Piratas já foram 'funcionários' de reis em ações nos mares
Carta de corso permitia que piratas agissem para capturar inimigos.
Pirataria é tão antiga quanto a navegação
Giovana Sanchez/G1/Globo.com

02 Jan 2009
"V
ocê precisa somente de três homens e um barquinho, e no próximo dia você está milionário.” Foi assim que o ex-capitão da extinta marinha somali Abdullahi Omar Qawden definiu a ação dos piratas na costa do país. Desde o início do ano, mais de 80 embarcações foram atacadas na África, e 12 permanecem em poder dos bandidos.
Apesar de sempre terem sido temidos e combatidos por nações, os piratas já lutaram lado a lado com os governos, durante os tempos de guerra, nos séculos XVI, XVII e XVIII. Eles eram 'contratados' para capturar navios inimigos e geralmente tinham que entregar uma parte da riqueza conseguida ao rei. A acrobacia para tornar as ações 'legais' era legitimada pela Carta do Corso.
Segundo o especialista e autor de "Piracy: The Complete History" ('Pirataria: a história completa' - inédito em português), Angus Konstam, em entrevista ao G1, por e-mail, "isso não era nada menos que a pirataria legítima - e era conhecida como uma espécie de 'privatização'. Os piratas não custavam nada ao governo e eram usados para danificar a economia do inimigo."

Até Júlio César
A atividade dos criminosos dos mares existe desde que começaram as navegações. De acordo com Konstam, o primeiro registro de ação de piratas vem do Egito Antigo, no século 14 A.C - quase 3,5 mil anos atrás.
Na Roma e na Grécia antigas, aparecem as primeiras tentativas de se combater os ladrões dos mares. Nessa época eles agiam indiscriminadamente. Até o imperador romano Júlio Cesar foi vítima de piratas, quando navegava perto da ilha de Pharmacusa.
Conforme contou o capitão Charles Johnson, no histórico livro "Piratas - Uma História geral dos roubos e crimes de piratas famosos" (Ed. Artes e Ofícios), os piratas que capturaram César tinham o costume de amarrar seus prisioneiros dois a dois, de costas, para joga-los ao mar. Mas, imaginando que César fosse alguém importante, pelas roupas e pela quantidade de escravos que o rodeavam, decidiram cobrar o equivalente a 3.600 libras pelo seu resgate.
César sorriu e ofereceu o dobro. Os piratas então mandaram seus escravos buscarem o dinheiro, o que levou mais que um mês. Nesse tempo, ele conviveu ‘em paz’ com os criminosos. Quando o dinheiro chegou, César foi libertado. De volta ao trono, sua prioridade foi preparar uma poderosa esquadra. Ele capturou seus antigos seqüestradores, saqueou suas posses e os trancou num calabouço.

Violência
O principal atrativo para um pirata é o dinheiro. Na 'época de ouro da pirataria', entre os anos de1695 e 1730, a vida num navio da Marinha Real ou da marinha mercante não era fácil. O pagamento não era dos melhores e o tratamento era cruel. O autor Shelley Klein conta no livro "Os Piratas mais perversos da história" (Ed. Planeta) que “muitos capitães eram sádicos e adoravam mais do que tudo infligir torturas corporais naqueles que empregavam.”

Há relatos de espancamentos com vassouras, barras de ferro, punhais e martelos. “Pouco espanta então que os marinheiros preferissem a pirataria a um trabalho na Marinha Real ou na marinha mercante – afinal, a bordo de um navio pirata, para alguém ser açoitado ou abandonado em uma ilha deserta era necessário o consentimento de toda a tripulação, não apenas do capitão.”

Piratas somalis que capturaram navio ucraniano em trânsito
na costa do país, em outubro deste ano (Foto: AFP)

Num navio pirata, a violência era geralmente dirigida aos prisioneiros. E havia muita. Há histórias de prisioneiros sendo queimados vivos, de outros que tinham os órgãos internos retirados, de enforcamentos e esquartejamentos. O tratamento dado às vítimas muitas vezes tinha objetivo de convencê-las a se juntar à tripulação. Os navios sempre estavam buscando novos recrutas.
Outro objetivo era a propaganda: a fama de cruel espantava quem quisesse enfrentá-los e garantia que eles fossem notícia.

Mitos
Alguns piratas pioravam sua reputação com a aparência, deixando a barba crescer e cultivando cicatrizes. Edward Taech, o barba negra, era “a própria imagem de um ‘monstro em forma de gente’, uma criatura quase sobre-humana”, escreveu Klein .
Ao contrário do que muitos imaginam, poucos piratas enterravam seus tesouros. A maioria dividia a soma entre a tripulação, que gastava com ‘vinhos e mulheres’.
Outro mito é o fato de que eles obrigavam seus prisioneiros a caminhar na prancha de madeira para fora do navio, antes de cair no mar. Não há referências históricas sobre essa prática.
Fonte: G1/Globo.com

[Popa.com.br] Bento Gonçalves, herói da Guerra dos Farrapos, foi preso pelas tropas do Império em batalha na Ilha do Fanfa, no Rio Jacuí/RS. Na prisão, conheceu Giuseppe Garibaldi, um italiano fugitivo jurado de morte. Declarado pelos Farrapos presidente da República Riograndense, Bento assinou na prisão uma Carta de Corso em favor de Garibaldi, que saiu pirateando o que encontrou pela frente, inclusive Anita, esposa de um sapateiro de Laguna/SC. Quando seus barcos foram aniquilados pelo Império, Garibaldi negou-se a lutar no campo e voltou à Itália.

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