As imagens georeferenciadas
Cuidado com as coordenadas de segunda geração
Geraldo Knippling

Com o advento do GPS estamos presenciando o maior avanço tecnológico na representação gráfica do mundo em que vivemos. Uma tecnologia complicada para implementar mas muito fácil e intuitiva para usar.

As imagens georeferenciadas Google Earth permitem o acesso preciso a qualquer lugar do nosso planeta. Servem para corrigir erros e distorções inevitáveis na cartografia convencional. Podemos hoje traçar uma rota numa dessas belas imagens, marcar waypoints anotar coordenadas e obter rumos precisos. Mas podemos mesmo?

Qualquer solução georeferenciada necessita de coordenadas de latitude e longitude para obter uma ilustração gráfica. Existem muitos programas para isto. As cartas Blue Chart muito usadas nos GPS Garmin são de uma precisão extraordinária. Também o Ozi Explorer é um programa que apresenta recursos extraordinários.

Sabemos que é necessário que haja pontos de “amarração”, precisos, para sobrepor a grade (coordenadas) à imagem ou vice versa. Estes pontos podem ser obtidos e conferidos pelo GPS.

Isto faz-nos a chegar à conclusão que as coordenadas de uma carta ou de uma imagem de satélite assim projetadas não deixam de ser coordenadas de segunda geração. A imagem é obtida por um satélite e a grade é aplicada com auxílio e dados de outros satélites (GPS) de funções diferentes.

Pode-se observar que há pequenos erros nesse processo; principalmente sob o ponto de vista angular. A precisão das novas imagens Google é alardeada com uma definição de 30 cm (um centésimo de segundo)! Isto pode ser verdadeiro em algumas partes do mundo mas certamente não na nossa Lagoa dos Patos e arredores.

E quanto ao traçar uma rota sobre a imagem do satélite, obter os waypoints e navegar por eles? É um bom começo e satisfatório para a navegação visual. É mais preciso que obter coordenadas das nossas cartas convencionais do século passado. Entretanto, no nosso caso, para uma navegação precisa é necessário conferir esses waypoints no local, com várias passagens e uma boa média. Em caso de discrepâncias com a imagem gradeada, evidentemente deverão prevalecer as leituras feitas no local. Há quem discorde, alegando que as médias das leituras no local representam uma precisão de 5 a 6 metros com os recursos normalmente disponíveis, enquanto que na imagem do satélite obtemos precisão de 30 cm. Por outro lado essa precisão de 30 cm é obtida mediante ajustes e sobreposições e não possui a verificação direta que devemos considerar imprescindível na nossa região.

A precisão de 30 cm do GPS no presente caso é puramente decorativa. Ela de fato existe mas é degradada por manipulação e por nossos aparelhos que não conseguem fazer jus a este valor. Para citar um exemplo: se tivermos um valor de 21 cm e multiplicarmos por 234 milímetros (21 x 23,4), o resultado de 491 mm (49,1 cm) não pode ser considerado como precisão milimétrica, porque os 21 cm na escala centesimal não tem essa precisão, faltam os milímetros; poderia ser 20,5, 20,6...até 21,4. Conseqüentemente o resultado poderia ser de 47,9 a 50.0. Em outras palavras a casa decimal mais baixa deve prevalecer. No presente exemplo: 49.

As COORDENADAS para quem não usa matemática no dia a dia

Apesar de haver outras opções, a grande maioria dos usuários de GPS faz uso da modalidade graus, minutos e milésimos de minutos, onde o último dígito corresponde a aproximadamente 1,8 m (35°42,721’ como exemplo). No sistema decimal os cálculos sempre são mais fáceis. Já nas imagens georeferenciadas, como nas do Google Earth são usados graus, minutos, segundos e centésimos de segundo (como nas cartas antigas) (35°42’43,26”) onde o último dígito corresponde a centésimos de segundo, ou seja, 30 cm. Para transferir dados de uma carta para a outra ou para o GPS, de modalidade diferente, a regra é muito simples. Nos minutos, que são iguais em ambas, não se mexe. Na carta que usa milésimos de minuto, basta multiplicar estes milésimos por 60. Assim, os .721 x 60 resultam em 43,26”. Já nas cartas ou imagens onde o último dígito corresponde a centésimos de segundo, basta dividir este valor por 60. Assim, os 43,26” divididos por 60 correspondem a .721.

Será que está certo?
Uma vírgula mal colocada pode dar uma diferença enorme e desprestigiar os nossos conhecimentos de matemática. A grosso modo é possível verificar de imediato que não houve erro substancial: basta comparar rapidamente os valores: 721 milésimos correspondem aproximadamente a ¾ do minuto bem como 43,26” correspondem também, aproximadamente, à mesma fração. Evidentemente tudo isto pode ser programado para ser resolvido por um clique do computador.