Conta todas, vovô
Jorge Vidal

Tahiti, um anão de oceano

Marlene e Romildo Santos, um casal de Rio Grande, apaixonados pelas coisas do mar e detentores de grande habilidade para a construção naval, alimentavam o sonho de construir um veleiro. Assessorados pelo marceneiro naval Estêvão Martins, iniciaram a construção de um veleiro de madeira, de aproximadamente 24 pés, que seria uma cópia do Ardila, desenho do argentino Pablo Sibert. Romildo dizia sempre que se tratava de um anão de oceano, porque seria um barco pequeno, porém robusto e capaz de enfrentar as águas oceânicas.

Após alguns meses, com o auxílio incansável da sua esposa, Marlene, e as peraltices dos seus filhos, Nilton e Beto, concluíram sua obra, o Tahiti. Realmente, o novo veleiro ficara lindo, o casco todo envernizado, proporcionando grandes navegadas, em que se destacavam as diversas idas e vindas a Pelotas e Porto Alegre. Foi no Tahiti que naveguei pela primeira vez num verdadeiro veleiro e, mais importante, foi ele que aguçou minha vontade de também ter um barco.


Tahiti, com Romildo, Marlene, meu filho Alfredinho e o autor, em São Lourenço, em 1971.

Mas, o desejo do comandante Romildo não ficou só nisso. Logo em seguida, também com a supervisão do Estevinho, ele construiu outro veleiro, dessa vez um de 36 pés, de madeira e com mastro de alumínio, coisa rara na época. As velas foram confeccionadas pela veleria do Sr. Bartolomeu, com tecido importado de Hong Kong. Bartolomeu era o fabricante das velas do pessoal do Rio Grande Yate Clube. Batizou seu novo barco de Vagabundo. Nele também velejei muitas vezes, vindo inclusive a Porto Alegre, junto com Romildo, meu filho Alfredo e seu sobrinho Ronaldo Soares. O Vagabundo era um veleiro de casco vermelho, convés branco e desenvolvia muito boa velocidade.

Lamentavelmente, depois de alguns anos, quando Romildo, junto com seu filho Nilton e o companheiro Luiz Lourenço, planejava velejar até Montevidéu, na saída da Barra do Rio Grande, numa manhã de mar ressacado – fruto de forte vento sul –, o Vagabundo foi surpreendido por uma rebentação muito forte em cima de um banco de areia criado pelo naufrágio do navio Rio Chico anos antes, provocando a capotagem total do barco e, conseqüentemente, a quebra do mastro. Depois de voltar à posição normal, os tripulantes conseguiram subir novamente a bordo. O barco estava totalmente avariado e, o mais trágico de tudo, devido ao enorme esforço e ao stress do momento, o velho e experiente comandante Romildo Santos não resistiu, falecendo ali mesmo. Imaginem a situação por que passaram o Nilton e o Luisinho! Terminava assim, tragicamente, a vida daquele que me proporcionou algumas das mais lindas lembranças dos meus primeiros momentos de velejador, deixando na minha memória a marca de um extraordinário comandante e, acima de tudo, de um querido e velho amigo de infância.

Felizmente, Nilton e Beto, filhos do saudoso comandante, continuaram a tradição veleira do pai, principalmente o Nilton, que continua navegando entre Rio Grande, Pelotas e a Lagoa Mirim.


Martha, meu primeiro veleiro

 

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