Conta todas, vovô
Jorge Vidal

Um Macanudo recordista

Em fevereiro de 1976, o comandante Ery Bernardes, proprietário do veleiro Macanudo, desenho de Gary Mull, fabricado nos Estados Unidos, 37 pés, vencedor da então edição anterior da Regata Puerto Buceo (Uruguai) / Rio Grande, nos convidou para velejarmos até Montevidéu, pois o Macanudo iria defender seu título de campeão, ao participar da segunda edição dessa regata.

A bordo, além do comandante Ery Bernardes, Bruno Richter, Paulo Diederichsen Villares, seu filho Pedro Villares, então com 14 anos, Reinaldo Bernardes, filho do Ery, Sergio Richter, filho do Bruno, e eu.
Paulo D. Villares, grande industrial paulista, dono das indústrias Villares, e seu filho Pedro debutavam em navegada em barco à vela. Passados alguns anos, Pedro, com o seu veleiro Alforria, um Fast 500, passou mais de um ano velejando na costa do Brasil, no Caribe e no Mediterrâneo. Aquela velejada a Montevidéu despertou no Pedro Villares um desejo enorme de se tornar velejador. Costuma afirmar que jamais esquecerá essa sua primeira velejada. Realmente, sou testemunha da dedicação e do interesse desse menino.

Meu amigo Bruno Richter era o mais experiente da tripulação, pois já havia feito diversas viagens para Montevidéu e Buenos Aires, a bordo do veleiro Orion II, da família Barth. Conhecia como ninguém a rota e a complicada entrada do Porto Buceo, onde se localiza o Yate Clube Uruguaio, no mesmo bairro. Na entrada do molhe existe um banco a bombordo e pedras a boreste, pois entramos em Montevidéu à noite.

O curioso naquela velejada foi que saímos de Porto Alegre, de spinaker (vela-balão) em cima, pois ventava um norte de fraco a moderado, que ocilava entre 10 e o máximo de 20 a 25 nós, e assim, pasmem, fomos até Montevidéu, com o mesmo vento, sempre de balão, navegada segura, completando o percurso em 60 horas, desde Porto Alegre, sem entrar na cidade do Rio Grande, pois fomos direto para os molhes e, conseqüentemente, para o mar. Um recorde, segundo Bruno. Festejamos em nossa chegada no clube, por volta de 2 horas da manhã, e após dormimos o sono dos realizados, e que sono quando você chega, ainda mais na velocidade em que chegamos!

Pela manhã, para surpresa nossa, bem cedo, entra no porto o veleiro Don Alberto, também de Porto Alegre, do comandante Ardrizzo, com o famoso skipper argentino Mono Damilano a bordo, pois havia sido contratado pelo Ardrizzo para essa regata. Realmente foi uma boa escolha, uma boa contratação, pois a regata foi vencida por eles. Pois bem, o Don Alberto passara pelas mesmas condições de tempo e de vento que nós havíamos encontrado e fizera o trajeto em 58 horas. Assim, só nos restou passar a taça de recordista para eles... Nosso recorde durara apenas algumas horas...

Nessa velejada, cruzamos no través do Cabo Polonio, no Uruguai, bem próximos do navio Taquari, do Loydd Brasileiro, que havia naufragado irreversivelmente nas pedras, quase na praia, havia poucos dias, em sua viagem inaugural. Tratava-se de um navio supermoderno e muito bem equipado. O certo é que deve ter ocorrido algo muito estranho a bordo.

Ainda fizemos outra navegada no Macanudo, para Rio Grande e, após, para Florianópolis, por ocasião da venda do barco. O novo proprietário residia naquela cidade e desejava participar do 2o Circuito Oceânico de Santa Catarina, por volta de 1982, o que foi feito, pois fizemos todas as regatas daquele evento. A tripulação que levou o Macanudo, sob meu comando, era composta por Romildo Santos, Jorge Vidal Filho, Alfredo Vidal, Eduardo Aaron, Marcelo Aaron e Lorelai Tubino.

Realizamos também várias velejadas a bordo do Macanudo em Florianópolis, Ganchos, Porto Belo e Itapema. Após alguns anos, o barco foi novamente vendido e retornou a Porto Alegre, onde se encontra até hoje, aos cuidados do velejador Person Thiesen, seu novo proprietário. Continua sendo um barco veloz e marinheiro, esse projeto de Gary Mull.

Don Alberto tocado a vento

 

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