Ilikai - teria havido alternativa para o salvamento?
Não seriam os primeiros a atracar nas bóias de Tramandaí

Danilo Chagas Ribeiro


03 Junho 2008
O
Comandante Miguel Del Rio e seu tripulante Pablo Gato responderam separadamente a uma bateria de perguntas nos procedimentos do inquérito aberto pela Capitania dos Portos de Rio Grande na manhã de ontem, para apurar as causas do acidente a bordo do veleiro Ilikai no dia 30 de abril passado. À tarde, voltaram à Capitania para entregar o relatório que redigiram sobre o acidente.

Abandonado, mas com seguimento
Segundo o Comte Guto Vieira da Fonseca, o navio Kickapoo Belle manteve-se a 4 nós durante o contrabordo com o Ilikai, a 64 milhas da costa. O motor do veleiro foi mantido em funcionamento para acompanhar o navio. Quando por fim chegou a vez do tripulante Pablo fazer o transbordo, fixou o leme e imediatamente pulou o guarda-mancebo e agarrou-se à escada quebra-peito do navio filipino para subir. O veleiro estava ainda fixado por cabos pela popa.

O tanque do veleiro argentino tinha uns 70 litros de diesel quando foi abandonado. Na rotação em que o motor ficou funcionando, o consumo era de uns 3 litros/hora, representando 1 dia de trabalho. O rumo do Ilikai era de uns 200º.

Em casa, ao lado da lareira acesa, é fácil dar palpite
Depois que os problemas acontecem, sempre surge um "Por que que os caras não fizeram isso ou aquilo?". Na calma de quem está em casa, descansado e analisando friamente o ocorrido, tudo fica mais fácil, muito embora algumas idéias que parecem ser evidentes possam nem fazer sentido diante dos agravantes da situação. Nesse espírito, sem exercer qualquer crítica, lembrei de alguns fatos ocorridos em Tramandaí, e tive idéias.

Remoção de feridos pela Barra do Tramandaí
Em 12 de junho de 2006 o Popa.com.br noticiou o transbordo de um passageiro americano do transatlântico SeaDream1, que fazia Buenos Aires - Rio. O turista teve sintomas de infarto na véspera e desembarcou com esposa e médica para encarar a Barra do Rio Tramandaí nas embarcações especiais da Transpetro (foto ao lado). Se não estava infartado, aí mesmo que infartou: veja como é entrar na Barra do Tramandaí. A operação foi acompanhada pela agência da Capitania dos Portos local.

Quando o Ilikai foi resgatado, estava a 59 milhas a sudeste de Tramandaí, cidade de veraneio na costa gaúcha. Imagino que o tempo que o veleiro levaria para percorrer esta distância (tinha vento favorável) seria parecido com a espera para embarcar no Kickapoo Belle (mayday às 6:00h e abandono do barco ao meio dia). Veja a montagem sobre imagem do Google Earth mais abaixo. E, fazendo uso da mesma solução oferecida ao SeaDream1, em vez de percorrer as quase 200mn de navio até Rio Grande, a tripulação do Ilikai estaria a 120km de Porto Alegre (uma hora e pouco por auto-estrada).

Bóia da salvação?
Mesmo desconhecendo a operação de atracação nas bóias do terminal da Transpetro em Tramandaí, fiquei pensando nesta hipótese. As bóias destinam-se à conexão de dutos para os petroleiros descarregarem óleo cru para o terminal da subsidiária de transporte da Petrobrás.

Com sorte, o Ilikai poderia obter a permissão para manter-se atracado na bóia, como em uma arribada forçada. Não acredito que os funcionários da Transpetro negassem apoio para o transbordo do comandante, nem atracação temporária do veleiro. Segundo o Comte Emílio Oppitz, não seria o primeiro caso de um barco a vela atracar nas bóias. Há alguns anos o veleiro avariado de um comandante gaúcho atracou em uma delas.

Outra alternativa talvez, poderia ser o transbordo dos tripulantes do Ilikai, do Kickapoo Belle para uma lancha da Transpetro. Em teoria pelo menos, creio que as alternativas poderiam ser viáveis, se não para evitar o abandono do veleiro, para diminuir o tempo de atendimento ao ferido. Mas diante das circunstâncias, e com o provável desconhecimento da existência das bóias e da infra-estrutura da Petrobrás pelos argentinos, mais a impossibilidade de falar pelo VHF com o terminal a 60 milhas de distância, com aquele tempo, àquela hora, com dor, quem sabe até o receio de pulmão perfurado, saíram-se muito bem.

A presente abordagem é aqui apresentada com base nos antecedentes de emergências médicas e nas panes das embarcações citadas, e não representa, de maneira alguma, sugestão do uso das instalações da Transpetro sem consulta prévia.

Colaboração: Guto Vieira da Fonseca, Augusto Chagas e Emilio Oppitz

 

 

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