Reforma atrevida
A reconstrução de um clássico
Amilcar Rossi

03 Set 2005

Um fantástico veleiro com casco de aço medindo 80 pés e pesando 80 toneladas escapou por pouco da sucata, quando os interessados concluíram que não poderia navegar, mesmo rebocado.

Conheço a história recente deste barco porque participei em todas as fases da reforma.
Na época em que o barco ainda pertencia à família Fontoura (Biotônico), tinha o nome original, batizado nos EUA, de Wildfire.

Em 1995, depois de alguns percalços econômicos, o barco ficou enguiçado em processo jurídico não muito claro. Durante este período, devido à falta de manutenção, o veleiro foi quase à pique, e todo o interior destruído por infiltrações.

Mais ou menos aí por 2003, um milionário japonês veio ao Brasil e sondou a possibilidade de compra, mas desistiu ao ver que o barco não tinha condições nem de ser rebocado.

Em 2004, um grupo brasileiro com bons fundos ao alcance decidiu bancar a reforma, pagando um valor quase simbólico pelo barco. Chegou-se à conclusão de que os mastros precisavam ser substituídos.

Foi decidido também mudar para uma armação mais prática, de forma a ser possível velejar com uma tripulação realista (antes eram necessários 10 homens muito fortes). Com o emprego de enroladores de vela, retranca "inboard", stoppers e outros acessórios, foi possível velejar em cruzeiro com apenas dois tripulantes mais o timoneiro.

A reforma foi feita na MCP Yachts, de Santos, que se empenhou enormemente no assunto, uma vez que são especialistas em trawlers onoff muito grandes. A MCP está fazendo um trabalho muito louvável de pesquisa, inclusive junto à associação internacional de proprietários de Herreshofs, e praticamante recriou o barco, em todos os detalhes possíveis, tanto de convés quanto de móveis no interior.

O interior segue o mesmo padrão estético do original, se bem que "rearranjado" para espaço e aproveitamento. Esta reforma foi feita no estaleiro Wilson Sons, também de Santos.

Foi preservado, a pedido dos proprietários, a ferragem original com o nome do barco gravado, muita coisa em bronze, moitões de madeira, etc.

Obviamente, dispõe de todas as amenidades modernas de navegação e de conforto, mesmo com o interior bastante apertado, como estes barcos clássicos costumam ser.

Infelizmente, todas as ferragens originais, inclusive catracas, foram destruídas em um incêndio, de forma que tudo precisou ser refeito.

A Nautec forneceu todo o convés, com exceção dos enroladores, que são hidráulicos, e das catracas que, para não destoarem do "ambiente", são de inox polido.

O novo nome do barco brinda o vulto do projeto de reforma: Atrevida.


O veleiro original

 

A foto noturna evidencia a beleza do conjunto madeira/cromo brilhante

 

Vista de popa

 

 

 

Subindo as velas

 


Fotos: Amilcar Rossi

Veja mais fotos, publicadas depois deste artigo

Atrevida, capa da Yachting Brasileiro de 1954

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1º Set 2005 Eduardo Secco Hofmeister Ferrugem Igaraçu
Parabéns, Amilcar, pela participação neste lindo projeto de reforma. Conheço o Atrevida somente por fora, sempre ficava atracado pelo lado de fora do Yacht Club de Santos. Sempre foi um orgulho para os brasileiros ter este barco na nossa flotiha, seria uma pena virar sucata ou ir para o Japão. Para quem não sabe, o Atrevida foi utilizado como navio patrulha pela marinha americana durante a 2ª guerra na costa americana. Utilizavam veleiros para não serem detectados pelos sonares dos submarinos, pois não tinham motores para fazer barulho.
Um abraço
Ferrugem

1º Set 2005 Fábio Phoenix
Belíssima matéria sobre uma obra de arte como este projeto. Também é notável saber que temos no Brasil competência humana e técnica para reconstituir com tanta qualidade o projeto. Parabéns aos proprietários, aos que refizeram o barco e ao site por divulgar.
Fábio/Phoenix

1º Set 2005 Luis Pureur
É realmente uma "Atrevida" reforma, seus idealizadores devem estar "vibrando", merecendo nossos elogios e a torcida para um dia, quem sabe, encontrá-lo navegando "roda a roda" com nosso barquinho. PARABÉNS!!!!!!!!
Luiz Pureur

02 Set 2005 Euchério Rodrigues Prana
Matéria espetacular! Ficava namorando-o ancorado aqui na Baía de Guanabara. Achava que ele havia ido embora do Brasil. Foi uma grata surpresa saber que está novinhoem folha.
Euchério/Prana

20 Jan 2008 Jorge Antonio da Rocha Coelho
Vocês não imaginam a minha emoção ao ver reportagem - Reforma atrevida, A reconstrução de um clássico- por Amilcar Rossi. Vejam porquê.

Sei que esta história não é de muita importância, para os outros, porque não tiveram as emoções que tive ao conhecer este lindo veleiro. Quando eu tinha entre nove e dez anos tive meu primeiro contato com a grandiosidade do Atrevida. Deu-se quando fui ao barco do meu pai, o MALAGÔ - um Classe Brasil por ele construído no ICB, Salvador/BA - que estava fundeado ao lado do Atrevida, no iate clube do Rio de Janeiro.

O Atrevida, ao olhá-lo mesmo sem os 1000 metros quadrados de velame içados, dava a impressão de velocidade de um carro esportivo de luxo.
Meu pai vinha todo ano participar da regata Santos/Rio e o barco ficava um bom tempo aqui, até ele poder levá-lo de volta. Então eu ia com meu avô para navegar pela baía de Guanabara.
Tantas vezes fui que o marinheiro do Atrevida, um português cujo nome era Albino uma vez me convidou para visitá-lo.

Lindo, por dentro e por fora. Ainda me lembro das salas, das suítes, da cozinha com um frigorífico que cabia um boi inteiro, da sala de rádio e da oficina com uma furadeira de coluna e um torno mecânico. Parece mentira? Mas para mim basta fechar os olhos e rever aquela emoção toda que tive.
Meu sonho na época era possuir um barco como o Atrevida, ou então o Endeavour. Coisas de criança.

Eis que no dia 11/11/1962 (meu aniversário de 11 anos) eu queria ir até o Malagô, e os barcos de apoio do ICRJ estavam ocupados. O Albino me ofereceu uma carona num pequeno bote, com um motor de popa Johnson 40hp, que estava sendo testado. Para encurtar, ele engatou a ré, afastou-se do cais da piscina do iate clube, engatou à frente e o motor morreu. Ele ligou o motor sem desengatar e o mesmo disparou, fazendo que nós dois caíssemos dentro d'água, ele por fora do círculo que o bote desgovernado fazia e eu do lado de dentro.

Resultado: a hélice (desculpe, mas não me acostumo a escrever o hélice) raspou em minha perna direita e levei 21 pontos no Hospital Miguel Couto.
É com grande prazer que eu venho rever minha antiga paixão, está muito bonito.
Espero que eu tenha oportunidade de vê-lo de perto novamente e, quem sabe, visitá-lo mais uma vez.
Jorge Coelho, um amante do mar e das belezas da vida.

25 Fev 2010 Sepé T. de los Santos
PREZADO DANILO

SEMPRE ENCONTRO NO POPA BONS MOMENTOS DE INFORMAÇÃO E ENTRETENIMENTO.
HOJE DE MANHÃ CÊDO, ANTES DO MERCADO PUBLICITÁRIO COMEÇAR A SE MEXER, FUÇANDO NO POPA, LI A BELA MATÉRIA SOBRE A RESTAURAÇÃO DO ATREVIDA.
ESTE BARCO POVOA MINHA MENTE DESDE OS ANOS 60, POR CONTA DE UMA MUSICA DO BILLY BLANCO CANTADA PELO CONJUNTO VOCAL OS CARIOCAS, MEUS IDOLOS HÁ 46 ANOS, NO AUGE DA BOSSA NOVA.
NOS 70, ENTÃO RESIDENTE NO RIO DE JANEIRO, TODA VEZ Q PASSAVA PELA ENSEADA DE BOTAFOGO RUMO AO CENTRO DA CIDADE, PILOTANDO MINHA FURIOSA SUZUKI TR 350, MINHA VISTA CONVERGIA PARA BE DENTRO DO CAPACETE, PARA TENTAR VER O ATREVIDA FUNDEADO DEFRONTE AO YCRJ.
O MAIS ENGRAÇADO É QUE EM JANEIRO ESTIVE NO RIO, LEVEI MEU FILHO PEDRO DE 7 ANOS PARA CONHECER O PÃO DE AÇUCAR, E LA DE CIMA NOTEI A AUSÊNCIA DO ATREVIDA.
HOJE LI A MATÉRIA, PESQUISEI NO GOOGLE, ENCONTREI A MUSICA ''DOMINGO AZUL'' DO BILLY BLANCO, E A ARTE DA CAPA DO LP ''A GRANDE BOSSA DOS CARIOCAS'' ONDE OS INTEGRANTES DO CONJUNTO VOCAL POSAM NO COCKPITT DO ATREVIDA, AINDA ORIGINAL, EM 1964.
A FOTO DA CAPA SEGUE EM ANEXO.
A MUSICA, PODE SER OUVIDA NO YOUTUBE. DESCREVE UM DOMINGO DE SOL NO YATE CLUBE DO RIO DE JANEIRO NOS ANOS 70, SÓ ALEGRIA.
PRA QUEM GOSTA DE BARCO E DE BOSSA NOVA, COMO EU, UM PRATO CHEISSIMO.
ABCS
SEPÉ