendo-o dos vazamentos do convés e da cabina com uma antepara de lona. Quando eu tinha bastante confiança de que não haveria uma trovoada durante a noite, costumava tirar minhas roupas molhadas, entrava dentro do saco de dormir usando outras roupas e deixava o calor de meu corpo tentar seca-las enquanto eu dormia.

 

 

 

LAGOA MIRIM UM PARAÍSO ECOLÓGICO – Décio Vaz Emygdio – Livraria Café Pelotas Editora

 

(Para ler no barco)

 

Recentemente falecido, neste livro o autor mescla as paisagens com histórias da Lagoa Mirim e seus afluentes, a maior parte a bordo de seu barco Nanico, um Tahiti 16 pés.

 

TRECHOS:

1)                A Companhia Fluvial Jaguarense era proprietária do moderno e luxuoso vapor América, que fazia viagens regulares entre Porto Alegre e Santa Vitória do Palmar, com escalas em Rio Grande, Pelotas e Jaguarão. O vapor América, além de vários camarotes, possuía sala de janta, sala de senhoras e sala de fumar.

2)                 A Lagoa Mirim está cheia. Aqui onde estamos atracados, normalmente é campo. Estamos cansados. Jantamos e fomos dormir cedo. As noites de inverno são tão grandes que parece não terminar mais.  Cansado de tanto dormir, acordo, ainda noite, com o canto estridente e fazendo grande ruído no meio do banhado, de um bando de dragões (Pseudoleites Virescens), pássaro de plumagem amarela. Sinal de que o dia esta clareando. Noto que o barco está um pouco adernado para boreste, lado onde está o meu beliche, e totalmente imóvel. Levanto-me para ver o que está acontecendo. A água baixou. O barco está encalhado. Estamos completamente no seco.  Não fora o auxílio de vários pescadores que utilizaram duas bimbarras, jamais teríamos devolvido para a água um barco que pesa mais de duas toneladas.

 

 

 

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