Aprenda a gostar de vento fraco
David Dellenbaugh
Tradução Luiz Bolina Jr.

Um dos pontos chave para o sucesso no vento fraco é o seu estado de espírito. A maioria das pessoas ama ou odeia o vento fraco. Se você gosta está em vantagem porque o seu entusiasmo e confiança vão fazê-lo ser mais rápido. Se você pertence ao "odeio vento fraco clube", no entanto, você tem um problema. Sua atitude pode ser a maior razão por você não andar melhor em ventos fracos.

O que você pode fazer ? comece tentando identificar algumas coisas que você gosta ao velejar em ventos fracos - a paz, a tranqüilidade, o fato de velejar sem se molhar, a chance de conversar com a tripulação.

Melhor ainda, trabalhe duro na sua estratégia de velocidade no vento fraco. Uma vez que você comece a andar no pouquinho melhor nessas condições você vai começar a gostar de ventos fracos. Você passará a ver o vento fraco como um desafio, com seus truques para superar os competidores.

Para ir rápido no vento fraco, trabalhe na trimagem das velas. Por exemplo, cuidado para não caçar demais sua vela de proa. Diminua a tensão no estai de proa para deixar a vela mais cheia, e não cace demais a testa. Posicione o trilho da genoa mais à frente em ventos fracos do que em médios. Deixe a valuma um pouco mais aberta no vento fraco.

Aqui estão algumas idéias de como melhorar sua performance em ventos fracos.

Veleje ângulos rápidos. Um dos maiores erros que você pode cometer em vento fraco é velejar muito devagar. Você irá dizer: "Muito devagar ? Todo mundo veleja devagar no vento fraco !" É simples: orce demais e você irá devagar demais. Daí a parar totalmente basta uma pequena onda ou uma rondada de vento contra. E uma vez parado será difícil começar a andar novamente.

Portanto, o melhor é errar para o lado mais rápido. Evite espetar demais o barco no contravento. A velocidade extra tornará mais fácil corrigir o rumo nas rondadas, passar um buraco de vento, velejar contra as ondas e mesmo cambar.

Tente se manter nas áreas onde há mais vento. No vento fraco, mudanças na velocidade do vento são relativamente mais importantes do que mudanças de direção. Os barcos vencedores normalmente preferem mais velocidade a uma rondada a favor. Por isso prefira um vento mais forte, mesmo que não tenha um bom ângulo de orça.

Quando você está orçando com vento forte, você dá prioridade às rondadas do vento. Isto porque normalmente seu barco já está com muito vento e rajadas mais fortes não irão ajudar muito. No vento fraco, porém, rajadas são sempre bem vindas. Um vento mais forte vai permitir não só maior velocidade, como também ajudar a ganhar altura. Na verdade uma rajada mais forte pode te dar mais ganho de altura do que uma rondada.

É relativamente fácil ver as rajadas mais fortes se você mantém uma boa vigilância ao redor do percurso. Fique de pé no barco antes da largada, procure por sinais de rajadas na água e escolha o melhor lado. è importante se manter atento às rajadas durante a regata porque você sempre pode alcançar uma rajada (ou se manter por mais tempo nela) dando um bordo ou jibe. Lembre-se que vento sujo de outro barco é como uma calmaria e deve ser evitado, principalmente em ventos fracos.

Não perca a velocidade no vento fraco. Quando não há muito vento, é fatal deixar o barco perder velocidade. Sem velocidade, você reduz o vento aparente, perde a capacidade de manobra, as velas panejam e você desacelera rapidamente quando encontra ondas ou uma rondada.
Evite "espetar" o barco controlando sempre o fluxo de vento através das birutas da genoa. Fique atento às mudanças na velocidade do vento. No vento fraco, uma rajada pode facilmente dobrar a sua velocidade, assim como uma acalmada pode diminuí-la pela metade.

Para obter sua melhor performance, você deve "trocar de marchas" a cada mudança de velocidade. Em outras palavras, você deve trimar o barco e as velas continuamente em resposta (se possível antecipadamente) a cada
mudança das condições. Isto é especialmente importante no vento fraco, quando você precisa de cada nó de velocidade.

Mantenha seu peso baixo, à frente e a sotavento. A posição da tripulação é muito importante, particularmente quando não há muito vento.

Baixo: Mantenha a sua tripulação o mais baixo possível no barco (e agrupada), especialmente se o mar está mexido. Em barcos de ponta, não é incomum a tripulação velejar deitada a sotavento, ou mesmo cabine.

À Frente: No vento fraco, não se preocupe por afundar a proa na água. Posicione sua tripulação à frente. Isto sempre reduz a superfície molhada e facilita o manejo do leme.

À Sotavento: Posicionar a tripulação a sotavento é uma reação natural no vento fraco. Ajuda na manobrabilidade e em alguns barcos reduz a superfície molhada. (também ajuda a manter o formato das velas)

Mova-se vagarosamente, nunca rápido. Você não quer uma tripulação de elefantes quando o vento está fraco. Então tenha certeza de que todo mundo adquiriu a mentalidade do "vento fraco". Planeje seus movimentos cuidadosamente e evite fazê-los desnecessariamente. Quando precisar mover-se, faça-o suavemente, como se estivesse pisando em ovos ou você "matará" o movimento do barco.

Um bordo no vento fraco, por exemplo, deve ser um movimento lento. Não corra simplesmente para o outro lado, como você faz no vento forte. Você pode criar um balanço indesejável no barco e perder velocidade.

Minimize os bordos. Se em cada bordo você perde um comprimento de barco quando o vento está a 15 nós, você pode perder dois ou três comprimentos com o vento a cinco nós. (especialmente com ondas). Isto porque há uma demora até retomar a velocidade. Portanto, no vento fraco planeje bem para evitar bordos desnecessários.

Outra razão porque as manobras devem ser lentas no vento fraco é a turbulência da água e do vento. Toda vez que você vira o leme cria um turbilhão que produz arrasto. No vento fraco, este arrasto tem um efeito relativamente grande na velocidade do barco. Então mova o leme o mínimo possível. Equilibre o peso e trime as velas para diminuir o esforço no leme.

Fique fora do meio da raia. Esta é uma das situações em que você deve manter-se longe do meio. Mas você já tentou velejar no meio da raia com vento fraco e rondando? É bem provável que metade dos barcos que escolheram o lado de bombordo cheguem na sua frente na bóia de contravento, e metade dos que escolheram o outro lado também.

Quando o vento está fraco, os lados do percurso normalmente parecem ter um vento melhor. Isto pode ser porque uma brisa fraca não tem força suficiente para atravessar a flotilha, então ela sopra por cima dos barcos, particularmente no meio da flotilha onde normalmente está o maior número de barcos. Em qualquer caso, a tática conservativa de ir pelo meio e cambar nas rondadas raramente funciona no vento fraco, especialmente se você não é um dos primeiros barcos.

Quando o vento que você sente na superfície da água é fraco, há uma boa chance de que o vento no topo do mastro tenha uma velocidade ou direção diferentes. Os efeitos disto serão:
1) Suas velas precisarão ser reguladas diferentemente em cada bordo. (ex.: mais "twist" num bordo do que no outro);
2) Seus instrumentos irão mostrar inconsistências de bordo para bordo; e
3) Você pode usar o vento no topo do mastro para prever futuras mudanças no vento da superfície. Estes efeitos serão mais pronunciados em barcos grandes do que em pequenos.

Dê potência às suas velas. Você normalmente quer suas velas mais cheias para o vento fraco porque está disposto a orçar menos e ganhar velocidade e aceleração. Especialmente quando há mais ondas do que vento (como é o caso das ondas das lanchas).

Para dar potência às suas velas, regule-as para que o estai de proa fique um pouco solto. Diminua a tensão no backstay, cunningham, testa, esteira e escota da genoa. Puxe o traveler para barlavento, de modo que a retranca fique no centro no contravento.

Mova o trilho da genoa um pouquinho à frente (assim você pode folgar um pouco a escota sem abrir demais a valuma). E use "prebend" no seu mastro (curvatura gerada pela regulagem dos brandais) para obter um bom shape na mestra sem ter que caçar demais o backstay, o que poderia deixar a genoa muito chata.

Cuidado com a correnteza. Isso inclui a largada e a chegada. É comum quando há largadas com correnteza e muito pouco vento alguns barcos queimarem a largada (com a correnteza a favor) ou mesmo largar "de marcha a ré" tentando voltar para a linha. Quando a correnteza está contra na largada há casos em que, com vento muito fraco alguns barcos se afastam muito da linha e não conseguem largar no prazo de dez minutos após o tiro, sendo desclassificados. Na chegada com correnteza a favor e vento muito fraco há casos em que os barcos passam por fora da linha de chegada e tem que jogar âncora, algumas vezes ao lado da linha, a espera de alguma rajada que possibilite voltar e cruzar a linha. Por isso é importante observar sempre se há correnteza e qual a sua direção, que nem sempre é a mesma do vento.

Pratique no vento fraco. Se você quer andar melhor nas regatas de vento fraco, você deve praticar com vento fraco. Saia para velejar quando souber que o vento está fraco. Quando o vento cair abaixo de cinco nós, não desista, concentre-se em manter o barco andando.

Lembre-se que a sua atitude pode ser o ingrediente mais crítico para o sucesso, então dê tudo de si para gostar de vento fraco.


Traduzido e adaptado de "Learn to love light air", de David Dellenbaugh, por Luiz Bolina Jr , Republicação no popa autorizada.

 

Envie seus comentários ao popa.com.br:

Seu e-mail:



CLICK APENAS UMA VEZ