Solidariedade no mar
Um gesto formidável. Espírito marinheiro.
Danilo Chagas Ribeiro
Fotos: Carla Aaron

01 Out 2007
Há vários meses o Comandante Paulo Hennig e sua tripulação esperavam por condição meteorológica favorável para poder levar o Alcatéia (foto) para Paraty. Na noite de 15 de Setembro de 2007, o catamarã mostrou-se ávido por combustível ao longo da costa do Rio Grande do Sul. O Alcatéia, de um amigo do Comte, consumiu muito mais óleo do que seu irmão gêmeo Charlie Bravo, o Seacat43 do Comte Hennig.

Com pouco vento, o motor foi bem utilizado na costa gaúcha, tão mal afamada pela falta de abrigos. Saindo de Rio Grande em direção ao norte, o porto de Imbituba, 300 milhas adiante, é a única opção para atracar e, além disso, não dispõe de óleo para embarcações de recreio.

Motorando freqüentemente pela falta de vento, e de ôlho no nível de combustível, aumentava-se a preocupação de não poder chegar a Florianópolis a tempo de poder aproveitar a "janela" para seguir a Paraty. Subiam com o Alcatéia outros 3 barcos que saíram juntos com ele de Rio Grande, mas àquelas alturas vinham bem ao sul.

Nas proximidades do Cabo de Santa Marta, com calmaria total, já de madrugada, o Comte Paulo informou pelo rádio VHF sua apreensão com o baixo nível de diesel. A traineira Santa Catarina (Itajaí), de uns 60 pés (foto), comandada por Odair, subia a costa logo atrás do Alcatéia, e informou que poderia fornecer o óleo.

Passando carga com segurança
O prestativo comandante Odair vinha de Rio Grande também, onde fora fazer filmagens submarinas, inspecionando o casco do navio para a plataforma P-53 que recém chegara do Oriente.

A abordagem foi combinada pelo rádio. O Alcatéia ficou esperando pela traineira em mar espelhado.
Luzes ao sul. Cada vez mais fortes. É o Santa Catarina chegando. Um método muito prático e seguro para passar o combustível foi empregado. A traineira desligou os motores enquanto o Comte Paulo mantinha o Alcatéia a uma distância de uns 5 metros. A metade de um cabo foi jogada da traineira para o catamarã. No meio do cabo, a bordo da traineira, estava amarrada a bombona de óleo. A outra metade foi sendo largada à medida em que um tripulante do Alcatéia caçava o cabo, mantendo a bombona suspensa entre os barcos (foto). Do mesmo modo, as bombonas vazias do veleiro passaram para a traineira para serem abastecidas. Não houve risco das embarcações chocarem-se durante a operação.

Surpresa ao pedir a conta
Chegou a hora de pedir a conta. A hora de pagar pelo diesel entregue "a domicílio", no meio do mar, de madrugada. Hora de esperar calado por uma possível "surpresa". Dizer o quê em uma situação dessas?...
Pois não deu outra! A tripulação do Alcatéia teve uma grande surpresa.
O comandante da traineira não quis saber de cobrar pelos 80 litros de óleo.

E então o cabo foi novamente lançado entre as embarcações. Agora, em vez de bombonas, passava uma sacola de plástico, do Alcatéia para a traineira.
Houve confraternização pela solidariedade no mar. Às duas da madrugada. Entre desconhecidos. Sem precisar provar nada a ninguém. A luz do farol do Cabo de Santa Marta piscava ao largo, como testemunha silenciosa da solidariedade no mar.
Todos comemoraram.
Em março passado, o Comte Paulo Hennig rebocou voluntariamente um pequeno veleiro no Cruzeiro-Regata Porto Alegre-Rio Grande, e foi retribuído com uma garrafa de champagne. O pessoal na traineira certamente comemorou com uma garrafa, ainda lacrada, de Grant's.

Vídeo

Assista o vídeo do abastecimento do Alcatéia no mar, gravado por Carla Aaron

(Cena do vídeo: observe o cabo lançado do Santa Catarina ainda no ar)

Versão de 256kbps, com para internet rápida

Versão de 100kbps, para internet lenta

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Artigo relacionado: Sombras na noite

 

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1º Out 2007
Wilson Krause
Prezados Amigos:
Muito boa a matéria, gostaria de informar que a embarcação SANTA CATARINA não é uma traineira e sim um barco único no país de apoio a operações de mergulho até profundidades de 50m.
Equipado com: Câmara hiperbarica, Sistema de mergulho classificado DNV para 50m, Sinete e equipamento de filmagem subaquática com imagens em tempo real na superfície, que pertence a empresa DRAG SUB – Dragagens e Serviços Subaquáticos Ltda (MARESIA).
A embarcação estava retornando da faina de apoio à chegada no Porto de Rio Grande da Plataforma P-53 vinda de Cingapura para acabamento.
Atenciosamente,
Wilson Krause
Gerente de Negocios