Indo às compras em Zimbros, de dingue
Cruzeiro inesquecível a Santa Catarina
Danilo Chagas Ribeiro
Enseada de Zimbros, Baía das Tijucas (extremidade oposta à de Ganchos). Uma pequena praia de pescadores, 15mn ao norte de Jurerê (Ilha de Sta Catarina). A Rosane começa a varrer com o binóculo as brechas sem prédios na praia, tentando descobrir a fachada de um mercado na rua atrás da beira-mar, e nada... Dez minutos depois, encontrou. Ali! Mercado não-sei-o-quê! O motor do Canibal é cortado. Meia volta, pára. Alguém na proa! Guincho funcionando. Tlec, tlec, tlec.... Só a corrente já ta bom, não precisa dar cabo. Ta! Unhou? Tá safo. Folga os cabos dos turcos (os postes na popa que suspendem o dingue, ou dinghy, ou bote inflável para desembarque). Que dê o trequinho de ligar o motor do dingue? Que??? O cabinho aquele de segurança do motor... Todos parecem crianças, fissurados pela atividade. Enfim, o nosso brinquedo é esse mesmo. Dingue na água. Ta levando dinheiro? Era sempre uma bagunça... Caminhamos uma quadra pra dentro e encontramos o mercado bem na nossa frente. Fechado. Dois meninos brincam à sombra de uma árvore frondosa, ao lado. A que horas abre o mercado? Depois do café. Ah ta... E onde fica a farmácia? É pra lá. Sim, é mesmo pra lá, como vimos depois, mas uma meia milha pra lá, num solaço daqueles. Não tinha o anti-inflamatório. O farmacêutico ofereceu um alternativo. Fazer o que àquelas alturas?... Lembrei daquela: si quéish, quéish, si não quéish, dish. Voltamos pelo asfalto quente. Paramos na padaria. As placas de ruas em Zimbros indicam o nome oficial, como Rua Rio Nilo, e embaixo, o popular, como Rua da Casa do Zé. É um barato! Chegamos de volta e o mercado ainda estava fechado. Às duas da tarde chega o vendedor da Brahma, de moto. Bi, bi, bi, biiii... Acabou com a sesta do cara. Logo a porta se abre. O mercado tinha tudo que queríamos. O cara que leva nossas compras de bicicleta pergunta: Pra onde, senhor? Ali na praia. Ele fica me olhando, trocando orelha.
Quando chegamos ao Canibalzinho, pedimos a ele que pusesse as sacolas na proa. Ele ficou ainda mais surpreso. Vai ver parecíamos alienígenos. Explico o caso pra ele. Deixa eu puxar o bote mais pra dentro d'água pra uma ondinha dessas não estour... Chuá... Ainda bem que está tudo bem ensacado. Depois de tentar fazer o motor pegar em várias puxadas sem sucesso, me pergunto que dê o treco aquele de ligar o motor. Navegamos devagar na volta, pra não fazer onda. Já atracados na nave-mãe, as sacolas vão sendo passadas uma a uma lá pra cima. Lá em baixo, banho de mar em volta do Canibal. E depois, de água doce, no chuveirinho da popa. Um cruzeiro de alguns dias em região desconhecida tem uma dinâmica muito diferente das velejadas de um dia perto de casa. A necessidade do uso constante de cartas de navegação, a logística de suprimentos na região visitada, o desconhecimento do comportamento detalhado dos ventos e a falta do nome de um mecânico conhecido na região trazem outra postura a quem navega em águas desconhecidas. |
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