Desvendando as Pedras da Piava
SPH apresenta o temido obstáculo à navegação, em 3D
Capitão Am Eduardo Hofmeister Ferrugem

Conheço a Pedra da Piava desde guri. Quando passava por ali de Optimist via um pequeno tonel, que julgava ser uma poita dos pescadores, sempre presentes naquela área. Mais tarde fiquei sabendo que o tal tonel havia sido colocado pelo Geraldo Linck, do Plâncton (Autor dos livros Velejando o Brasil, Velejando as Antilhas e Na Esteira do Irma). Esta marca durou pouco tempo, pois foi roubada mais de uma vez.

Importância crescente
Até os anos 60 esta pedra não causava grande transtorno aos velejadores, pois a maioria dos barcos tinha pouco calado, até 1,20 metros, e tinham bolina tipo canivete. Ocorria no máximo uma batida na bolina, e o barco não ficava preso.

Com a chegada dos barcos importados de fibra e de maior calado, nos anos 70, esta pedra começou a ficar conhecida e falada. Os primeiros barcos importados tinham 1,5 ou 1,6 metros de calado, mas depois vieram o Plâncton e o Inca (Vermelho) já com cerca de 2 metros de calado depois Rajá V (do Gastão Altmayer), Don Alberto, Procelária e os barcos modernos da Barcosul, Orion III e Carina com 2,20. Nesta altura do jogo a pedra era super conhecida, pois estes barcos corriam regatas que passavam muito perto dela. Quase todos bateram nela. Daí a iniciativa do Geraldo Linck, pois ele próprio a acertou com o Plâncton.

Parando 12 toneladas a 9 nós
Nas regatas de aniversário dos Jangadeiros era certo que um barco iria ficar encalhado nela. A regata largava entre a última bóia do canal dos Jangadeiros e a comissão de regatas. A primeira marca a ser montada era o farolete da Piava. O rumo direto passava sobre a pedra.

Lembro de uma regata de aniversário dos Jangadeiros em que eu estava tripulando o Orion III. A largada foi em ¾ de popa com vento forte de sudeste. Largamos emparelhados com o Carina, que era maior, e por isto tomou a dianteira. Vínhamos colados na popa dele mantendo-o em nosso vento sujo. O Carina seguia no rumo direto do farolete. E da pedra.

Esperávamos que a qualquer momento o Carina começasse a alterar o rumo para desviar da pedra. Mas o tempo passava e nada de alterarem o rumo. Em dado momento nosso comandante, Victor Barth, grande conhecedor do Guaíba, começou a orçar e o Carina escapou de nosso vento sujo, ganhando alguns metros de diferença à frente. Em poucos segundos, as 12 toneladas do Carina, que devia estar a 9 nós, literalmente pararam sobre a Pedra da Piava. O barco ficou completamente adernado e atravessado com balão. Tivemos que desviar ainda mais para não bater nele. Passamos muito perto. Nossa tripulação, estava num misto de alívio e de triunfo, pois não havíamos batido na pedra e o maior oponente estava fora.
Na chegada ao clube alguns perguntavam se não deveriam ter dado um analgésico para as pedras.

Projeto Guaíba Livre
Depois da iniciativa do Geraldo Linck não observei mais nenhum movimento para a sinalização desta pedra. Quando o Danilo literalmente me convocou para dar uma mão no Guaíba Livre concluímos que as pedras deveriam ter um outro tratamento, pois não poderiam ser retiradas, mas devidamente sinalizadas. Para quem não sabe o Projeto Guaíba Livre, do Popa, tem o objetivo de tirar do Rio Guaíba os perigos à navegação desportiva. Com o grande apoio do pessoal da SPH a este projeto, e a conseqüente retirada de uma grande quantidade de obstruções, tais como canos de draga, estacas, troncos e galhos de árvore do Rio Guaíba, as esperanças de termos as pedras definitivamente sinalizadas iluminaram-se.

Sinalizando o caminho das pedras
As prioridades foram definidas, em primeiro lugar o Guaíba Livre, retirando obstruções do rio, por serem mais difíceis de serem marcadas, e algumas, mais perigosas que as pedras. Depois a sinalização daquelas obstruções impossíveis de serem retiradas.

A Pedra da Piava encabeçou a lista, pois está numa área de grande movimento de velejadores e motonautas. Depois vinham as Netinhas, Baleias da Ponta Grossa, Pedras a NW da Chico (muito conhecidas do Igaraçu), pedras da Ponta dos Cachimbos, Pedras do Arado, Pedras de Belém, Pedra na Ponta dos Difini, Pedra do Chagas, Baleias do Salgado, Pedra do Soldado. O projeto é sinalizar aos poucos todas estas pedras, de uma maneira oficial, fazendo constar estes sinais na carta náutica. Processo semelhante foi feito na região de Angra dos Reis nos anos 80, pois com o aumento da atividade náutica desportiva, muitas lajes, que estavam fora das rotas da navegação comercial precisaram ser marcadas.

A primeira tarefa seria a marcação precisa destas pedras, de maneira reconhecida pela Marinha.

A Bourscheid Engenharia fez o levantamento das Netinhas, que são perigosas pedras quase sempre submersas junto à ilha Chico Manoel. No Verão passado mais uma lancha abalroou estes obstáculos.

SPH
O bote da SPH (Superintendência de Portos e Hidrovias do RGS) foi equipado com equipamentos de última geração para batimetria: ecobatímetro gráfico super preciso e GPS com precisão de poucos centímetros. Este trabalho deve ser executado com um barco ágil e de pouco calado, que possa passar sobre as pedras submersas. Conversamos com o Eng° Hermes Vargas dos Santos que prometeu fazer o levantamento da Pedra da Piava. O Eng° Hermes fez o levantamento batimétrico tridimensional das, agora definitivamente desvendadas “Pedras” da Piava. O resultado é impressionante, parece que ele bateu um foto das pedras.


O Engº Hermes de Vargas Santos, no Veleiros do Sul

O Eng° Hermes forneceu gráfico tridimensional e forneceu coordenadas precisas das pedras. A melhor parte, para nós, foi ele ter afirmado que já está sendo providenciada uma Bóia Flamengo, Perigo Isolado, pra marcar as pedras definitivamente. Vamos ficar no pé do Eng° Orlando responsável pelas bóias.

A primeira já esta encaminhada, agora vamos para as Netinhas, não podemos esmorecer. A participação do Grupo Popa tem sido fundamental. Inclusive estamos prevendo que para algumas sinalizações teremos que, literalmente, colocar a mão na massa.


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