Conta todas, vovô
Jorge Vidal

Don Alberto tocado a vento

O veleiro Don Alberto é um Frers 43 pés, construído na Argentina. Foi importado em 1973. Seu proprietário, o veterano velejador e um dos fundadores do Veleiros do Sul, de Porto Alegre, comandante Werner Hunsche, pai da Cláudia, esposa do Márcio Pinto Ribeiro, o negro Márcio, uma das figuras mais simpáticas do iatismo brasileiro, amigo de todos, boa praça, contador de histórias e excelente velejador.
Com a compra do Don Alberto, seu genro Márcio era quem comandava esse belo veleiro, de casco vermelho e convés branco, um dos barcos mais elegantes que conheci.
Márcio estava se dirigindo a Florianópolis. No dia 6 de outubro de 1977, saímos de Porto Alegre. A bordo, além do comandante, o Joni Borges Fortes, o Danilo Grussner, o Luiz Pejuonovic (Lampião), o Duche Chaves Barcelos, o Carlos Alberto Aydos (Cabeco) e eu.
Tempo bonito, vento leste moderado. Bom para se velejar. Muita festa a bordo, pois no dia anterior fizera aniversário o comandante Márcio e, naquele dia, o autor destas memórias... A tripulação realmente confraternizava, tudo muito bacana, com muitos abraços e brindes. O Márcio me presenteou com um boné de feltro preto, muito elegante. Dizia ele que era um boné digno de um comandante. Também nos presenteou com várias camisetas do Don Alberto.
Entramos na Lagoa dos Patos ao cair da noite. Tempo bom e vento leste forte. Velejávamos com todos os panos. Para quem não sabe, a Lagoa dos Patos é uma das maiores lagoas de água doce do mundo, com 100 milhas náuticas de comprimento (185 km) e em torno de 50 milhas de largura na parte mais larga. Seu regime é geralmente de ventos muito fortes, pois suas margens são planas e desabrigadas, formando-se ondas bem altas e meio curtas, o que se torna incômodo para os barcos à vela. Mas é muito bonita.
Chegamos ao Canal da Feitoria ao amanhecer e, devido ao forte vento, baixamos a buja, navegando só de grande, para uma melhor visibilidade no canal e para visualizar as inúmeras paliças (estacas).
Ancoramos no Yate Clube da cidade do Rio Grande às 3 horas da tarde. Festejamos novamente nossos aniversários com uma peixada preparada por mim. O prato passou a se chamar peixada à Don Alberto, em homenagem ao nome do iate. Participaram do banquete diversos amigos do Rio Grande Yate Clube, entre eles o Angel Moretti, Lídia e Ricardo Habiaga, assim como Nicanor Penha, meu velho amigo de infância.
Após alguns dias no Rio Grande, aguardando melhora no tempo e uma informação segura do Dr. Hugo Altmayer, do Vander Valente e do Boy, lá se foi o Don Alberto, pois não poderia dar errado. Não existem meteorologistas melhores e mais experientes...
Por falar em previsão meteorológica, aprendi durante esses longos anos que não existe previsão segura para mais de 24 horas, talvez 48. Mas, prever tempo para um período além desse é chute, mesmo com os modernos aparelhos atualmente existentes, através das fotos de satélites. A natureza muda repentinamente. Aqui no sul, não existem dois ou três dias iguais. As mudanças climáticas são muito variadas e rápidas e as frentes costumam aparecer em períodos de 7 a 8 dias.
A frente fria conduziu o Don Alberto com total segurança e rapidez até Florianópolis.
A propósito de temporais, o único velejador que conheci que adorava enfrentar um temporal era o falecido Dr. Rudolf Berhendt, oftalmologista, dono do veleiro Brisa-Mar. Quando se aproximava um temporal em Porto Alegre, ele corria para o Veleiros do Sul e, junto com o marinheiro Leonaldo Aguiar, convocado à força, se tocava para o Guaíba para enfrentar o mau tempo. Seu prazer era velejar dentro do temporal, com ventos fortes, chuva pesada; enfim, era um verdadeiro catador de temporais, que, aliás, era seu apelido no clube.
O Don Alberto, tanto com o Ardrizzo, como com o Márcio, participou de inúmeras regatas, tanto aqui no sul, como em Florianópolis, São Paulo e Rio, sempre com magnífica performance.
Passados alguns anos, quando de uma velejada em Angra dos Reis, na companhia dos amigos Paulo Monte Lopes e Oscar Nieto, encontramos o Don Alberto na subsede do Yate Clube do Rio de Janeiro. Lá estava ele com seu casco vermelho e convés branco, lindo como sempre, transmitindo-nos a impressão de que barcos são seres vivos...
Meu amigo Werner Hunsche e seu genro Márcio construíram outros três veleiros de madeira no estaleiro do Plínio Flöerik, de Porto Alegre, o melhor estaleiro de barcos de madeira do Brasil. Foram eles o Tuchaua I, hoje Bwan, que se encontra em Angra dos Reis, o Tuchaua II, hoje Neptuno, do comandante Sérgio Mirsky, do Rio de Janeiro, e o Tuchaua III, com o qual velejam todos os anos no verão, em passeio por Angra dos Reis.

Peixe e música no Garimpeiro

 

Envie seus comentários ao popa.com.br:

Seu e-mail:



CLICK APENAS UMA VEZ