Breve histórico do O'Day 23 e da Mariner
O O'Day 23 é um veleiro
cabinado de 23 pés, para 5 tripulantes, de projeto norte-americano.
Ao todo foram construídas 1.619 unidades do O'Day 23 em Fall River,
Massachusetts, de 1.970 a 1.985.
O projeto, elaborado pela C. Raymond Hunt Associates, foi alterado ao longo
do tempo (fixed, pop e convertible top). Mais de 60 modelos
foram produzidos por George O'Day (*1923 +1987), desde o Day Sailer (13.000
unidades a partir de 1.959), até barcos de 40' nos anos 90. A O'Day
fechou nos EUA em 1991.
Brazilian Connection
No Brasil a produção
dos O'Days 23 começou em 1.978 pela Mariner Construções
Náuticas Ltda. A Mariner fechou, o que dificulta o resgate da história
agora em 2003, mas tive a sorte e o prazer de conhecer o jornalista Aldo Tedesco.
Gaúcho, 55 anos, Aldo veleja desde l968. Formado também em Administração
de Empresas e Ciências Contábeis, o "Gringo", como
o chama Christina Silveiro, a ForesTina, foi consultor da Mariner.
Aldo teve a gentileza de
preparar o texto que abaixo segue, contando para a popa.com.br um pouco do
que sabe sobre a história do O'Day 23 no Brasil. Muito mais
do que isso, Aldo presenteou-nos com vários documentos, hoje já
relíquias, sobre o O'Day 23. A maioria deles está disponível
neste site. Aí vai um pouco do que sabe este protagonista e testemunha
da história da indústria náutica brasileira.
O primeiro
O'Day 23 montado no Brasil
navega pelas águas do Guaíba e Lagoa dos Patos
por Aldo Tedesco
Corria o ano de 1.977
Tudo começou em 1.977 quando um folder impresso pela O'Day dos
EUA foi o que bastou para Francisco José Calero de Freitas, então
controller da Forjas Taurus S/A, sócia da Mariner naquela época
e uma das responsáveis pela criação do estaleiro no Brasil,
convencer Paulo Pernau Fassel a comprar o primeiro O'Day que singraria águas
brasileiras.
As
formas vieram dos EUA
Casco, convés, contra-moldes e a maioria das ferragens acompanharam
as formas vindas diretamente da O'Day americana. Em pouco tempo o engenheiro
mecânico Sérgio Trachtenberger e o Gerente Geral Adolfo "Careca"
Paradeda, da Mariner, montaram o barco 001. Seis funcionários, num
prédio de 400 m2 no bairro Navegantes, fabricavam até então
3 unidades mensais de Day Sailer.
Em julho de l978, numa noite
fria, num coquetel de apresentação do barco no Veleiros do Sul,
começaram a listar os nomes que se enfileiravam à espera do
próximo 23' sair da linha de produção.
O Lesko-Lesko
Em homenagem ao seu primeiro neto Christian, Paulo batizou o veleiro com o
nome de Lesko-Lesko.
A ânsia para colocar o barco na água e velejar era muito grande.
E a fila de convidados, também.
Num sábado ensolarado, com toda a família e o Adolfo Paradeda
a bordo, velejamos pela primeira vez o barco. Indescritível e inesquecível,
como tantas outras vezes!
A primeira noite a bordo foi na Ilha Chico Manoel, num encontro festivo dos
associados do Veleiros do Sul.
O maravilhoso O'Day 23 acomodou Paulo, sua filha Flora, seu genro Aldo Tedesco
e seu neto Christian "Lesko-Lesko", então com menos de dois
anos de idade.
Para quem velejava no Lagosta, um Guanabara 23 pés, passar a navegar
com o O'Day 23 foi um sonho que não terminava nunca, pois o barco permaneceu
com a família longos 15 anos.
O
último pedido Paulo amava tanto o O'Day 23 e nossas águas que fez um pedido à família: suas cinzas deveriam ser jogadas à Lagoa dos Patos. Faleceu dia 20 de setembro de 2002. Um O'Day 23 - o Forest - acompanhou-o em sua última velejada até o Farol de Itapuã, na Lagoa dos Patos, documentada pela objetiva do Danilo Chagas Ribeiro da www.popa.com.br. |
Outra foto da ocasião em "Navegadores 7" |
O'Day
23' vira selo no Brasil A artista cearaense Maria Lúcia Teixeira Ramos utilizou os contornos do Pão de Açúcar, símbolo da Brasiliana 79, para identificar a cidade do Rio de Janeiro, local da realização da exposição. Para completar essa imagem, apresentou quatro tipos diferentes de embarcações esportivas, que marcavam e ainda hoje marcam presença em águas brasileiras: o O'Day 23, o Snipe, o Pingüim e o Hobbie Cat. O colorido vibrante, ao mesmo tempo em que ressalta a imagem de cada selo, atribui um sentido de conjunto e unidade à série. A Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos aproveitou as duas expressivas exibições de classes filatélicas - a III Exposição Mundial de Filatelia Temática e a I Exposição Interamericana de Filatelia Clássica - para a emissão destes selos durante estes eventos que aconteceram de 15 a 23 de setembro de l979, no Rio. |
Veja os outros selos e dados sobre a criação da série, aqui. |
Evolução
Em l979, em novo prédio de 1.500 m2, com 30 funcionários
e muito prestígio, a Mariner atingia uma produção média
de doze Day Sailers e cinco O'Days 23 por mês. Mais tarde, já
em 1.986, a Mariner tinha mais de 300 funcionários na nova fábrica
de 4.000m2, na zona sul de P. Alegre.
Nesta época, além
do 23 pés, a Mariner produziu outros 17 modelos de barcos como o Slick,
Oday12, O'day 15, Day Sailer, Classe Olímpica 470, Microtonner
19, Ranger 22, Martinique 25, Ranger 26, Aruba 28, os Cal 9.2 e 9.2R, Main
34 e Main 35, Trinidad 37, Bahamas 40 e o Tripp 33, sendo este de propriedade
de Paulo Paradeda.
Em l986 o controlador americano Steven Galle deixou a fábrica brasileira, Mariner, já que o grupo gerencial local adquiriu o controle, através de uma operação de leverange buy-out.
Ocaso
Em 1.990 veio o Plano Collor. O dólar, moeda em que eram cotados os
barcos da Mariner, sofreu reajuste drástico. Vários pedidos
em andamento e/ou por iniciar ficaram com o preço muito defasado. A
empresa pediu auto-falência em dezembro de l995.
Foram construídas mais de 200 unidades do O'Day 23. Até
hoje os O'Days continuam fazendo sucesso não só no Brasil, como
nos EUA também.
Atualmente alguns ex-funcionários da Mariner trabalham individualmente
em Porto Alegre na produção de acessórios náuticos.
Sites sobre O'Days
O O'Day Sailboats Unofficial
Web Site apresenta muitos dados. O Yahoo tem um grupo denominado odayowners.
Há ainda o site www.odayowners.com
e outros, específicos para o pessoal que veleja em O'Days, objetivando
a troca de informações, por vezes interessante: ajudei Kent,
de Seattle, por exemplo, a retirar e consertar um dos suportes que prende
a linha de vida do convés. Ele enviou foto da peça danificada
pedindo informações sobre como remover o suporte. Apenas expliquei
como acessar as porcas dos parafusos de fixação do suporte,
removendo o carpete dentro da cabine e soltando as porcas com uma chave cachimbo.
Enquanto eu levo 15 minutos da porta da minha casa ao barco, ele precisa fazer
um coast-to-coast: o O'Day 23 do Kent está na marina da casa da sogra,
na Florida. É do tipo que fica faceiro quando a esposa quer visitar
a mãe.
-o-