A vela está em crise?
Danilo Chagas Ribeiro
22 Jul 2006 Afinal, a vela está em crise? Pouca visibilidade da vela Praticar ou assitir? O Comandante Ricardo Englert, na foto acima, é um velejador exemplar. É conhecido como o velejador mais assíduo no Rio Guaíba. Veja mais abaixo a mensagem emocionante do Comandante Carlos Font reportando a situação no Uruguai. Isso faz lembrar do programa "No Limite", em que eram apresentadas as atividades de um grupo de algumas pessoas para milhões assitirem passivamente. Mas é bom que se saiba que o COI (Comitê Olímpico Internacional) repassa para a vela 6 milhões de dólares. Como começar? Se velejar é tão bom, como é que... Esporte elitista A vela pode não ser um esporte legitimamente popular, mas daí a ser elitista, não. Conheço velejadores com condição econômica muito boa, realmente, mas conheço mais em condição remediada. Hormiga Negra comentou no seu livro de humor que quando alguém sabe que ele tem um barco, logo vai dizendo que deve ser uma tremenda farra, com aquele "iate" cheio de mulheres e de bebida... Na foto acima, o Comandante Ernesto Neugebauer jogando cartas com a filha. Sacrifício e investimento Ex-Comodoro da Associação Brasileira de Veleiros de Oceano-Sul, dentre vários outros cargos, e tendo velejado por todo o mundo, Vidal (foto ao lado) sabe bem da dedicação exigida pela vela. Não é um esporte ou lazer para resolver iniciar e já sair praticando sozinho como pode acontecer em outros esportes. É preciso instrução e prática, mas principalmente sacrifício e investimento. Segue a notícia que gerou o alvoroço, e as mensagens do Nelson Ilha e do Carlos Font. _____________________________________ Iatismo na corda bamba O número de adeptos do iatismo no mundo está diminuindo e a modalidade pode ser substituída por outra em futuros Jogos Olímpicos. Esse é o alerta do presidente da Federação Internacional de Vela (ISAF), Göran Petersson, que, na semana passada, enviou uma carta aos membros da entidade internacional relatando sua preocupação com o futuro do esporte. No documento, o sueco alerta ainda que se não for feito um trabalho para desenvolver o esporte, em dez anos toda uma geração de praticantes será perdida. A preocupação procede. Em junho, o Comitê Olímpico Internacional (COI) divulgou um relatório no qual revela que o iatismo foi o menos assistido pela TV durante as Olimpíadas de Atenas. Considerando o alto retorno financeiro da exposição na mídia durante os Jogos, o dado pode agravar a situação do esporte no cenário olímpico. Entre o amadorismo e o profissionalismo A decisão de Petersson de expor os problemas de forma tão direta foi corajosa e só aumenta a responsabilidade das entidades responsáveis pela modalidade nos países filiados. Presidente da Federação Brasileira de Vela e Motor (FBVM), Walcles Osório, endossa as palavras do presidente da ISAF: — É uma posição dramática. Sofremos com a concorrência dos esportes radicais, que estão crescendo muito e despertando o interesse do público. Além disso, ainda temos a barreira do material, que, na maioria das vezes, é importado. Osório acrescenta que, no Brasil, há apenas alguns poucos profissionais do esporte. Mas isso, garante, não é só um problema nacional: — A questão é definir o que a vela quer ser: profissional ou amadora. A federação francesa tem verba do governo de 10 milhões de euros por ano. É uma Lei Piva só para a vela na França. Até certo ponto é amadorismo porque, se vivem do governo, não é algo profissional. Já a vela na Inglaterra depende do bingo. Para os velejadores, o problema, pelo menos no Brasil, é a falta de investimento no esporte. Campeão olímpico com Torben Grael na classe Star, Marcelo Ferreira, por exemplo, não acredita que o momento seja tão crítico. — Eu já ouço há muito tempo que a vela vai sair da Olimpíada. Em todo esporte olímpico existe esse medo — comenta Ferreira, que não vê solução para a falta de interesse do público. — As regatas são no mar e não há muito que se possa fazer quanto a isso. Mas acho que no nosso país a vela está crescendo, sim. Precisamos é de leis de incentivo para que as empresas possam patrocinar o esporte. Para João Signorini, o Joca, que também integrou a equipe do Brasil 1, terceiro colocado na Regata Volta ao Mundo, encerrada em junho, o que falta é vontade para tornar o esporte mais atraente ao público: — Fala-se muito que a vela é um esporte de elite, mas já foi provado que é possível fazer algo diferente. Com o Brasil 1, por exemplo, pudemos mostrá-la para uma parte da população que não era atingida anteriormente. A regata foi transmitida ao vivo pela TV e as pessoas foram ver o barco de perto. Campeão mundial de J-24, Maurício Santa Cruz acredita que seria uma grande perda para os Jogos se o iatismo fosse cortado do programa olímpico. Ele defende que, apesar de parecer pouco atrativo por acontecer longe do público, o esporte tem evoluído ao longo do tempo: — A vela está se tornando cada vez mais radical, trazendo a emoção para mais perto do público. Isso já acontece no match race, no qual os barcos competem uns contra os outros. Lá fora, as principais competições do mundo já são assim. O heptacampeão mundial de Laser, Robert Scheidt, concorda e afirma que, com iniciativas como o match race e a medal race (regata disputada mais perto da terra, que reúne os velejadores mais bem colocados de cada classe), o iatismo tem conseguido mais visibilidade: — A vela é um dos poucos esportes que lida com a percepção da natureza, com o vento, as mudanças climáticas e a água. Acho que os Jogos Olímpicos sempre se preocuparam com essa interação e perderiam muito sem o esporte. Além disso, a vela é tradicional e, como esporte, daria um passo atrás se perdesse a condição olímpica. Independentemente do que irá acontecer, a iniciativa do presidente da ISAF é louvável pelo fato de gerar um debate. As soluções virão em um segundo momento. — A ISAF está pedindo a opinião de federações e de atletas para, depois, reunir todas as sugestões que receber. Agora, a situação é de estudo. Não é de definição — encerra o brasileiro Walcles Osório. _____________________ Nelson Ilha explica Caro Danilo, A noticia é nova, mas o fato é velho. Há pelo menos 16 anos, antes da olimpíada de Barcelona, já havia esta conversa de que a vela poderia sair dos jogos olímpicos. Os principais motivos são que: 1) Não possui poder de arena, ou seja, ninguém paga ingresso para assistir. Em função destes fatos muitas alterações foram sendo implantadas como: 1) Mudança dos percursos de triangulares com chegada em contravento para trapezoidais com chegada em popa (em fila). Por tudo isso acho oportuno que o novo presidente da ISAF, Göran Peterson, que esteve no Veleiros durante o mundial de Soling, tenha tido a coragem de tornar este fato público. Acho que somente assim poderemos buscar novas formas de modernizar nosso esporte. Todas as sugestões e experiências devem ser incentivadas. Neste sentido, no Veleiros do Sul estamos fazendo uma experiência que se der o resultado esperado pode revolucionar de alguma forma nosso esporte. Trata-se da Taça Comodoro de Match Race que acontecerá dias 29 e 30 de julho deste ano. Neste evento estaremos experimentando um novo formato com as seguintes características: 1) Numero elevado de participantes para Match Race Bons ventos Nelson Ilha ___________________________________ Com muito orgulho e atitude esportiva Caro amigo Danilo, A vela no Uruguay é pobre mesmo, porém os poucos que praticamos o esporte, seja na competição ou no lazer, amamos o que fazemos. O Memo Memulini (campeão em Ilhabela na semana passada) é um caso um pouco fora da série, mas tem uma explicação. Não conheço de perto a parte econômica do projeto, mais sei que o estaleiro fez questão de vender um barco para essa tripulação, baseada nos antecedentes esportivos dela. Ricardo Fabini, skipper do Memo, formou-se no Optimist, como quase todo o mundo no esporte da vela, e depois continuou no Snipe, onde foi várias vezes campeão Sulamericano e uma vez campeão Mundial Júnior. Acredite, quando eles saíram campeões mundiais de IMS, o pessoal da tipulação dormia num cruzeiro alugado, para não pagar hotel e estar perto do barco. Os tripulantes são amadores, conheço muitos deles. Os caras fazem um esforço importante para estar nas regatas. E também estão nas regatas do clube, todo fim de semana. Este ano foram com o barco de Fabini (um CP 30 já com alguns anos). Mas não são só eles. Estão também aqueles que nunca foram campeões. Alguns nunca ganharam sequer uma regata, porém todo fim de semana estão competindo ou simplesmente velejando. As escolas de vela funcionam bem, acredito que igual que aí em Porto Alegre. Imagine que a nossa, a escolinha do Yach Club Piriápolis (ainda não temos um ano de vida) têm 80 alunos, incluindo os alunos do Liceo de Piriápolis (Liceo é o Colégio de 2o. Grau) que assistem no horário de Educação Física voluntariamente. A Marinha têm um barco de 50 pés do ano 80, e não recebe verbas do governo para seu equipamento. Porém eles participam de todas as regatas com um jogo de velas de dacron, com muito orgulho e atitude esportiva. E uma vez ousaram correr a Buenos Aires-Rio e tiraram a Fita Azul.... É por isso que eu acredito que o iatismo não está na corda bamba. Provavelmente não esteja na mídia, mas essa não é a realidade. Em todo caso é uma realidade virtual, mas a verdadeira é quando estás a bordo, sentindo o ar na cara e ouvindo os sons do silêncio... É o que eu penso.
Um abraço
Carlos
________________________ Para quem quiser iniciar na vela, aí vão 2 telefones para ajudar a encontrar o barco certo:
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Se a deficiência física não impede um velejador de manter-se no rumo da vela, não será a "corda bamba" que irá impedir
Comandante Emílio Oppitz no comando de seu veleiro Adriana, em Tapes, RS
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