Varando o Varadouro
De Porto Alegre,RS a Cananéia,SP
Victor Scur Barth

Filhos e neto de um comandante que deixou marcas na história da Vela Brasileira, incluindo a participação em uma Admiral's Cup (Inglaterra), André, Claudia e Vitinho têm feito, ano a ano, belos cruzeiros em seu Fast345 Victor.
O Comandante Egon Barth (na foto ao lado a bordo do OrionII, com Claudia no Veleiros do Sul, em 1965) passou para os filhos o gosto pelo esporte à vela.
Parabéns aos Barth por terem vencido os desafios: Florianópolis, Punta del Este, Angra, e agora Cananéia, incluindo a travessia do Canal do Varadouro.
[popa]

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Nossa viagem iniciou-se na manhã de 17 de janeiro de 2008, com um belo dia típico de verão. Céu sem uma nuvem sequer e uma leve brisa de sul/sudeste. Aproximadamente às 4 da tarde nos despedíamos do nosso querido Guaíba e cumprimentávamos a bela Lagoa dos Patos com uma estranha e incomum calmaria. Mas não demorou muito para o sol se pôr e após um belo vento de sudeste entrar e nos empurrar até Rio Grande, onde atracamos por volta das 4 da tarde do dia 18. No dia seguinte acordamos bem cedo e corremos para o mar, afinal a previsão estava a todo nosso favor. Ao sairmos da barra levantamos uma asa de pomba e saímos surfando nas ondas daquele belo vento de sul.

Na tarde do dia seguinte passávamos ao través de Torres, entre terra e a Ilha dos Lobos, onde cumprimentamos o resto da nossa família que estava em terra. Ao observarmos o morro do farol, víamos vários flashes de câmeras, o que significava que estávamos sendo os protagonistas de diversas fotos. Meia hora após nossa passagem, o sol nos deixava e agora rumávamos para o Santa Marta grande (foto ao lado), aonde chegamos ao amanhecer. Dali em diante apenas fomos empurrados pelas velas Bosch. Motoramos até o I. C. Veleiros da Ilha, onde atracamos no final do dia 21 de janeiro, com as boas vindas de vários dos nossos amigos do Veleiros do Sul.

Na entrada do Canal dos Naufragados avistamos algo bastante interessante. Havia um helicóptero dando muitas voltas em uma ilha, diversos botes da polícia e muitas pessoas na ilha. Tentávamos descobrir algo com o binóculo, mas nada conseguimos ver além de uma grande movimentação na água, no ar e na terra. Ao chegarmos ao ICVI perguntamos para saber de algo sobre o evento e nada descobrimos, apenas a curiosidade ficou.

Após uma manhã de reparos e consertos, típicos após uma travessia, alugamos um carro e fomos passear pela ilha de Florianópolis. Praia Brava, Praia Mole, Lagoa da Conceição, Barra da Lagoa, Canasvieiras, Ingleses (ao lado), Jurerê, Jurerê Internacional foram alguns de nossos destinos e até com uma parada na ponta das canas para um bom almoço. Ao final da tarde retornamos ao clube.

No dia seguinte partimos do Veleiros da Ilha (foto abaixo) e fomos até a enseada da Armação da Piedade, um dos poucos lugares que ainda conserva um pequeno vilarejo de humildes pescadores, com suas pequenas moradias. Mas creio que infelizmente seu futuro esteja ameaçado, pois ao lado existe um enorme condomínio de mansões milionárias que a cada ano parece invadir mais e mais a pequena praia da enseada. Ao ancorarmos no local, rapidamente veio uma lancha da beira em nossa direção. Era o Tonho, um senhor dono de um restaurante nos oferecer seu vasto cardápio de frutos do mar. Ao final da tarde chamamos pelo rádio e ele veio nos buscar, A REMOS.

No amanhecer do dia seguinte, dia 24, tocamos em frente num través em rumo à Ilha do Mel, aonde chegamos ao amanhecer do dia 25 de janeiro. Já no amanhecer a entrada do canal estava muito movimentada, com muitos navios e lanchas de práticos pra lá e pra cá.

Quando estávamos ao lado da Ilha da Cotinga fiquei impressionado com a correnteza contra. O barco mal se deslocava em relação à terra e em relação a água marcava 6 a 7 nós, mas no GPS a velocidade real era de apenas 3 NÓS!!! O piloto automático tinha muita dificuldade de manter o curso e era preciso estar muito atento, pois ali o tráfego de pequenos botes de transporte de passageiros era intenso. No dia seguinte, já atracados no Iate Clube de Paranaguá, fizemos uma paleta de ovelha e ficamos admirando o veleiro Wa Wa Too, antigo competidor do Órion na Buenos Aires - Rio (foto abaixo).

Ao final da tarde saímos atrás de informações sobre o Canal do Varadouro e procurar um prático. Encontramos o pai de um marinheiro para nos guiar através daquele “mar de baixios” (também chamado de Canal do Encalhadouro). Para aproveitarmos a maré de enchente, acordamos às 3 horas da manhã e nos despedimos de Paranaguá no dia 28 de janeiro. Ao nascer do sol entrávamos no início do canal que leva à Baía dos Pinheiros.

O dia estava meio encoberto e com um ar de chuva, e não havia uma mínima brisa sequer. Com um olho observávamos diversas montanhas ao redor e com o outro o ecobatímetro. Após algumas milhas dentro do canal nos afastávamos da Baía dos Pinheiros e as margens se aproximaram começando, assim, a nossa navegada em direção ao Canal do Varadouro. Após 15 milhas da entrada do canal, agora estávamos finalmente navegando no Canal do Varadouro.

Dava para observar as íngrimes margens do local (foto ao lado). Quantos homens e máquinas devem ter trabalhado ali durante muito tempo para construir aquele canal?

No final do Canal do Varadouro tivemos um contratempo. A maré já estava vazante, (e que correnteza tinha!!) e ao fazermos uma curva na frente de um pequeno riacho adjacente, encalhamos, e não havia santo para desencalhar. Fizemos de tudo que qualquer navegador faz quando encalha, mas nada.

Nossa última chance: lançar âncora em terra e dá-lhe catraca nela. Foi o que fizemos e felizmente o barco saiu deslizando sobre a água novamente.
Passamos por Ariri (foto ao lado), uma pequena cidade no meio do nada. Algumas centenas de metros adiante passamos por outra cidadezinha, chamada Ararapira (foto abaixo), mas essa cidade é diferente. Era uma pequena cidade de pescadores que foram saindo um a um até que ficou completamente abandonada. As construções ali feitas ainda existem intactas. Existe uma igreja, uma escola e várias casinhas, mas sem nenhum habitante sequer.

Ao final da tarde chegamos à Cananéia. Procuramos a marina local, imaginando ver vários mastros de veleiros, mas não vimos nada. Descobrimos que ali apenas funciona um centro náutico com um pequeno trapiche de abastecimento.

Quando nos aproximamos fomos extremamente bem recebidos pelos funcionários do posto. Ali nosso prático desembarcou e retornou para Paranaguá.

Abastecemos nosso barco e fomos obrigados a procurar abrigo na margem leste do local, pois o vento que antes era manso agora soprava furiosamente de leste.

Descansamos e ficamos ancorados lá, até que no final da tarde nosso amigo do centro náutico veio velejando até nosso barco e nos convidou para um churrasco à noite. No anoitecer fomos até o trapiche do posto e atracamos. Foi uma noite muito agradável. Conversamos muito com Marco Bernauer (acima). Este sobrenome já é conhecido para nós, afinal Andreas Bernauer, dono do veleiro Canibal é nosso grande amigo. Marco nos contou que eles são primos.

No local também funciona um lounge-bar muito bonito e com uma decoração bastante interessante. Lá jantamos uma bela picanha com muita cerveja e conversa, ao som de músicas clássicas dos anos 80, afinal Marco é um amante das músicas dessa época. A farra apenas terminou às 5 da manhã, com o fim das cervejas (sem combustível não dá neh?!?! hehe).

Às 7 da manhã do dia 31 de janeiro deixávamos nossos queridos amigos de Cananéia e agora saímos ao mar com Floripa na nossa proa, porém o vento não estava com muita vontade de nos levar para lá e soprava mansamente na direção de nosso destino. Bordejamos durante todo o dia e tentamos pescar, sem sucesso, apenas um pequeno baiacu. Após algum tempo o vento firmou de leste e então velejamos até São Francisco do Sul, e dali por diante apenas no motor. Chegamos a Porto Belo (foto acima) aproximadamente às 4 da tarde do dia 1º de fevereiro.

Na manhã do dia seguinte fomos visitar o Aysso (acima), da família Schürmann, que estava ancorado em frente à marina de Porto Belo.

No dia 3 de fevereiro retornamos ao Veleiros da Ilha e ali nos despedimos de nossos dois tripulantes: Claudia e Vicente, que retornaram para Porto Alegre de ônibus. Agora era apenas eu e o pai, André Barth (foto abaixo).

No amanhecer do dia 5, antes mesmo de o sol nascer, desatracamos de Florianópolis e agora começávamos nosso retorno para casa. No final da tarde passamos pelo farol de Santa Marta. Nesse momento aconteceu algo muito legal. Um pessoal que se divertia em um banana boat na beira do mar resolveu vir até nós para nos cumprimentar (e olha que tava longinho da beira hein!). Tirei algumas fotos deles.

A noite chegou e os quartos começaram.

Com o pôr-do-sol, um belo nordeste começou a soprar e nos empurrou fortemente até Rio Grande em uma velejada memorável com velocidade constante de 8 a 9 nós e com direito até a visita de vários golfinhos. O barco, apenas com vento de popa, estava com o convés sequinho, mas isso não durou muito.

Quando entramos na barra de Rio Grande (ao lado), lá dentro parecia que havia mais ondas do que no próprio mar e o barco ficou inteiramente encharcado.

Quando atracamos no RGYC já era noite e dormimos, finalmente, uma noite inteira, pois as duas últimas foram fracionadas.

No dia seguinte encontramos um amigo velejador, o C´est la Vie 5, do Henrique, que estava indo pra Floripa correr uma regata (foto ao lado).

No dia 12 de fevereiro começamos nosso retorno típico de todos os anos: parada em Pelotas para comprar os maravilhosos doces de Pelotas, Porto do Barquinho, onde ficamos durante 4 dias, e finalmente, Clube náutico de Itapuã, para visitar a nossa querida amiga Tina.

No dia seguinte fizemos um churrasco com a companhia da minha mãe, irmã e uma prima.

No outro dia retornamos para o Veleiros do Sul, aonde chegamos ao final da tarde do dia 23 de fevereiro, completando 37 dias de viagem.

Na foto ao lado o veleiro Victor atracado no Rio Grande Yacht Club.

Fotos do Diário do Victor
(Victor Scur Barth)


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