Informações de Dez 2003 (dados da Embratel confirmados em Out 2005)

O canal 16 do rádio VHF é constantemente monitorado por autoridades e clubes náuticos no mundo todo.
O que é Rádio VHF? É o equipamento de rádio para comunicação por voz, que equipa a grande maioria dos barcos cabinados, e alguns menores.

O Sistema Móvel Marítimo é um serviço da Embratel. Através de uma rede de Estações Costeiras, as operadoras podem chamar uma embarcação pelo canal 16 do VHF.
As Estações Costeiras do Sistema Móvel Marítimo também estão na escuta do canal 16 nas 24h do dia, com o objetivo de estabelecer a comunicação entre uma embarcação e um telefone em qualquer lugar do mundo.

Em locais ermos onde não há acesso da telefonia celular, o Sistema Móvel Marítimo é o único meio de comunicação possível com alguém embarcado.
Sim, existe ainda o Sistema de Telefonia Celular por Satélite, e também rádios SSB que têm um alcance bem maior do que os rádios VHF, mas são opções pouco comuns nas embarcações de recreio.

Os rádios VHF equipam os veleiros "oceano" e lanchas com cabine. Seu alcance é muito variável (altura antena, propagação, etc, etc), e indicar uma "média" é algo sujeito a muitas críticas. Alguém poderia dizer que o rádio "alcança" de 10 a 20km.

Procedimento para contatar uma embarcação
Para solicitar contato com uma embarcação, ligue de qualquer lugar do Brasil para 0800-701-2141, indicando o nome da embarcação e a região onde ela se encontra (p. ex. , veleiro "Fiapo" na Lagoa dos Patos).

A operadora do Sistema Móvel Marítimo pede o número do seu telefone e a ligação é desfeita. A partir daí, passam a chamar a embarcação através de uma ou mais estações costeiras que tenham alcance na região onde está o barco. Ainda no exemplo acima, seria algo como: "Veleiro Fiapo, veleiro Fiapo, escuta Porto Alegre Rádio?". Assim que o contato for estabelecido, ligarão de volta para Você, estabelecendo a conexão entre o rádio e seu telefone.

Dicas para falar
Somente uma pessoa pode falar de cada vez, isto é, ao contrário da ligação telefônica comum em que V. pode interromper a outra pessoa, no rádio isso não funciona assim. Espere a pessoa terminar de falar para só então dizer o que precisa. Costuma-se dizer "câmbio" para indicar à outra pessoa que ela pode falar. Na falta de indicação para a outra pessoa falar, quem comanda isso é a embarcação: ao pressionar-se o botão do rádio para falar, deixa-se de escutar.

Saiba também que a conversação será ouvida por todos que estiverem atentos ao chamado da embarcação pelo SMMarítimo. Há muita gente curiosa que vai ficar na coruja durante o contato.

Validade do pedido
O pedido vale por setenta e duas horas, e, ao final deste período, se não houver sido feito o contato, o SMMarítimo liga a Você e pergunta se deseja estender a chamada por igual período.

Cu$to
Este serviço tem um custo de R$5,96 por minuto, para um mínimo de três minutos. Ou seja, se atender já paga três minutos (R$17,88), e mais o valor de minuto por minuto adicional. Valores para chamadas no mesmo estado.

Não se afobe
Aí vai uma dica aos familiares dos navegadores que não dão notícias: em caso de Você pedir uma ligação e não receber resposta em alguns minutos, não se afobe. Não fique esperando que a resposta venha logo em seguida. Pode levar horas. E pode nunca chegar. Enquanto você roe as unhas em casa, na maior preocupação, a tripulação poderá estar assando uma picanha tranquilamente a 20m do barco atracado em local seguro, e não escutam o rádio.

Lembre-se de que uma dúzia de coisas pode estar acontecendo:

1. Poderá haver acúmulo de tarefas no Sistema Móvel Marítimo, atrasando a chamada ao barco. Soube de espera de horas.
2. O rádio do barco poderá estar desligado por esquecimento. É muito comum.
3. O rádio pode não ter alcance na região em que se encontra (escuta-se o SMMarítimo a bordo, mas ele não escuta o barco)
4. O rádio poderá estar sintonizado em outro canal (falando com alguém, ou por esquecimento após ter falado com alguém).
5.  O rádio poderá estar ligado e sintonizado no canal 16, mas não se escuta do cockpit da embarcação porque o volume está baixo, ou porque tem muito vento lá fora.
6. Escuta-se o chamado mas não é possível atender, dada a faina intensa a bordo naquele momento.
7. É comum o rádio ser desligado quando se vai dormir. E quando alguém vai se lembrar de ligar de novo?
8. Há embarcações em que o rádio só é ligado quando o comandante precisa falar com alguém.
9. A tripulação pode estar banhando-se ou desembarcada.
10. O rádio pode estar com defeito.
11. A bateria do barco poderá estar descarregada.
12. Há tanto tráfego no canal 16 em certos momentos, que a tripulação nem presta mais atenção ao que ouve. Além do tráfego normal, há quem ponha música no canal ou tem crianças falando besteira.

Alternativas
Outra alternativa para estabelecer comunicação com uma embarcação é o contato com os clubes náuticos na região onde encontra-se a embarcação. Você liga para um clube e pede ao operador (ou ao guarda, à noite) que chame o barco pelo rádio.

Aí vão os telefones de clubes no Rio Grande do Sul que poderão monitorar o canal 16 e que, por gentileza, poderão chamar uma embarcação pelo rádio. Veja também outros telefones que poderão ser úteis caso V. precise de auxílio (tenha a lista a bordo).

Se Você não é do ramo náutico e sente-se muito preocupado(a) porque não consegue falar com alguém embarcado, procure falar com algum navegador amigo da pessoa embarcada. Se não conseguir, fale com o clube, ou com o marinheiro dele. Certamente terão melhores condições de julgar o que poderá estar ocorrendo. E lembre-se ainda: é raríssimo ocorrer naufrágios com embarcações de recreio. A gente passa uns mau bocados de vez em quando, mas isso faz parte do kit do navegador.

Chamando do barco para casa
Para fazer uma conexão do barco para um telefone, sintonize no canal 16, selecione a potência (talvez a máxima) do rádio, regule o volume e o squelch (gire o botão até ouvir o ruído de estática (chiado), e em seguida gire de volta lentamente até que o ruído torne-se inaudível), pressione a tecla do microfone e chame a estação costeira da região. P. ex.: "Porto Alegre Rádio, Porto Alegre Rádio. Veleiro Fiapo chamando". Solte a tecla do microfone e aguarde por uns 15 segundos. Repita o chamado, se necessário. Se o barco estiver perto de morros ou matos, é possível que o sinal de rádio fique prejudicado. Navegue até um local com menos obstruções e tente novamente.
Em caso de não ser escutado pela estação costeira desejada, tente outras estações na região. Se não souber o nome de outra estação, indague no canal 16 se alguma estação costeira o escuta. Você pode ainda chamar embarcações na região em que V. se encontra e pedir para fazerem "uma ponte" entre a estação costeira desejada e você. Isso já me aconteceu nos brejos da Lagoa do Casamento: a costeira não me escutava. Um velejador (Gadret, do Janga) navegando na mesma lagoa que eu, mas mais próximo da civilização, repetia pra costeira o que eu dizia, e repetia pra mim o que ouvia da costeira. Perfeito!

A ligação de barco para um telefone fixo é "a cobrar". Para que o dono do barco pague a ligação é necessário cadastramento prévio na Embratel (preenchimento de formulário, etc).

Dica de radio-amador: É comum as pessoas falarem contra o microfone, isto é, como se vê os cantores fazendo. Isso provoca um ruído chato na comunicação do VHF, como se estivéssemos soprando no microfone. Mantenha o microfone bem próximo à boca, mas de lado, de forma que o sopro de sua voz não atinja o microfone. Que o sopro passe na frente dele, mas não o atinja. Isso faz uma grande diferença na qualidade do áudio de quem o escuta.

Usando o celular
Em certas regiões o celular pode não funcionar por falta de sinal. Em uma ocasião, fundeado e sem condições de manobra na Lagoa dos Patos, bastou subir ao fly bridge da lancha para que o sinal, mesmo ruim, viabilizasse a comunicação. Velejadores têm a opção de subir no mastro.
Outra opção é dispor de uma antena externa para celular. A maioria dos celulares tem uma tomada para antena externa. Fixe a antena no local mais alto possível. Navegando na Lagoa Mirim em 2003, o sinal com antena externa ficou 3X mais intenso. Com a embarcação o mais imóvel possível evita-se fugas de sinal.

Pombo-correio
Se V. está aguardando que a estação costeira faça tocar seu telefone e bote seu marido na linha, saiba como era a comunicação nos idos de 1945.

Leopoldo Geyer, fundador do Veleiros do Sul, do Clube dos Jangadeiros e do Iate Clube Guaíba também precisava comunicar-se. Queria mandar notícias pra casa. Mas nos idos de 1945 não havia essa de VHF nos barcos. Assim sendo, os navegadores levavam pombos-correio a bordo. Imagine o espaço que ocupavam. Imagine também a sujeira e o cheiro a bordo. E tinham que alimentar e cuidar dos pombos...

Há um diário de bordo no popa, talvez o melhor de todos, publicado pelo Cmte Carlos Manotaço Gonçalves (Barba Negra/VDS) que se deu o trabalho de redigitar a publicação da revista Yacht Brasileiro.
Em Esquadrinhando a Lagoa dos Patos, Leopoldo Geyer escreveu, dentre outras memórias:

... "Às 8.15 ancoramos na Barba Negra, para soltar o primeiro pombo correio, que levaria notícias da primeira etapa às nossas famílias"...

..."Às 7 horas soltamos o 4º pombo, que após pequena revoada, pousou em terra, na praia. Soubemos que êsse pombo chegou sem a mensagem; provavelmente fôra retirada pelos pescadores que se encontravam nas proximidades."...

..."O mais triste de tudo foi a perda de dois pombos correio, que sucumbiram dentro do cêsto que também deu à costa. A êsses fiéis mensageiros..."

... "De manhã, fomos a terra para prepararmos a mensagem que o último pombo levaria, tranquilizando as nossas famílias, que deveriam estar apreensivas"...

"...pusemos a mensagem e soltamos o pombo, que fêz revoadas sôbre os barcos, acabando por posar no “Nirvana”, junto ao Dr. Breno, que estava no leme. Aí permaneceu por espaço de 2 horas, comendo e bebendo e, somente quando avistou terra, pulou para cima da cabine. Bem de fronte de Tapes, levantou vôo e rumou para Pôrto Alegre." ...

Saiba mais, e veja fotos e ilustrações em Esquadrinhando a Lagoa dos Patos.
Nos comentários finais do Manotaço, saiba das "galinhas não negociadas" e da "teoria do refugo".