Navegando de Brasília a Porto Alegre
No braço e na coragem
Danilo Chagas Ribeiro

19 Dez 2005
Depois de navegar quase 6.000km, desde o Rio São Bartolomeu, em Brasília, durante 6 meses, o navegador André Issi chegou a Porto Alegre às 13h deste Domingo na companhia de velejadores que foram recepcioná-lo.

Sempre que comentei com amigos navegadores sobre a viagem do André, observei muita curiosidade e ceticismo. Era mesmo difícil de acreditar que a missão pudesse ser cumprida, tamanha a envergadura e as frágeis condições em que foi realizada. Isso realçou ainda mais o feito do navegador gaúcho.

Navegando pelos países do Mercosul
O remador aventureiro passou por muitas dificuldades na viagem. Sucuris enormes rondaram seu caiaque. Jacarés em volta era comum em alguns trechos. Enfrentou corredeiras, frio, calor, ventos fortes, correnteza, e até burocracia. André navegou também em águas do Paraguai, da Argentina e do Uruguai. É uma pessoa simples e tem facilidade para fazer amizades. Dormiu em barraca na maior parte do trecho, na barranca dos rios. Perdeu 8kg na viagem. A comida que mais utilizou foi massa pré-cozida, à qual refere-se como 'minojo'.
Dos quase 6.000km, apenas 650 não foram navegados. Neste trecho, André rebocou o caiaque de bicicleta, de Carmelo ao Arroio São Miguel, pelo Uruguai.

Remando a 6 nós
A grandeza do feito contrasta com a humildade de André Issi. André navegou no braço. Sem patrocínio, veio na cara e na coragem. Enfrentou cobras e lagartos, literalmente. Além do espírito aventureiro demonstrou ser um grande cruzeirista de longo curso.

Quando perguntei a André a quantos nós costumava navegar, respondeu: "Eu sou bugre. Em nós eu não sei, mas dá uns 2,5km/h". Na chegada, mantendo o veleiro Canibal navegando ao lado do caiaque, li 6 nós pelo GPS, ou seja, quase 12km/h. Quando informei isso, André comentou: "É... Mas isso é que nem cavalo voltando pra casa".

Prestígio
O delegado da Capitania dos Portos em Porto Alegre, Comandante Nelson (foto ao lado), prestigiou o feito do navegador que já serviu na Marinha como dentista, indo ao seu encontro a bordo do veleiro Canibal, do Comandante Andreas Bernauer (VDS). Encontramos André nas proximidades da Ponta do Arado, onde o cumprimentamos.

Navegava junto conosco uma embarcação do Veleiros do Sul, conduzindo fotógrafo da imprensa e amigos do navegador gaúcho. Com a pele muito queimada pelo sol e cansado, André não escondia a felicidade ao concluir sua missão de exatos 6 meses.

Clima de festa
Quando André contornou o farolete do Veleiros do Sul, teve uma surpresa: 3 baterias de 1.440 foguetes foram detonadas sob um estrondoso buzinaço do barco da comissão de regatas dentro dos molhes. Os altofalantes do clube informavam a chegada do navegador. O comodoro Manfred Flöricke, que comandou a recepção, foi até a rampa dar as boas-vindas a André Issi, ofereceu-lhe presentes com a logotipia do clube e convidou-o para almoçar.

Espírito cruzeirista
Uma jornalista do jornal Zero Hora entrevistou o navegador longamente. A mãe de André, Dona Irene, estava muito contente com a chegada do filho. Jorge Bertschinger, ex-comodoro do Veleiros do Sul, enalteceu o feito de André. Manfredo Flöricke, presidente da FEVERS, veio também cumprimentar André e presenteou-o com um boné da Federação de Vela.

O caiaque ficará sob a guarda do Veleiros. As crianças alunas da Equipe de Vela do Veleiros do Sul assistirão a palestra de André, enaltecendo-se o espírito cruzeirista.
O evento, aberto também a não associados do Veleiros, ocorrerá nesta terça-feira (20/12) às 20h, no ambiente Vento Sul (Veleiros do Sul). Entrada franca.

Parabéns ao navegador André Issi pelo memorável cruzeiro. Sua façanha ficará para a história da navegação de cruzeiros de longo curso do Rio Grande do Sul, do Brasil e da América Latina.

Parabéns também ao Comodoro Manfred Flöricke (foto acima) pela bonita recepção a André, que nem havia ainda estado no clube. A estrondosa acolhida a um navegador não associado ao Veleiros do Sul demonstra o quanto a navegação de cruzeiro significa para o clube.
Acima de tudo, prestigiamos o espírito cruzeirista.







Veja o vídeo com cenas da viagem e da recepção a André Issi no Veleiros do Sul

(arq WMV, 3min, 6MB, zipado, 256kbps - clique no link acima com a tecla direita do mouse e opte por Salvar Destino Como...)

 

 

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Artigo publicado hoje, 19/12/05, pelo jornal Zero Hora, de Porto Alegre (texto e gráfico)

Viagem

Aventura pelos rios do Mercosul
Dentista gaúcho fez roteiro pela América do Sul utilizando um caiaque
ANELISE ZANONI


Mãos calejadas, pele avermelhada, rosto escamado pelo excesso de exposição solar e 12 quilos a menos. O dentista gaúcho André dos Santos Issi carrega no corpo as marcas de uma aventura de seis meses a bordo de um caiaque pelos rios do Mercosul.

A maratona em que o objetivo era unicamente explorar a natureza terminou ontem, com um banho de chuveiro, chope gelado e um almoço no clube Veleiros do Sul, às margens do Guaíba. Ele percorreu 5,1 mil quilômetros sentado sobre a pequena embarcação de 5,2 metros de comprimento, além de 650 quilômetros de bicicleta.

Sem pensar nos caminhos a serem percorridos, André Issi colocou na bagagem - acomodada dentro do caiaque Maktub - 40 metros de corda, barraca, bússola, sete facas, remos de reserva, fogareiro, duas bermudas, duas camisetas, um abrigo para dormir, um par de chinelos, macarrão, granola, salame e chocolates e começou a aventura em 18 de junho pelo Distrito Federal, nas águas do Rio São Bartolomeu.

Em cada braço, o dentista levava uma faca, para se proteger do temido ataque das sucuris.

- O grande medo eram as cobras e as corredeiras. Cheguei próximo da morte na primeira semana - lembra o dentista.

Flutuando sobre as águas durante oito horas por dia, Issi desembarcava em terra firme, abria clareiras com uma faca e instalava a barraca.

O primeiro obstáculo foi encontrado no início da aventura. Sobre as corredeiras do São Bartolomeu, seu caiaque virou e rachou. Com o impacto, Issi bateu o queixo e teve paralisia nos braços, o que o impediu de navegar por dias.

Sem pensar em desistir, o dentista seguiu até a cidade argentina de Corrientes, onde contratou um transporte para levá-lo até Assunção, no Paraguai. Desceu até Buenos Aires, no Rio da Prata, e seguiu a Carmelo, no Uruguai, onde questões burocráticas o impediram de navegar.

- Fui obrigado a comprar uma bicicleta e montar um reboque para carregar o caiaque. Pedalei 650 quilômetros até o Chuí - afirma.

( anelise.zanoni@zerohora.com.br )

Saiba mais
Confira o diário de bordo do aventureiro no site www.popa.com.br

O Percurso

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Alguns diários de André Issi
Descida do Rio Paraná
Guaíra a Foz do Iguaçu
De Foz do Iguaçu a Puerto Rico, Arg
Pelo Uruguai, rebocando o caiaque
Do Chuí a Pelotas


20 Dez 2005
André Issi
Danilo,
Eu não tenho como te agradecer pela homenagem e pela paciência que tivestes com um cara que nem sabia dizer o que estava fazendo. São coisas muito maiores do que sequer eu podia imaginar e te peço que aceites o meu humilde "muito obrigado" e que considero a ti e ao Rodrigo como amigos. Vocês foram parte muito importante de toda essa loucura e quando eu me senti mais sozinho que nunca, vocês foram a força moral e amiga que não me deixou fazer besteira. Falo do rolo em Carmelo, tu bem sabes!
E uma das coisas mais bonitas foi ter conhecido vocês, justamente na chegada em Porto Alegre, para dividir as emoções da realização de um objetivo.
Aquela recepção pôs por água os meus planos de chegar sem "mariconadas", e algumas lágrimas rolaram pela pele ressecada do comandante do "pelotão farroupilha". Temos que retomar Laguna e anexar Floripa, por isto a batalha continua.
Aconteça o que acontecer, levarei este dia especial comigo, para o campo de batalha.
Obrigado, meu amigo!
André Issi

20 Dez 2005
Carlos Guilherme Grinas (CDJ)
Parabéns Tenente Issi, não só pela aventura em si,  mas também pelo talento literário e bom humor do diário de bordo que o  popa transcreveu. Os diálogos com o "pelotão" estão demais. Originalíssima a descrição da reclamação dos irmãos Glúteos, doloridos pelo esforço, imediatamente rechaçada  pelo "comando",  tachando-os de "bundas-moles".
O feito merece livro.
Carlos Guilherme Grinas (CDJ)

20 Dez 2005
Lucho Gamin - Ekipo Expedición, Tierra del Fuego
Te seguimos en toda la travesía fue simplemente espectacular! Gracias por dejarme remar con vos.....
Felicidades André!!
Lucho Gamin - Ekipo Expedición
Río Grande - Tierra del Fuego - Patagonia - Argentina

22 Dez 2005
Henri - Rio Grande, RS
Agradeço a todos do popa.com.br pela recepção dada ao André na chegada ao VDS. Foi merecido, é uma pessoa como existem poucas ainda com esse espírito aventureiro, realizando grandes feitos mas sempre simples e humilde, sem contar vantagens disso.Tive a grande sorte de conhecê-lo primeiro através do popa e depois pessoalmente,quando passou por Rio Grande onde impressionou a todos que souberam da suas viagens. Esperamos que tenha sempre sucesso nessa e nas próximas aventuras que estaremos acompanhando e torcendo pelo "Pelotão Farroupilha".
André e todo o pessoal do popa, valeu!!!!
Henri do "Talha-Mar", R.G.Y.C.