O ciclone "Catarina" Uma embarcação com 6 tripulantes naufragou no Farol de Santa Marta, em Laguna, SC, e outra em Itajaí, no sábado, 27 de março de 2004. Muitos prédios foram devastados no litoral sul de S. Catarina e litoral norte gaúcho pela ação do ciclone Catarina. Ventos de 150km/h e ondas de 5 metros deixaram Torres, no litoral gaúcho, em estado de emergência. Vinte mil residências foram destruídas nas cidades litorâneas da Região Sul. A BR-101 ficou interditada. Felizmente nós brasileiros não entendemos muito de ciclones, já que não são freqüentes por aqui. Mas se temos um Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), um Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) em cuja estrutura está o CPTEC (Centro de Previsão do Tempo e Estudos Climáticos), esse pessoal deveria saber enxergar um ciclone. E tudo indica, foi um furacão. Veja mais logo abaixo em Furacões no Hemisfério Sul. Consultando o site da NOAA (National Oceanic and Atmospheric Administration), a autoridade norte-americana para monitoramento de ciclones, deduz-se que o Catarina foi um Furacão de Categoria 1. No entanto, o CPTEC (Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos) diz que o Catarina foi um ciclone porque, dentre outras diferenças, a temperatura do olho era fria (o olho do furacão é quente). O Catarina foi um ciclone extratropical. Para os americanos foi um furacão, mesmo!
Aí vem o Catarina! Informações obtidas no site da NOAA (Hurricane Basics): Ciclone (cyclone) é o termo geral para tempestades tropicais. Furacão é um tipo de ciclone tropical, termo genérico para sistemas de baixa pressão, geralmente formado nos trópicos. O ciclone vem acompanhado de tempestades e ventos circulando no sentido anti-horário no hemisfério norte, e horário no sul* (mais sobre o Efeito Coriólis: água girando no vaso sanitário e sentido de rotação dos ventos). Tornados são geralmente formados a partir de furacões e podem atingir quase 300km/h com terrível poder de destruição. A escala Saffir-Simpson classifica os furacões assim:
No Domingo, dia 28, pela manhã ainda havia vento de 35 nós em Torres. A Previsão da Marinha para a região Alfa era de Força 7. A operadora da Embratel deve ter ficado afônica depois de tanto ler a previsão no canal 16 do VHF: durante a tarde de sábado, a pobre repetia a todo o momento. No Guaíba, no entanto, o vento não passou de 12 nós no sábado, diminuindo bastante à noite. Estava um dia sensacional para velejar. Gentilmente enviado por José Geib A freqüência da ocorrência de ciclones vem aumentando no planeta. Veja animação das imagens de satélite do Catarina
Gentilmente enviado pela Cris MykeXX __________ Furacões no Hemisfério Sul
Pior do que isso, às 22h do sábado, 27/3, uma hora antes do bicho comer, uma repórter do mesmo jornal soube do Chefe de Operações do CPTEC, Marcelo Seluchi que: "Este ciclone nunca foi muito intenso, mas poderá haver rajadas de 20km/h. Neste momento ele está bem próximo à costa, e não deve provocar muito estrago, pois está perdendo bastante força". Na Segunda-feira, 29/3, o mesmo Seluchi alegou que "O Catarina se intensificou ao atingir a costa, nos surpreendendo. Não tínhamos elementos para avaliar o fenômeno". Pelo jeito, não têm vergonha também! Piscina sumida O Catarina não foi o primeiro
Furacões no Hemisfério Norte Veja as imagens de satélite e do poder de furacões ocorridos no hemisfério norte:
Mensagens recebidas Paulo Korff (Veleiro Vida Mansa - Jangadeiros) Geraldo Knippling (Veleiro Magana/Veleiros do Sul) Geraldo Dalascio José Geib (Veleiro Reflexo/ICG) Raquel Silva Lima (LETS - Laboratório de Estudo de Tempestades Severas/Departamento de Ciências Atmosféricas - USP/IAG/ACA Universidade de São Paulo). Popa Raquel Silva Lima Ronaldo Coutinho do Prado EU MESMO, RONALDO COUTINHO DO PRADO/CLIMATERRA, FIZ UM ALERTA BEM REALÍSTICO NA CBN/FPOLIS NA SEXTA DIA 27, O QUAL FOI REPASSADO NA GAÚCHA NO SÁBADO E COM TOM EXTREMAMENTE IRÔNICO, COMENTADO PELO OSÍRES E O CLÉO, ATÉ ME CHAMARAM DE ORSON WELS (É ASSIM QUE ESCREVE??), NO DOMINGO, FICOU SE EXPLICANDO E LEVOU UM GANCHO DE 2 DIAS..... SE APARECESSE EM TORRES SERIA LINCHADO!!! CONTINUEM ASSIM ABRAÇÃO RONALDO COUTINHO DO PRADO/CLIMATERRA/SC/SÃO JOAQUIM. PS: NÃO ESTOU GRITANDO, PREFIRO ESCREVER TUDO EM MAIÚSCULA, MAIS FÁCIL. Climaterra: A Climaterra é formada por uma equipe de meteorologistas e engenheiros agrônomos, contando ainda no Rio Grande do Sul com a parceria da Rede de Estações de Climatologia Urbana de São Leopoldo, mas você Ronaldo solidificou-se como o rosto da Climaterra e como o weatherman (o homem do tempo) no estado catarinense. Saiba mais aqui. Clóvis Corrêa (Meteorologista e velejador) Prezados Senhores Eugenio Hackbart (Meteorologista, Coordenador da Rede de Estações de Climatologia Urbana de São Leopoldo) Prezados Amigos do Site Popa.com.br Historicamente, nós da Rede de Estações de Climatologia Urbana de São Leopoldo tivemos laços estreitos com a comunidade velejadora gaúcha, realizando palestras nos clubes Veleiros do Sul e Jangadeiros, emitindo boletins para estas instituições e comentando na Rádio Guaíba todas as sexta-feiras sobre as possíveis condições de navegação no Lago Guaíba e Lagoa dos Patos no final de semana. O furacão Catarina, sem dúvida, foi o maior desafio da Meteorologia brasileira. Afinal, rasgava-se a teoria constante de todos os livros até hoje escritos de que não era possível a formação de um furacão no Atlântico Sul. Alguns institutos e empresas privadas de Meteorologia do centro do país tiveram uma atuação calamitosa no episódio, entretanto os centros regionais conseguiram informar a população com antecedência a população sobre o desastre que se aproximava. Como confirmou o próprio Jack Beven aos jornalistas de Zero Hora em reportagem semanas após o Catarina, a Meteorologia dos Estados Unidos (NHC/CNOAA), oficialmente, NÃO emitiu nenhum alerta de furacão para o Brasil. A OMM (Organização Meteorológica Mundial) possui centros previamente encarregados para a elaboração de alertas e avisos de furacão e ciclones tropicais para as suas regiões, mas o Atlântico Sul não dispunha de um centro previamente escolhido. É enganoso portanto acreditar, como fez a imprensa crer, que os norte-americanos alertaram e os brasileiros não. Três institutos brasileiros avisaram sobre o perigo. Na reunião de trabalho da manhã de sexta-feira (26/03/2004) da Climatologia Urbana de São Leopoldo identificou-se que o fenômeno em alto mar era por demais anormal, que suas características eram muito similares a de um furacão e que sua trajetória o levava diretamente para o continente. No começo da tarde da sexta-feira, a Climatologia recebia um boletim dos Estados Unidos informando que era elevado o risco de chuva forte e que o ciclone em alto mar poderia atingir a costa entre 27 e 30 graus de latitude sul (entre Florianópolis e Porto Alegre). Mesmo não mencionando a palavra furacão, o boletim emitido pelo órgão de Meteorologia dos Estados Unidos reforçou a idéia da nossa equipe que poderia se tratar sim de um furacão. Foi assim que às duas e meia da tarde de sexta-feira, cerca de 30 horas antes do Catarina tocar terra, que a Climatologia de São Leopoldo telefonou para o Centro Nacional de Furacões dos Estados Unidos (NHC/NOAA). Conversou nada mais nada menos do que com o expert Jack Beven, um dos maiores especialistas do mundo e que é sempre entrevistado pela mídia brasileira, por ser o especialista norte-americano que está estudando o fenômeno. Infomado por Beven de que se trataria possivelmente do primeiro furacão do Atlântico Sul, o nosso pessoal imediatamente entrou em contato com a Defesa Civil do Estado e com todos os chefes de redação e diretores de jornalismo dos órgãos de imprensa de Porto Alegre e região metropolitana ao quais estamos vinculados para discutir a melhor forma de levar ao conhecimento público a gravidade da situação, sem provocar pânico ou caos. Igualmente entramos em contato com o engenheiro agrônomo Ronaldo Coutinho do Prado, da empresa Climaterra de São Joaquim (responsável pela previsão do tempo em veículos da RBS em Santa Catarina como a RBSTV Criciúma e Rádio CBN Diário), dando ciência da informação que acabaramos de receber. Informado por nós dos dados que tivemos ao entrar em contato com o NHC na Flórida, Coutinho também confirmou suas suspeitas de um furacão e ato contínuo acionou as autoridades, acionando todas as emissoras de rádio no leste catarinense para dizer que um furacão poderia atingir o estado naquele fim de semana. Julgando ser algo secundário pensar em concorrência àquela hora, entramos em contato também com a Central de Meteorologia da RBS para repassar as informações que tínhamos acabado de receber em nossa conversação telefônica com o Centro Nacional de Furacões em Miamo nos Estados Unidos. A análise sobre o aproveitamento dado por eles ao que repassamos não cabe a nós, contudo. Às 17:56 da tarde de sexta (26/03/2004), portanto 36 horas do landfall do Catarina, postávamos o primeiro aviso de tempo severo no Site da Defesa Civil do Estado do Rio Grande do Sul (www.defesacivils.rs.gov.br), como prefacial do nosso boletim diário de monitoramento da estiagem, dando início ao asessoramento para o Governo do Estado do Rio Grande do Sul que perdurou ao longo de todo o episódio: "Um sistema de baixa pressão com características de ciclone tropical, o que torna difícil a sua classifcação enquanto fenômeno, está atuando na costa do sul do Brasil. Trata-se de um sistema com características incomuns e que merece monitoramento constante nas próximas 48 horas. Os modelos indicam e as imagens de satélite confirmam que o centro de instabilidade move-se para oeste, quando o normal seria o sistema afastar-se do continente numa trajetória leste. Além disso, o ciclone possui o seu núcleo extremamente bem definido, o que também é incomum nesta área do planeta. Não bastasse, o sistema originou-se de uma baixa pressão sobre águas quentes em latitudes médias próximas aos trópicos, o que também não é um padrão que se observe comumente na costa atlântica da América do Sul. Os dados controvertem muito a respeito da evolução deste sistema nas próximas 24 a 48 horas, mas alguns institutos internacionais como o norte-americano NOAA sugerem a possibilidade de vento forte e chuva torrencial atingirem o litoral da região sul do Brasil, projetando que a baixa pressão alcance a costa entre as latitudes de 27 e 30 graus sul em algum momento entre nove da noite de hoje e nove da noite de amanhã, sábado. O NOAA igualmente adverte para o risco de ressaca costeira e mar agitado, de forma que a Rede de Estações de Climatologia Urbana de São Leopoldo recomenda evitar-se a navegação nas próximas 72 horas junto ao litoral do sul do Brasil. A Rede de Estações de Climatologia Urbana de São Leopoldo estará operando em caráter especial nas próximas 48 horas, funcionando 24 horas por dia, para monitorar as condições meteorológicas". (Aviso Constante do Site da Defesa Civil ainda na sexta-feira - 26 de março) Enquanto os dois maiores institutos do país silenciavam sobre as possíveis graves consequências do fenômeno e as grandes redes nacionais desdenhavam do ciclone a ponto de dizer que seria um "furaquinho" ideal para "pegar onda", baseando-se em informações das fontes oficiais e de empresas de meteorologia com sede em São Paulo, já estávamos operando full-time (24 horas por dia) - no mais estressante ritmo em 20 anos de história da instituição - com a emissão a todo momento de boletins de alerta e monitoramento no site da Defesa Civil (www.defesacivil.rs.gov.br), transmissão constante de boletins em rádios locais e contato permanente com as autoridades municipais e estaduais. No meio da madrugada, às três da manhã de sábado, 21 horas antes do Catarina tocar terra e enquanto sequer havia plantão na sede dos institutos oficiais, informávamos ao Comandante Estadual da Defesa Civil por telefone os últimos dados, ratificando a gravidade da situação. No começo da manhã de sábado, com a melhor definição do quadro, intensificamos as tarefas de advertência. Dentro dos moldes de comunicação usado pelo National Hurricane Center dos Estados Unidos, na manhã de sábado iniciamos um trabalho incessante de divulgação de boletins públicos de alerta que resultaram na emissão de OITO alertas seguidos em apenas 24 horas, algo inédito até então em duas décadas de Climatologia Urbana. Os boletins da Climatologia Urbana foram os únicos na Meteorologia brasileira a adotar a mesma padronização usada pelos norte-americanos quando da divulgação de alertas e avisos de furacão: classificação do fenômeno, posicionamento do olho do furacão, trajetória de deslocamento inclusive com coordenadas geográficas, ventos estimados por satélite, links para alertas de navegação e imagens de satélite disponíveis na internet, aviso de chuva torrencial e de ventos fortes, possibilidade de inundações e de bloqueio da BR 101, aviso de mar grosso, elevação da maré (storm surge) e ressaca, explicações sobre a natureza e a atipicidade do fenômeno, etc. Impossível deixar de mencionar que enquanto a passividade tomava conta de parte da meteorologia brasileira e das autoridades nacionais - conforme a Folha de São Paulo, a Defesa Civil Nacional fez folga naquele fim de semana -, não apenas nós mas também as equipes da Climaterra (São Joaquim) e Climerh (Florianópolis) realizavam um trabalho permanente de orientação para o público e autoridades locais, expressando toda a gravidade do fenômeno. Infelizmente a esmagadora maioria do público foi levada a acreditar que os brasileiros foram pouco profissionais e que apenas os norte-americanos foram competentes no episódio. Mas houve quem conseguesse compreender que alguns poucos institutos sobreviveram ao desastre do Catarina. Os trechos a seguir foram retirados de blogs (diários pessoais online) da internet de pessoas sem nenhuma vinculação com Meteorologia: 29.03.04 Me surpreende esse povo levar a sério o metereologista fala. Afinal tá todo mundo cansado de saber que, por exemplo, se o (nome excluído por nós) diz que vai fazer sol você deve sair de casa com um guarda-chuva debaixo do braço. Se tem um meteorologista que merece ser levado a sério esse é o Eugênio Hackbart. O resto é bobagem. (Blog de um gaúcho em http://www.charles.pilger.com.br/ - charles@pilger.com.br) === Segunda-feira, Março 29, 2004 Negócio é o seguinte Desculpem pelos posts deste fim de semana, é que a parada tava sinistra. Bem o que quero falar é algo que ainda vão vi,nem li, muito menos ouvi em nenhum lugar. Estrava todo mundo muito preocupado pois Tubarão era uma alvo potencial do Catarina, já que ele "entraria" no estado por Imbituba e chegaria contudo em Tubarão. O fato que ele entrou no Balneário Rincão, alguns quilomentors de Tubarão. Mais como não sabiamos disso o único meio para se saber do Catarina era a internet e o rádio, já que a TV só no canal do tempo mesmo. As nove horas da noite TODAS as rádios locais entraram como uma programação dizendo que o Catarina iria SER o que foi, que era para todo mundo se preparar pois a parada ia ser sinistra como foi. Tudo isso deve-se ao CLIMERH institudo do estado que faz previsões climatológicas, que junto com um instituto de Novo Hamburgo (nota: na realidade a Climatologia de São Leopoldo) afirma que Catarina ia ser um "Demônio". Já nosso INPE querido afirmava que iria ser uma brisa marítima e que todos poderiam correr pela beira da praia para conseguir nos refrescar. O governo Lula acreditando nos dados do INPE fez pouca coisa. Como já conhecemos a fama do CLIMERH a população seguiu estas indicações ... quem seguiu o INPE (alguns pescadores) desapareceram ... (Blog de um catarinense em http://www.minhavidaintubacity.blogger.com.br/) ==== Vergonha Para mim é esta a palavra que se aplica à cobertura dada pelos meios de comunicação brasileiros ao furacão que atingiu a costa de Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Primeiro, parecia que nada estava acontecendo. Depois, tudo que se ouvia tinha um tom de "não devemos nos preocupar, isso não é nada". Só depois de algumas mortes, naufrágios e milhares de famílias desabrigadas é que a imprensa pareceu sentir a necessidade de retratar o tamanho do estrago. Já ouvi desculpas das mais furadas, desde a suposta inexatidão da meteorologia, até o fato de que a imprensa estaria de mãos atadas porque a autoridade nacional não atentava para nada de mais grave. Vergonha. Senão, vejamos. Às 18 horas da sexta-feira, dia 26, a Defesa Civil do Rio Grande do Sul já emitia um boletim meteorológico (da Climatologia Urbana) atentando para a existência de um sistema de baixa pressão atípico se formando perto da costa catarinense. Como o próprio boletim comenta, os prognósticos entre os supostos especialistas brasileiros eram controversos, mas institutos internacionais como o NOAA apontavam uma grande probabilidade de chuvas intensas e fortes ventos atingindo o litoral em um máximo de 24 horas. Parêntese: o NOAA - National Oceanic and Atmospheric Administration - é um órgão do governo americano voltado à vigilância e prevenção de eventos meteorológicos no mundo. Sob a tutela do NOAA, funciona o National Hurricane Center, órgão máximo no mundo no estudo e classificação de furacões. Fecha parêntese Pode-se discutir que a imprensa brasileira não pode ser pautada por uma eventual paranóia de um órgao de governo gringo. Acho que seria uma discussão besta, dado o absurdo que seria comparar as capacidades do NOAA com seus equivalentes brasileiros. Especialmente quando, como a Folha eventualmente acabou apurando no domingo, a Secretaria Nacional de Defesa Civil não trabalha durante o fim-de-semana. Mas para que não houvesse dúvidas, pouco antes das 11 horas da manhã de sábado a Defesa Civil do Rio Grande do Sul emitia o primeiro boletim (da Climatologia Urbana) sobre aquilo que haviam classificado de "Ciclone 1-T ALFA". Como pode-se notar, o National Hurricane Center já havia classificado o sistema como sendo um furacão de tipo I. E independente de tratar-se de um ciclone ou furacão, o boletim já apontava uma série de riscos às cidades litorâneas do norte do RS e sul de SC, e prometia prosseguir emitindo os boletins conforme o desenvolvimento do sistema. Parêntese: Essa discussão sobre ser um furacão ou ciclone é muito bonita de um ponto de vista etimológico, mas é absolutamente ridícula de um ponto de vista prático. Para usar uma analogia feita pelo meu pai, imaginemos que um oncologista, o mais conceituado do planeta, ao fazer a análise de um tecido, afirma tratar-se de câncer. Qualquer pessoa sensata levaria o diagnóstico a sério, independente dos gritos de desconhecidos clínicos e cirurgiões brasileiros dizendo tratar-se apenas de uma excrescência que se comporta como câncer, e por isso indigno de muita preocupação. Ciclones se movem do continente para o mar, ciclones não têm "olho", ciclones não têm ventos de 150 km/h. Se faltava ao "Catarina" algumas qualidades típicas de um furacão, isso talvez se deva ao fato que jamais houve algum evento parecido no Atlântico Sul, em zonas temperadas, e em pleno outono ainda por cima. Talvez seja o caso de mudar-se as classificações de furacão, ou as classificações de ciclone. Mas o problema é que tudo isso não importava e não importou para todas as pessoas que estavam nas cidades atingidas pelo "Catarina". O que lhes interessava era que o evento se comportava como um furacão a ponto de ser classificado como tal pela autoridade máxima no assunto. E, portanto, o bem senso diria que deveria ser tratado como tal. Fecha parêntese Quem acompanhava a rádio Gaúcha durante esta mesma manhã de sábado, ouvia o meteorologista (excluímos o nome) dizendo que não havia razão para preocupação, que tratava-se apenas de um ciclone extra-tropical um pouco atípico, mas que certamente iria se dissipar sobre as águas e não chegaria ao continente. Sites de notícia como Terra, UOL e Folha Online, ou simplesmente não tinham notícias sobre o fato, ou repetiam o tom despreocupado da cobertura radiofônica. Ao longo do dia o que se via era uma imprensa perdida, com notícias e análises conflitantes dentro de uma mesma empresa. A RBS gaúcha insistia até o fim da tarde que não se tratava de nada preocupante, enquanto a sua filial catarinense já noticiava chuvas e mau tempo generalizado em sua costa, e recomendava que os moradores das cidades litôraneas se protegessem como pudessem. Durante a noite, os sites continuavam dando esparsas notícias sobre a evolução do "Catarina", cujo centro encontrava-se a poucas dezenas de quilômetros da costa da cidade de Torres. Enquanto a Defesa Civil informava (em boletim da Climatologia de São Leopoldo), pouco depois da meia-noite do dia 28, que o olho do furacão havia tocado o continente, e fazia um levantamento de danos e perigos, a última notícia da Folha era das 19:47 de sábado e dizendo tratar-se de um ciclone raro (ciclone ou furacão, ele não era raro, mas sim inédito), e a última notícia do Terra era das 11:04. Ambos os sites só foram dar novas notícias em torno das 06:00 de domingo, depois de já terem sido emitidos boletins de várias fontes fazendo uma apreciação dos danos ocorridos. Enfim, a desculpa da inexatidão da meteorologia é ridícula. O NOAA classificava o "Catarina" de furacão já na manhã de sábado, e previa exatamente o tipo de estragos que ele acabou por causar. A desculpa de a imprensa estar de mãos atadas visto que órgaos como INPE e INMET diziam não ser nada grave é ainda pior. Primeiro pois seria incompetência profunda acreditar apenas em releases de órgaos governamentais e não pesquisar outras fontes. E segundo porque, nitidamente, devido à falta de informações por parte da Secretaria Nacional, as reportagens usam dados fornecidos pelos boletins (enviados pela Climatologia Urbana) da Defesa Civil do RS (que já apontava a gravidade do fato desde a manhã de sábado) e do Climerh (responsável pelo tom um pouco mais alarmado da RBS catarinense). Enfim, uma cobertura vergonhosa. (Do blog de um estudante de jornalismo gaúcho em http://mblog.com/caveat_emptor/) Amigos do Popa, a reprodução acima destas mensagens não se presta para uma exaltação pessoal ou institucional mas sim para desmascarar a tese levantada pelos institutos oficiais após o Catarina de que a falta de equipamentos impedia a previsão sobre a gravidade do fenômeno. Se a Climatologia Urbana, com três meteorologistas e sem apoio estatal, vivendo apenas dos contratos com algumas empresas e veículos de comunicação, conseguiu antever a gravidade, como grandes empresas de meteorologia de São Paulo, com muito maior aporte de recursos, e os institutos oficiais, com subsídios milionários do governo, não conseguiram elaborar previsão semelhante aos institutos regionais se possuíam não apenas os mesmos dados mas informações ainda mais abudantes. Recentemente tivemos a oportunidade de publicar um artigo sobre o Catarina no site da Defesa Civil do Estado do Rio Grande do Sul (http://www.defesacivil.rs.gov.br/meteorologia/meteorologia_view_html?tipo=B&id_not=20040815-235826): "O CATARINA E A DIFÍCIL ARTE DE PREVER FURACÕES" Texto de autoria do Meteorologista Eugenio Hackbart, coordenador da Rede de Estações de Climatologia Urbana de São Leopoldo e coordenador da Unidade de Climatologia da Universidade Luterana do Brasil, escrito em 15 de agosto de 2004. Em 27 e 28 de março deste ano o furacão Catarina, identificado como 01.L NONAME pelo Centro Nacional de Furacões dos Estados Unidos e como 1-T Alfa pelo Met Office da Inglaterra, atingiu os litorais do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina. Duas pessoas morreram e mais de vinte mil casas e prédios foram destruídos ou parcialmente danificados nos dois estados. Nos dias que se seguiram à tempestade, a Meteorologia brasileira foi alvo de um grande número de críticas na imprensa sobre os prognósticos realizados em torno do ciclone tropical. Alguns questionamentos eram procedentes, especialmente quanto à falta de alerta sobre a gravidade do evento por parte de alguns institutos. Outros, que apontaram a incapacidade dos serviços meteorológicos nacionais em informar a trajetória e intensidade do fenômeno, se mostraram equivocados. Quando do episódio Catarina, apenas quatro instituições no Brasil emitiram alertas meteorológicos de furacão para os litorais do Rio Grande do Sul e Santa Catarina. São elas: a Rede de Estações de Climatologia Urbana de São Leopoldo, no Rio Grande do Sul; em Santa Catarina, a Climaterra e o Centro de Informações de Recursos Ambientais de Santa Catarina (Climerh); e no Paraná, o Sistema Meteorológico do Paraná (SIMEPAR). Os demais órgãos nacionais se limitaram a descrever o fenômeno como um ciclone extratropical e que traria ventos moderados. O Catarina serviu como lição de que a natureza não deve ser subestimada e que os alertas meteorológicos devem ser encarados pelo público e as autoridades como a máxima atenção. Diferentemente dos Estados Unidos, onde furacões são comuns e já fazem parte da cultura do público e da imprensa, no Brasil as horas que antecederam a chegada do Catarina foram caracterizadas por declarações irresponsáveis e que levaram o público a crer que se trataria apenas de mais uma tempestade. Se em terras norte-americanas, os meios de comunicações se transformam em verdadeiros canais diretos entre a Meteorologia e o público, no Brasil as horas anteriores ao Catarina deram lugar a relatos por especialistas e órgãos de imprensa de que o fenômeno "seria um furaquinho bom para surfar" e que "é comum ventar no litoral". A Rede de Estações de Climatologia Urbana de São Leopoldo possui como missão, por possuir condições de antecipar situações meteorológicas severas, alertar a população sempre que identificar uma situação de risco, expondo a realidade às comunidades em que atua. Igualmente temos a convicção de que não basta aos profissionais da Meteorologia antecipar um quadro adverso, se a informação não alcança o seu principal destinatário: o público. Assim, a parceria entre meios de comunicação e autoridades é essencial para que a previsão de eventos severos chegue ao número máximo de pessoas, o mais rapidamente possível. No episódio de março deste ano, avolumaram-se as críticas em torno da incapacidade da Meteorologia brasileira em prognosticar o Catarina. Entretanto, ainda na tarde de sexta-feira, portanto 36 horas antes do furacão tocar terra no sul de Santa Catarina, a Rede de Estações de Climatologia Urbana de São Leopoldo já advertia em boletim especial que se tratava de um ciclone tropical e que o seu possível ponto de ingresso no continente seria o litoral entre a latitude de Porto Alegre e a de Florianópolis. Igualmente, alertava-se para o caráter incomum do sistema e os riscos de chuva e ventos que estavam associados a ele. Portanto, a despeito de não se possuir aqui no Brasil um sistema de monitoramento de furacões e sendo o Catarina o primeiro registrado na história no Atlântico Sul, conseguiram a Climatologia Urbana, o Climerh e a Climaterra advertir as comunidades de seus estados sobre a gravidade do ciclone que se aproximava pelo Atlântico. Somente no site da Defesa Civil do Estado do Rio Grande do Sul foram oito boletins de alerta publicados pela Climatologia de São Leopoldo, no final de semana do Catarina. Todos os referidos alertas da Climatologia Urbana obedeceram os padrões internacionalmente utilizados em casos de furacões, trazendo informações atualizadas a todo momento sobre localização do ciclone tropical em coordenadas geográficas, sondagens de ventos por satélite, dados de embarcações em alto mar, advertências de ventos fortes a intensos com potencial de causar danos, risco de elevação da maré (storm surge), erosão costeira e chuva torrencial. Diziam os críticos ainda que a Meteorologia dos Estados Unidos não foi ouvida pelos brasileiros e que os alertas divulgados pelos norte-americanos foram ignorados pelos meteorologistas nacionais. Entretanto, ainda na tarde de sexta-feira (26/03), a Climatologia Urbana de São Leopoldo já mantinha contato com o Centro Nacional de Furacões dos Estados Unidos e que se mantiveram ao longo do final de semana da tempestade. Além disso, é vital esclarecer que por nenhum centro nacional ser responsável por previsões de ciclones tropicais no Atlântico Sul, a crença de que os Estados Unidos divulgaram alerta de furacão para o Brasil é equivocada. Os especialistas norte-americanos acompanharam o Catarina com enorme interesse e curiosidade científicos, divulgando dados em seus sites na internet, porém em nenhum momento emitiram alerta formal de que um furacão se aproximava da costa brasileira. Como já salientado, três institutos brasileiros, todos do sul do país, emitiram advertências oficiais para a população e autoridades locais. Foram os únicos no mundo a cumprir tal missão. Diziam os críticos também que a Meteorologia nacional se mostrara incompetente em estabelecer a trajetória e força do Catarina. Por desconhecimento, ignoraram que os ciclones tropicais são de previsão extremamente difícil, podendo apresentar súbitas mudanças de rota e intensidade. No Catarina, os quatro institutos que divulgaram alertas conseguiram estabelecer com exatidão e em prazo razoável de antecipação a possível área de landfall do furacão assim como as possíveis conseqüências de chuva e vento. Agora, nos Estados Unidos, é reaberto o debate em torno dos prognósticos de furacões. No país que há um século estuda ciclones tropicais e que investe bilhões de dólares na pesquisa, aparelhagem e capacitação de seus profissionais, a trajetória e intensidade do furacão Charley não foi antecipada corretamente. Previa-se um deslocamento mais para o norte e a tempestade atingiu a costa 150 quilômetros mais ao sul do que o prognosticado. Alertava-se para uma tempestade categoria 2 e tocou terra o furacão com força 4, com ventos apenas dez milhas por hora menos intensos do que uma tormenta categoria 5, a mais alta da escala. Milhares de pessoas que foram deslocadas da cidade de Tampa, para onde se previa a passagem do olho do Charley, foram levadas para abrigos na região de Orlando e Fort Myers, onde justamente passou a parte mais devastadora da tempestade. Considerando o desvio de rota apresentado pelo Charley nos Estados Unidos, tivesse o Catarina desviado 150 km para o sul e teria atingido diretamente as praias mais densamente povoadas do litoral norte gaúcho e a região de Porto Alegre. Ao contrário, tivesse a tempestade de março tomado uma trajetória 150 km/h ao norte e o impacto seria direto na área de Florianópolis. Tais dados são uma evidência das dificuldades e dramaticidade envolvidas na elaboração de um prognóstico de furacão. Houve incompetência por parte dos meteorologistas norte-americanos ? A resposta é um rotundo não!! Os furacões são fenômenos de previsão extremamente complexa, apesar da capacidade existente hoje de se antecipar com razoável precisão sua possível trajetória e intensidade. Estas gigantescas tempestades, contudo, não raro são surpreendentes e podem mudar de rota ou ganhar força de forma inesperada. Foi o que ocorreu no caso do Charley. Os norte-americanos contam hoje com aviões de reconhecimento que sobrevoam a tempestade antes de ele atingir terra firme, uma extraordinária rede de radares, satélites de sondagens de vento e de microondas, bóias espalhadas pelo mar, densa malha de estações meteorológicas terrestres e, nos seus centros meteorológicos, os maiores especialistas do mundo em furacões. No caso do Catarina, os órgãos que conseguiram acertadamente emitir alertas de furacão não contavam com aviões de reconhecimento, o radar mais próximo da Aeronáutica estava em manutenção, as imagens de satélite não eram voltadas à tarefa de monitorar um furacão, inexistiam bóias na nossa costa, as estações terrestres na maioria não operavam em tempo real e, seus meteorologistas, pela primeira vez em suas vidas e carreiras se defrontavam com um furacão, o que sempre foi dito pela literatura como um fenômeno impossível de se verificar em nossa região. A dificuldade em prever este fenômeno pode ser testemunhada pelo noticiário deste final de semana da imprensa norte-americana: "Apesar da capacidade de previsão de furacões ter melhorado dramaticamente, a súbita guinada para a direita do Charley na sexta-feira, poupando Tampa mas atingindo cidades do sul de surpresa, mostra, pelo menos, os limites da moderna técnica de previsão dos furacões". (Jornal Christian Science Monitor de Boston). "A força de 145 milhas por hora do Charley apanhou os meteorologistas de surpresa e mostou como a ciência ainda tem dificuldades em prever a intensidade de uma tempestade - mesmo com as últimas tecnologias de satélite e radar". (Associated Press) "Ao se intensificar de um comum categoria 2 para um extremo categoria 4 em apenas cinco horas, o furacão Charley ilustrou os limites que ainda existem na previsão destas tempestades". (New York Times). O Catarina deixou várias lições e que agora são reforçadas pela passagem do Charley, o pior furacão a atingir a Flórida em uma década e que deixa um saldo de mortos e devastação. São elas: 1. O Brasil não está livre de furacões; Após o trabalho realizado no monitoramento do furacão Catarina, em março, a Rede de Estações de Climatologia Urbana de São Leopoldo foi convidada a integrar um grupo internacional de pesquisa sobre ciclones tropicais e que reúne os maiores especialistas do mundo no tema e técnicos de renomados centros de previsão e pesquisa como os norte-americanos NASA e NOAA, o inglês Met Office, o australiano Bureau of Meteorology, além de unversidades dos Estados Unidos e da Ásia. Resta que as lições do passado não podem ser ignoradas nem tampouco pode ser subestimada a força da Natureza, pois a ignorância, a inércia e o descaso em eventos meteorológicos severos são sinônimos de tragédia". Para encerrar esta longa mensagem ao Popa, é importante ressaltar que, hoje integrando esta rede internacional de pesquisadores, nós da Climatologia Urbana estamos preparados para a eventualidade de repetição do Catarina, contando com extensa base de dados de apoio do estrangeiro em tempo real e a experiência - traumática pelo inedistismo - do final de semana de 27 e 28 de março de 2004. E a pergunta que todos fazem: O Catarina pode se repetir ? SIM !!!! Ao menos é o que dizem os ingleses para os próximos 100 anos: http://www.met-office.gov.uk/sec2/sec2cyclone/catarina.html Forte abraço à comunidade velejadora, Eugenio Hackbart Caio@brturbo.com
Capitão-de-Fragata Alberto Pedrassani Costa Neves Prezados Senhores, Alberto Pedrassani Costa Neves
________________________
Comentários para: info@popa.com.br
|