Tentativa de assalto em Três Marias, MG
O relato de um velejador armado
Alessandro Salvi

Não posso deixar de colocar minha observação aqui, tendo em vista que já ouvi diversos relatos deste tipo*, onde nós velejadores estamos tranqüilos no nosso canto, fundeados, quando aparece algum barco do nada aproximando do nosso.

Ja passei por isso algumas vezes, mas esta em Três Marias - MG é especial. Estávamos fundeados com o veleiro de um amigo meu para o pernoite quando um barco de pesca (aqueles de alumínio com motor de popa) se aproximou. Era umas 20:00h e estávamos somente com a luz de tope e a da cabine acesa, quando ouvimos um motor. O barco com 3 pessoas a bordo se aproximava a uns 50 metros do nosso, pela popa, mantendo um rumo paralelo à margem. Estávamos fundeados a uns 50m da margem, por segurança.

Sem tempo para sair dali, peguei a minha espingarda calibre 12 que sempre me acompanha (além de uma pistola que porto sempre comigo) e fiquei pronto. Meu colega foi para o poço e mantendo uma razoável proteção gritou para os ocupantes do barco perguntando o que queriam. Obviamente nao ouviram devido ao barulho do motor, então meu colega pegou a lanterna (aquelas de sealed-beam de 600.000 velas, por aí...) e piscou na direção deles.

Neste momento eles já estavam a uns 15 metros quando desligaram o motor e vieram na inércia, então meu colega perguntou de novo o que desejavam. Um deles respondeu que não era nada, que apenas queriam "ver o barco de vcs" que iriam chegar mais perto.

Ele perguntou de novo se precisavam de alguma coisa, comida, água, ajuda ou algo assim. Estávamos começando a achar a situação muito estranha, pois quem navega, mesmo pescadores analfabetos sabem que nestas horas o melhor e manter uma distância segura da embarcação e falar a sua intenção, o que querem. Mas nada, apenas queriam "visitar" o nosso barco. Um Bruce Roberts 25pés.

Meu colega tentou de novo perguntando " O que vcs querem? Estão precisando de alguma ajuda?" Eles responderam " Não precisamos de nada não, já falamos, só queremos ver o barco de vcs!" isso num tom mais ríspido e o cara da frente já se inclinando pra segurar no nosso barco com a intenção clara de abordagem.

Com a lanterna na mão meu colega iluminava o barco e as pessoas a bordo, sendo clara a intenção de assalto (no mínimo) dos elementos, tendo em vista que o barco deles nao tinha nada a bordo além do motor com o tanque e os três de bermudas, camisetas e sem coletes. Tava na cara que nos viram, acharam que a presa era fácil e tentariam o assalto.

Quando, visto que não tinham a mínima intenção de pararem e sem nem perguntarem ao menos se podiam subir a bordo, saí pra fora e mantendo uma proteção razoável (pois não sabia se estavam armados) apontei a espingada pra eles e disse "Podem ir parando por aí!" Ou vcs me dizem agora o que desejam ou vou afundar o barco de vcs e terão que nadar muito embaixo de chumbo quente !".

E terminando a frase disparei um tiro na água perto do barco deles.

A reação foi imediata. O carinha do motor ligou o mesmo na hora e deu uma meia volta que quase virou o barco deles. Do mesmo jeito que apareceram, fugiram.

Ficamos eu e meu colega olhando um pra cara do outro, meio sem acreditar no que tinha acontecido.

De imediato levantamos âncora e voltamos pro clube. Relatamos o fato pras autoridades e os mesmos avisaram que na noite anterior uma gangue (provavelmente os 3) tinham roubado uma família de pescadores da região e estavam realizando diversos assaltos sem que as autoridades os encontrassem.

Bem, na dúvida continuo dizendo, mais vale uma 12 na mão que uma boa intenção.

Sei que muitos falarão "As armas nao prestam e tal..." Mas eu afirmo e digo a todos que me perguntam, sem ela talvez nao estivesse aqui agora. Lógico que como oficial do EB e instrutor de tiro tenho o domínio e o conhecimento adequado para tais situações, mas nada que um bom treino nao possa capacitar quem deseja.

Aposto que muitos dos que ja passaram por situações semelhantes gostariam muito de ter uma alternativa desta.

O que quero aqui nao é criar polêmica, apenas dizer que existe uma maneira de dormirmos fundeados mais tranqüilos.

Façam como quiserem, a escolha é individual. Se por ventura alguém achar que pode valer a pena, o único aviso que dou é, treinem muito, pratiquem muito, pois uma arma na mão de quem não entende pode virar contra vc mesmo.

E muitas vezes uma atitude enérgica já resolve muitas situações sem uma arma. Só de verem que foram vistos a maioria das pessoas com má intenção tende a evadir do local. Portanto, gritem, usem lanternas, chamem atenção, simulem que estão pedindo socorro pelo rádio ou pelo celular, mostrem que foram vistos. Muitas vezes isso já afugenta o mal elemento.

Mas, às vezes, como os velejadores estão sempre em local ermo e afastado, o bandido sabe que a ajuda está muito longe e que demorará a chegar. Portanto, uma boa arma em BOAS mãos fará, sim, a diferença.

BV,
Alessandro Salvi.

(*) Mensagem recebida pelo popa.com.br em 21/06/2005, a propósito do artigo Desventura num belo lugar
[popa] Verifique a legislação a respeito

 

 

Envie seus comentários ao popa.com.br:

Seu e-mail:



CLICK APENAS UMA VEZ