A Passagem Interna do Morro da Formiga
Para calados de até 1 metro
Adendo do livro "O Guaíba e a Lagoa dos Patos"
Texto e Fotos: Capitão Am. Geraldo Knippling*


O popa.com.br tem a honra de publicar adendo da obra "O Guaíba e a Lagoa dos Patos" do Comandante Geraldo Knippling.

Incansável na descoberta de novos caminhos no Rio Guaíba e na Lagoa dos Patos, o Cmte Geraldo apresenta informações preciosas sobre uma passagem que mapeou recentemente. Os dados aqui apresentados são de interesse de quem vai visitar as praias do Morro da Formiga e de quem vai seguir ao sul.

A carta está fartamente documentada e as imagens ilustram a beleza do local. Tudo no excelente padrão das obras do Cmte Knippling.

 

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O Morro da Formiga é um dos últimos redutos que conserva ainda intacta a sua exuberante vegetação nativa. Por enquanto está a salvo das famigeradas plantações de eucaliptos das fábricas de celulose.
Ao contrário do que ocorre na margem direita do rio Guaíba onde a mata nativa não mais existe, salvo numa estreita faixa da orla, por motivos de aparência (veja o Arroio Araçá, a Ponta do Salgado e a Península da Faxina). É de temer que em breve veremos esta bela mata nativa substituída por eucaliptos, já que aparentemente não existe controle ecológico na região.

O lado leste do Morro da Formiga é de uma indescritível beleza. Em um extremo a impenetrável mata virgem com a colossal barreira de rochedos intercalada por uma ou outra pequena praia, e do outro lado a Lagoa dos Patos em toda a sua plenitude. Extensos bancos de areia tornam o acesso difícil, limitando toda a região a barcos de menor calado. O vento leste ou nordeste predominante agita as águas apesar da barreira natural de areia da assim chamada Coroa do Morro. Mas com ventos do setor W o lugar é simplesmente paradisíaco.

Quando sopram ventos fortes dos setores W a NW ("rebojo" no verão e minuano no inverno) a navegação de Itapuã ao Pontal de Santo Antônio (para quem vai a Tapes) pode tornar-se desconfortável no rumo direto. Uma bela opção é a passagem interna pelo Morro da Formiga, deixando a Ilha do Barba Negra a bombordo e seguindo em águas tranqüilas ao longo da costa até ao Pontal. O roteiro aqui apresentado é auto-explanatório. Tanto de Itapuã quanto da Ponta Escura é possível rumar direto para a posição TBU3, seguindo depois o esquema.

Quando a Coroa do Morro está submersa (nível médio) não há qualquer problema. Com água baixa e a Coroa descoberta evidentemente haverá uma diminuição da profundidade que deverá ser considerada em função do calado. Nessas condições, entre as posições FORA e FOR1 avista-se na proa à esquerda, o banco de areia. Ele geralmente é visível de longe por estar repleto de pássaros. No través da posição FOR3 há uma lindíssima praia que pede uma visita ou até pode ser o ponto final de um cruzeiro mais curto. Passando o morro, em FOR8, pode-se seguir a FORX a fim de ir às praias do lado W, ou então, seguir até FOR9, costeando o banco com 1,2m a 1,3m de profundidade. Após essa última posição deve-se ter o cuidado de deixar a Ilha do Barba Negra bem a bombordo a fim de evitar os bancos de areia (via BAR2 e BAR4) e dependendo do vento, para tomar o rumo do Pontal.

Note que a recíproca também é verdadeira, ou seja, navegar do Pontal a Itapuã com vento NE. Com essas condições de vento geralmente falta altura, e vontade, para seguir direto. Nesse caso, é possível subir no RM 20º ou parecido, deixando Barba Negra a boreste. Uma vez chegando na área protegida pela ilha, pode-se seguir no contravento, a motor ou fazendo um bordo até o Morro da Formiga. Observe que nessas condições haverá ondas junto ao morro, mas elas são de porte menor devido à proteção da Coroa do Morro. É aconselhável ter sempre um ferro pronto para ser lançado para evitar de ser jogado sobre as pedras no caso de falha mecânica. Com ventos de até 15KTS não há problema. É curioso que a parte mais desconfortável de todo o trajeto (com ventos E ou NE) seja entre as posições FOR1 e FORA, onde com uma profundidade relativamente pequena, as ondas depois de passarem sobre o banco, ficam extremamente cavadas, de través, provocando agitadas oscilações na embarcação.

O vento NE ou E sempre aumenta bastante no período da tarde devido ao fator de desequilíbrio térmico. Com ventos acima de 20 KTS é preferível pernoitar na "sombra" da Ilha do Barba Negra e continuar a jornada na manhã seguinte quando o vento estará bem mais fraco.

Observe que o presente roteiro, em vários trechos, passa bem próximo aos bancos de areia do lado leste. Isto porque não seria prudente assinalar waypoints com pouca margem de segurança (das pedras). Certamente existem outras opções: muitas vezes é possível aproximar-se um pouco mais das pedras para conseguir mais alguns centímetros de calado, mas isto é uma opção do comandante. Com o tempo, também é possível um banco de areia deslocar-se para W devido à ação das ondas impulsionadas pelo vento. Acima de tudo, devem sempre ser observadas e consideradas as limitações do equipamento.

Geraldo Knippling

 

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(*) O Comandante Geraldo Knippling, Capitão Am., escritor e cartógrafo das águas navegáveis gaúchas, tem belíssimas obras publicadas. Ex-comandante da Varig condecorado com a Ordem do Mérito da Aeronáutica, voou 40.000h. Atualmente veleja com o Magana/Veleiros do Sul.
"O Guaíba e a Lagoa dos Patos" e "Descobrindo o Guaíba" apresentam os pontos de interesse do Guaíba e da Lagoa, com fotos, cartas, waypoints, dicas, etc. São referências indispensáveis à navegação na região, que podem ser adquiridas na secretaria do Veleiros do Sul (51.3267-1733).

Este artigo é um adendo do livro O Guaíba e a Lagoa dos Patos.
O material publicado nesta página, incluindo as imagens a ela interligadas são partes integrantes do livro "O Guaíba e a Lagoa dos Patos", de Geraldo Knippling. Todos os direitos reservados ao autor.