Velejando no pampa gaúcho
Desta forma, tenho muita identificação com nossa região da campanha, seus campos, banhados e matos. Ao longo do tempo, tive oportunidade de desfrutar da nossa paisagem pampeana acampando para fotografar, caçando perdizes e marrecões em um passado distante, às vezes até “campereando” em fazendas de amigos e também trabalhando em projetos de irrigação e meio ambiente, porém,sempre quis, mas nunca imaginei um dia poder navegar em pleno pampa gaúcho. No entanto, esta oportunidade apareceu e para meu deleite, aconteceu. O Raio de Luar passou um ano e meio fora do Estado, navegando entre Porto Alegre e o Rio de Janeiro, juntamente com o 4Fun do Luiz Ungaretti, gostaríamos de ter navegado mais longe, mais para o norte, mas as circunstâncias e compromissos nos levaram a rever os planos e retornarmos ao Rio Grande, pelo menos por enquanto, deixando para uma ocasião futura mais favorável fazermos a costa do nordeste brasileiro, Abrolhos, Fernando de Noronha e quem sabe até outras paragens ao norte do equador. Porém, nos divertimos muito nestes 18 meses de mar, convivemos de forma sadia, transformamos em milhares os números de milhas em nossos respectivos logs, pescamos, mergulhamos, pegamos brisas suaves, mares azuis, outros nem tão azuis, alguns ventos fortes e até tempestades...uma belíssima experiência e convictos da decisão de final deste verão de voltarmos, neste outono fizemos o trecho do Rio de Janeiro a Porto Alegre, os dois barquinhos agora no Veleiros do Sul.
Primeiro para mim foi uma experiência de arrepiar, pois estávamos velejando em pleno pampa, uma sensação diferente, barquinho entre as manadas de gado hereford, como se cavalgando estivéssemos. Ao navegarmos pelo São Gonçalo, os palmípedes que antes caçava cruzavam de leste a oeste, inclusive algunsainda poucos bandos de marrecões (NettaPeposaca), já que o inverno ainda não “apertou” e eles só chegam aos montes com o frio mais intenso, portanto, deveriam ser marrecões “crioulos”, aqueles que não migram mais e se tornaram gaúchos residentes...se eram anos atrás nossa grande ambição como caçadores, hoje são nossa ambição como admiradores da natureza. Portanto, estávamos como em fantasia “campereando”, caçando e pescando, não a pé, a cavalo ou de carro, mas velejando...um espetáculo!
Estávamos com o barco lotado, 7 pessoas, meus amigos de infância Walter e Marcelo, hoje líderes do COA-POA com seu conhecimento de aves e equipamentos sofisticados de observação e fotografia, mais a Márcia e o Guilherme, esposa e filho do Marcelo, eu como comandante e ex-caçador muito feliz por estar entre os bichos novamente, desfrutando especialmente da companhia do meu filho Matheus e colega Miguel que moram e estudam no momento em Pelotas. O Miguel nunca tinha navegado assim e foi sua primeira noite a bordo, portanto, novas experiências para todos, mesmo dentro docotidiano de família e amizades que já estão chegando a quatro décadas.
Nosso tempo foi escasso para tanta beleza de paisagens e fauna, portanto, decidimos que na primavera voltaremos com mais tempo e com mais vontade ainda de “traçarmos” o Pampa Gaúcho velejando, indo adiante da foz do Rio Piratini, nosso limite desta vez, com tempo para paradas no caminho e visitarmos as lagoas que vimos rapidamente às margens do São Gonçalo com suas marrecas, capororocas, galinholas, garças de diferentes espécies, maçaricos, colhereiros e tantas outras aves de nossa região sul. Em outubro pretendemos ir até a Lagoa Mirim, também tentarmos a pescaria nos molhes de Rio Grande e os barcos salgarem um pouco suas quilhas novamente. Se Deus quiser...lá voltaremos...
Outras crônicas do autor: Reflexões sobre um cruzeiro de verão |
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