Uma
bóia cega encarnada com listas negras foi implantada pela SPH
nas pedras da Piava no final do mês de junho de 2005.
Gesto pioneiro
Para quem passa por ali pode parecer apenas mais uma bóia
no Rio Guaíba. Na verdade, essa bóia representa muito.
Além do perigo
que sinaliza, trata-se da primeira vez, que se tenha notícia,
que um órgão público do RGS sinalizou um perigo
isolado de interesse da navegação de recreio, mais especificamente
de veleiros de oceano.
A bóia sinaliza, acima de
tudo, o empenho do governo a uma atividade que há décadas
tem trazido prestígio ao Rio Grande do Sul, celeiro de campeões
do esporte à vela, incluindo campeões mundiais.
Fabricando correntes
A Superintendência de Portos e Hidrovias do RGS empenhou-se
em sinalizar as Piavas mesmo com escassês de recursos. É
habitual ouvir-se falar mal do poder público, mas aí está
um exemplo do que é capaz, mesmo na estiagem de recursos. A SPH
(Superintendência de Portos e Hidrovias do RGS) tem verbas insuficientes
para as obras. Estão sem correntes para as bóias, por
exemplo. Em vez de cruzarem os braços, construíram as
"correntes" com pedaços de ferro articulados (veja
na foto).
Boa
vontade e entusiasmo
Encontrar um ecobatímetro digital com ecograma, DGPS, software
de US$10.000 e notebooks em órgão público não
é trivial. A autarquia conseguiu operacionalizar tudo isso na
administração do Engº Superintendente Daniel Lena
Souto. Sinto-me muito à vontade para enaltecer a atuação
deste administrador público. Eu fui lá há alguns
anos para solicitar providências para o meio náutico. Não
podíamos contratar o órgão para desobstruir o rio
daqueles obstáculos à navegação de recreio,
tão esquecida pelos governos anteriores. Eu apenas pedi.
O pleito foi atendido prontamente graças ao entusiasmo e boa
vontade do Engº Lena Souto que, indo além das suas obrigações,
cedeu-nos equipamento pesado e pessoal técnico para a realização
do Projeto Guaíba Livre.
Tecnologia de ponta e conhecimento
multidisciplinar
Operar a parafernália tecnológica da SPH não é
algo exatamente simples. Requer domínio de informática
para rodar software muito específico, daqueles que a gente não
tem para quem perguntar a não ser para a softwarehouse, em inglês.
Requer ainda knowhow em engenharia hidrográfica, especificamente
sondagem e dragagem. Demanda ainda na operação de equipamento
de alta precisão, como o DGPS, que conta com um satélite
extra fora do sistema GPS, bem como a disposição para
estar embarcado rodeado apenas por operários durante vários
dias. Além disso, espera-se que o cara saiba navegar.
À frente de toda essa encrenca
está o Engº Hermes Vargas dos Santos, chefe da Divisão
de Estudos e Projetos, que empenhou-se pessoalmente na realização
da missão de sondar, providenciar a bóia, e sinalizar
as Piavas.
Bóia
da Piava
S30º06,0420' W051º16,2480'
(WGS-84)
Observar distância mínima de 80 metros
A
bóia, em formato cilíndrico bi-cônico, tem
1m de altura e está ligada por uma corrente de 3,7m a
uma poita de 600kg, posicionada entre os dois picos das Piavas.
A pedra mais alta está a jusante. O raio de giro da bóia
é de aproximadamente 5m.
As Piavas têm 140m de extensão.
Coordenadas submétricas: S30º06'02",5200
W051º16'14",9034, Datum WGS-84.
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Curiosidades técnicas
Além de receber dados do Sistema GPS, o DGPS acessa também
um satélite da Omnistar viabilizando a precisão submétrica
do sistema (a precisão de um GPS comum é 6 metros). Ele
e o ecobatímetro digital vão ligados a um notebook a bordo.
O Hypack, um programa de 10 mil dólares, processa as leituras
do eco e do DGPS fornecendo plantas precisas da região. É
o mesmo programa utilizado pelo Corps, o órgão do exército
dos EUA conhecido como quadro de elite técnica da engenharia
hidrográfica a nível internacional. Tudo isso vai embarcado
em um barco inflável com motor de popa, ou bote hidrográfico,
como é conhecido o conjunto, apoiado por embarcações
maiores.
A navegação
de recreio do RGS está muito contente e grata pelas providências
da SPH. A pequena bóia implantada nas Pedras da Piava tem grande
significado.
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Artigos associados a este:
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Pedras
do Guaíba
Encalhando
nas Pedras. Ou, rasgando o balão na chuva.
Imagens: SPH/divulgação
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