Conta todas, vovô
Jorge Vidal

Martha, meu primeiro veleiro


Martha no guincho do Veleiros do Sul, em P Alegre.

E os anos foram se passando. Por volta de 1969, já morando em Porto Alegre, acalentava mais do que nunca o sonho de ter um veleiro. Meu amigo de infância e irmão de todas as horas, Sidney Soares, de Rio Grande, cunhado do Romildo Santos, meu grande incentivador, ficara encarregado de procurar um barco naquela cidade ou em Pelotas. Visitamos diversos barcos, mas não encontramos nenhum que nos agradasse por inteiro. O único veleiro que realmente nos despertou grande interesse naquela oportunidade foi o Caprice, do amigo Francisco Caruccio, de Pelotas, que já havia pertencido a Mendes Netto, de Rio Grande, mas o Caruccio não queria se desfazer dele.

Entre outras muitas andanças, fomos para o Encontro da Vela, em São Lourenço do Sul, com o Tahiti. Lá estando, conhecemos o veleiro Tandi I, do comandante Adroaldo Rosa, então comodoro do Veleiros do Sul. Um lindo barco de 26 pés, desenho de Thor Sandel, construído pelo carpinteiro Marino Vieira, em Porto Alegre. Era uma construção de primeira qualidade, como, aliás, foram todos os barcos construídos pelo comandante Adroaldo na série Tandi.


Martha em regata

O Adroaldo não estava a fim de conversar sobre a venda de seu barco. Queria mesmo curtir o Encontro da Vela, com todos os seus companheiros, sua esposa, Terezinha, e o filho Tandi. E eu apaixonado pelo veleiro. Sonhava todas as noites com o Tandi, mas o Adroaldo, nem papo queria.
Passados alguns meses, no entanto, fui procurado por ele, dizendo-se disposto a me vender o Tandi. Meu interesse continuava. Como não podia pagar o valor à vista, solicitei ao amigo Fernando Luce que conversasse com o Dr. Adroaldo para que este facilitasse o negócio. Feito! O barco era meu!
Diz a tradição que nunca se deve trocar o nome de um barco, mas era desejo do Adroaldo manter para seu barco o nome Tandi, pois era uma homenagem ao seu filho Alexandre. Escolhi então o nome Martha, BL 158, em homenagem à minha única filha mulher.


Martha em regata, com Orion III ao fundo

Aí então começou minha vida de proprietário de veleiro. Com o Martha participei de diversas regatas do calendário de 1970/1971 da Federação de Vela, representando o Rio Grande Yate Clube. Até algumas regatas conseguimos vencer. Nossos concorrentes diretos eram o Sapeca, do László Bohm e do Walter Bromberg; o Áurea, do Nilton Barreto; o Scorpion, do Dr. Régis; o Bamba, de Nivaldo Cavalli; o Tobago, de Paulo Ribeiro; o Mero, do Marcelo Bueno; o Caminito, do Oscar Nieto; o Vega, do Carvalho Armando; o Tornado, do Astélio Santos; o Regina, do Renato Volpe; e outros tantos.

Participamos também de duas regatas Porto Alegre / Rio Grande, onde obtivemos dois segundos lugares na classe. Nossa tripulação, na primeira regata, era formada por Romildo Santos, Paulo Duhá, Carlos Teixeira, Nilton Santos e Sidney Soares, todos de Rio Grande. Na segunda regata participaram conosco José Carlos Tozzi, Augusto Sperb, Carlos Teixeira e Frederico Sperb. Essas duas regatas longas, de 125 milhas, prova máxima do iatismo gaúcho, foram vencidas em 1971 e 1972 pelo veleiro Mistral, do comandante Fernando Marsillac, de forma brilhante, sendo que na segunda regata dividiu com ele a vitória o comandante Ralph Renarth.
Estivemos também em dois Encontros da Vela de São Lourenço e participamos de diversas velejadas pelas lagoas Mirim e dos Patos. Enfim, passamos bons e memoráveis momentos na companhia do Martha.

A importação do Arpège

 

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