Frege aeronáutico em Itapuã
Aeronaves do Aeroclube do RGS em vôo rasante sobre o CNI
Danilo Chagas Ribeiro

24 Jan 2008
No sábado, 3 de novembro de 2007, uma esquadrilha surpreendeu os velejadores de Itapuã. Nada menos que seis aviões e um helicóptero voaram muito baixo sobre o Clube Náutico Itapuã (CNI), em uma operação ilegal e irresponsável.

O clube estava lotado de barcos e de velejadores. Em locais habitados, o sobrevôo deve ocorrer a, no mínimo, 1.000 pés (300m), conforme a legislação. Não foi o que aconteceu.

Segundo a estimativa de alguns velejadores presentes, a formação de aeronaves do Aeroclube do Rio Grande do Sul passou a não mais que 50m do solo sobre o CNI. O que dizer da altura sobre os mastros dos veleiros atracados no clube? (observe a foto acima)

Como as aeronaves voavam muito baixo e com vento contra, não eram vistas nem ouvidas até que estavam praticamente em cima dos barcos atracados no clube náutico. E então, subitamente ouvia-se o avião (ou helicóptero) como um estrondo bem acima das nossas cabeças, passando em alta velocidade, evidentemente, tão perto que dava para ver os tripulantes nos aviões, como na foto ao lado. Foi um susto grande.

As aeronaves aproximaram-se uma atrás da outra, com um intervalo estimado em algo como 10 ou 15 segundos entre elas. Parecia um "raid" militar.

Foi uma grande molecagem. Foi uma covardia. Foi uma falta de respeito a todos nós que estávamos ali. Foi um desrespeito à regulamentação. Foi um abuso. Foi um mau uso das aeronaves, expondo a vida dos velejadores, da população da vila e dos próprios pilotos e de seus passageiros a riscos desnecessários, como uma pane de motor ou falha humana. Os limites da regulamentação não foram determinados à toa. Ninguém merece um vôo rasante sobre sua cabeça, para que alguns divirtam-se à custa dos outros, inconseqüentemente.

Já não é a primeira vez que os velejadores vivenciam uma situação como esta. Há muito tempo que o piloto de um ultraleve anfíbio vem "aprontando" no Rio Guaíba. O último registro fotográfico de abuso que se tem notícia ocorreu em 1º de setembro passado junto à Usina do Gasômetro.

Como pode andar solto por aí um bando de irresponsáveis, "assassinos em potencial", como referiu-se o Coronel Arsand sobre o piloto que deu rasos no Gasômetro? O Aeroclube do Rio Grande do Sul é também uma escola de aeronáutica. É lá que futuros pilotos de aviões comerciais começam. Trata-se de um aeroclube com excelente tradição, fundado em 1933. É muito difícil aceitar que tenha decolado de instituição até então com tão boa reputação, não um piloto, como uma exceção talvez, mas sim um grupo de sete pilotos e que todos tenham cometido o mesmo desatino juntos. Alguma providência precisa ser tomada pelo Aeroclube do RGS e pelas autoridades competentes para impedir que tal cena repita-se.

As aeronaves foram fotografadas por Edgar Eichenberg, e mais uma ou outra por Danilo Chagas Ribeiro

Edgar Eichenberg

 

Aparentemente o prefixo do helicóptero do Aeroclube do RGS (observe logotipia) é PT-YDP

Edgar Eichenberg

 

PP-FLR

Edgar Eichenberg

 

PP-GAF

Edgar Eichenberg

 

PT-RKD

Edgar Eichenberg

 

PT-RKD

Edgar Eichenberg

 

PP-GQJ

Edgar Eichenberg

 

PT-VBQ (pareceu ser o líder do grupo)

Edgar Eichenberg

 


Edgar Eichenberg

 

PP-GEH

 


Edgar Eichenberg

 


Edgar Eichenberg

 

Logotipo do Aeroclube do Rio Grande do Sul no detalhe

Edgar Eichenberg

 


Edgar Eichenberg

 

PT-YDP

Danilo Chagas Ribeiro

 

PT-VBQ

Danilo Chagas Ribeiro

 


Regulamentação aeronáutica

Dispõe a ICA 100-12, subitens 4.1.2 e 5.1.4, a seguir transcritos:

4.1.2 ALTURAS MÍNIMAS

Exceto em operações de pouso ou decolagem, ou quando autorizadas pelo DECEA, as aeronaves não voarão sobre cidades, povoados, lugares habitados ou sobre grupos de pessoas ao ar livre, em altura inferior àquela que lhes permita, em caso de emergência, pousar com segurança e sem perigo para pessoas ou propriedades na superfície.

5.1.4 Exceto em operação de pouso e decolagem, o vôo VFR não será efetuado:

a) sobre cidades, povoados, lugares habitados ou sobre grupos de pessoas ao ar livre, em altura inferior a 300m (1000 pés) acima do mais alto obstáculo existente num raio de 600m em torno da aeronave; e

b) em lugares não citados na alínea anterior, em altura inferior a 150m (500 pés) acima do solo ou da água.

 

Vila de Itapuã, Viamão,RS

 

Comentários: info@popa.com.br

25 Jan 2008
Rodrigo Boletto

Recebi uma ligação hoje à tarde do Instrutor de Vôo Rodrigo Boletto, 26 anos, do Aeroclube do Rio Grande do Sul. Rodrigo mostrava-se chateado com a repercussão da notícia sobre a revoada em Itapuã, e disse que o ocorrido foi "um erro de planejamento", e não uma atitude intencional. Informou ainda que era passageiro de um dos aviões, e que vinham sobrevoando o Rio Guaíba a 500 pés. Por engano do líder, declarou o instrutor, não subiram aos 1.000 pés necessários para o sobrevôo sobre a Vila de Itapuã. É o que me afirmou. Muito educado, Rodrigo pediu desculpas pelo transtorno causado, e garantiu que envidará todos os esforços para que o ocorrido não se repita.
Danilo.

26 Jan 2008
Geraldo Knippling
Muito boa esta reportagem.
...
Que continue assim.
Parabéns,
Geraldo Knippling
A saber, o Comte Geraldo Knippling formou-se em Aviação Comercial pela Purdue University, voou mais de 40.000 horas e foi agraciado com a Ordem do Mérito da Aeronáutica. Em seu livro "Falando de Avião" narra histórias muito interessantes da aviação, como o sequestro para Cuba do vôo que comandava em 1969 (o livro encontra-se à venda também no Veleiros do Sul, P.Alegre). [Popa]

27 Jan 2008
Luiz Antonio Monza Koller

Prezado Danilo:
Esse divertimento (e é isso mesmo o que motiva alunos de aeroclubes quando se afastam de suas escolas) parece ser comum com o pessoal da Escola de Belém Novo.
Não mais do que três meses atrás retornava de Itapuã para Porto Alegre, a meio caminho entre o Morro do Côco e a Ponta das Canoas, quando avistei dois aviões e um helicóptero em divertidas manobras conjuntas, algumas milhas distantes.
Não demorou muito para identificarem um "alvo", lento e bonito, com dois panos em cima, facilmente abordável, e logo decidiram por um rasante, o que foi logo respondido com um aceno de mão do comandante da embarcação. Isso em um clima de saudação e "vão com Deus", aproveitem. No meu caso foram apenas três aeronaves, passaram uma única vez e partiram. Já estudei, e muito, o regulamento aéreo. Sei (e eles também) que o que fizeram é proibido. São brincadeiras de quem já guarda algum domínio sobre seus equipamentos, talvez os últimos divertimentos que terão antes de entrarem na infindável monotonia de suas futuras profissões (isso eles não adivinham).
Por fim, traquinagens de adolescentes, naturais portanto; perigosas, com certeza, mas que merecem receber a atenção dos responsáveis pelas máquinas e pelos seus adoráveis adolescentes!
Abraços,
Luiz Antonio Monza Koller
TRIER - ICG

07 Fev 2008
Luiz Fernando Coelho de Souza
Presidente do Aeroclube do Rio Grande do Sul

Prezados Senhores

A Diretoria do Aeroclube do Rio Grande do Sul, surpreendida com as fotografias e manifestações a respeito de vôos rasantes com aeronaves da Escola na área de Itapuã, esclarece que o procedimento não é, em absoluto, prática da Instituição, comprometendo-se desde já, a esclarecer devidamente os fatos responsabilizando os autores.
O Aeroclube do Rio Grande do Sul com um passado de formação aeronáutica de 75 anos, não pode ter sua imagem maculada pela irresponsabilidade de alguns pilotos os quais, na sua ação, não representam os elevados princípios que norteiam o ensino e a prática de vôo de nossa Escola Aeronáutica Civil.

Em nome do Aeroclube do Rio Grande do Sul desculpamo-nos pelo procedimento equivocado que deu origem ao fato, somando-nos às manifestações de repúdio.

Atenciosamente

       Luiz Fernando Coelho de Souza
Presidente do Aeroclube do Rio Grande do Sul

09 Fev 2008
Rafael Souza Pereira

Amigos, é com grande sentimento de vergonha pelos meus colegas que venho transmitir essa mensagem de apoio quanto ao ocorrido da prova de imaturidade com comandantes do ARGS. Como ex-aluno de lá, algumas coisas pra mim são inadmissíveis. Dou todo apoio para vocês, já que conheço quem pode operar certas aeronaves na entidade. Eu ficaria surpreso se fosse um aluno, mas fico perplexo com tamanha incompetência dos aviadores que ali estavam, já que alguns aviões ali somente são confiados a comandantes experientes pela escola, o que me deixa ainda mais envergonhado e assustado, já que são esses os "comandantes" que estarão ensinando os menos experientes e dando esse exemplo que já repercute em todo o Brasil. Ouvi falar sobre o ocorrido no Rio de Janeiro, Espírito Santo e Curitiba. Em nome dos Comandantes, que nem ao menos conheço e não poderiam fazer tamanha barbaria, peço desculpas aos senhores. Somos na nossa grande maioria homens equilibrados, de bem, éticos e acima de tudo com amor a nós, nossas famílias e a quem eventualmente possa sofrer por um ato de indisciplina nosso.
 
Grato,
Cmte. Rafael Souza Pereira, Curitiba, PR

11 Fev 2008
Celso Chagas Ribeiro

Elogiável a postura do Presidente do Aeroclube do Rio Grande do Sul, Prof. Luiz Fernando Coelho de Souza.
O "Popa.com" e o Aeroclube do RGS com suas atitudes saberão fazer do limão uma limonada.
Um abraço fraternal ao Danilo e ao Luiz Fernando, e mais juízo para a rapaziada.
Celso Chagas Ribeiro

-o-